Sabedoria e ponderação para que a verdade prevaleça

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  27/05/2023 15:30                                                                ARTIGO ESPECIAL DA REDAÇÃO DA BSGI

                                                                                                                   

Reflexões sobre cidadania (parte 9)

 

COMISSÃO DE ESTUDOS SOBRE CONSCIÊNCIA POLÍTICA DA BSGI

 

Reprodução/Foto-RN176 Desenho ilustrativo da matéria – Ilustração: GETTY IMAGES

O período em que vivemos é bem notável pela quantidade de informações sobre avanços tecnoló­gicos que ocorrem diariamente. Até poucas décadas atrás, era difícil imaginar que passaríamos a maior parte do nosso dia antenados aos grandes canais de comunicação e conectados com as mais ágeis e interativas redes sociais.

Quem nunca passou horas consu­mindo diversas notícias, uma após a outra, em vários jornais on-line? Ou nas diversas redes sociais como TikTok, Instagram, Facebook, Twitter e Telegram?

Todos eles são mecanismos que podemos utilizar para nos manter atualizados com o que ocorre no Brasil e no mundo. Por outro lado, às vezes, nós nos deparamos com informações que não são necessariamente verdadeiras — e é aí que nasce um problema capaz de dificultar consideravelmente a nossa comunicação.

Muito se falou, e ainda se fala, sobre as chamadas fake news e a urgência em combatê-las. Mas, antes de tudo, o que são as fake news? Em tradução literal, seriam “notícias falsas”, o que por vezes pode ser simplificado apenas como “mentira”, apesar de haver diferenças claras entre um termo e o outro. Diferentemente de uma mentira comum, as notícias falsas são criadas com o intuito de gerar instabilidades na sociedade.

Comumente, a criação das fake news se dá de dois modos: distorcendo completamente um fato que possa ter algum fundo verdadeiro ou ao criar uma nova informação inteiramente falsa.

Sobre a primeira situação, como exemplo, tivemos casos de pessoas que sofreram efeitos cola­terais ao tomarem as vacinas contra a Covid-19 sem autorização médica prévia. Contudo, tal orientação se destinava a um grupo específico de pessoas que já possuíam condições muito próprias de saúde e acompanhamento médico especializado. Por conta disso, indivíduos que não tinham essas restrições passaram a ter medo de tomar as vacinas por causa de reações adversas.

Quanto ao segundo caso, em dado momento, surgiu certa desconfiança de que as vacinas que vinham da China continham um chip que seria implantado em todos os que a tomassem. Observam-se, então, as duas construções, de meia-verdade, compreendida erroneamente, e de afirmação comprovadamente descabida.

Logo, dada a intencionalidade em causar distúrbios na ordem social, poderíamos tentar interpretar o termo como “notícias falsas criadas para desestabilizar”, seja o indivíduo, seja a sociedade.

Na história mais recente da Soka Gakkai e da BSGI, tanto o terceiro presidente da Soka Gakkai, Daisaku Ikeda, como a própria organização já sofreram com notícias falsas para desestabilizá-los. Uma ocasião marcante foi quando, em 1966, a respeito da visita que sensei faria ao Brasil, alguns jornais do país começaram a veicular informações que não correspondiam à verdade sobre ele.

Por desconhecimento e incompreensão dos objetivos de Ikeda sensei e da Soka Gakkai, os jornais acreditavam que ele viria com o propósito de fundar um partido político, o que culminou em uma visita realizada sob vigilância policial, causando apreensão nos membros brasileiros.

Entretanto, como um dos pilares da organização e do Budismo de Nichiren Daishonin é o diálogo sincero e franco, o presidente Ikeda não se intimidou e dialogou com os jornalistas para esclarecer seu real sentimento de levar a filosofia budista de paz para o povo brasileiro e para o mundo. Ao mesmo tempo, os membros brasileiros empreenderam uma grande luta de ex­pansão da BSGI, visando demonstrar a grandiosidade da filosofia que preza a felicidade de cada pessoa.

Como consequência, quando Ikeda sensei retornou ao Brasil, em 1984, houve uma drástica mudança na forma como as autoridades brasileiras e os grandes canais de comunicação observavam o líder budista e as ações da Soka Gakkai para a transformação da sociedade. Tal mudança só foi possível pela disposição de conhecer o que não se compreendia.

Na Proposta de Paz de 2021, o presidente Ikeda fez questão de frisar:
À medida que as diretrizes de mitigação continuam a evoluir e a pandemia tem um impacto cada vez mais intenso em nossa vida, as pessoas buscam outros meios além dos jornais e demais mídias tradicionais para aliviar sua sede de informação. Isso expôs muitas pessoas a informações não confiáveis de fontes desconhecidas ou não confirmadas. O espaço virtual de informações abriga, por vezes, discursos maliciosos que se alimentam do sentimento de apreensão das pessoas com a finalidade de incitar uma ruptura social ou direcionar o ódio a determinados grupos ou indivíduos.2

Por isso, em anos recentes, tem-se alertado sobre a importância de utilizarmos as redes sociais de forma crítica, para que possamos sempre refletir com seriedade a respeito dos conteúdos e das notícias que chegam até nós.

Em contrapartida, vem crescendo também a quantidade de sites especializados em checagem de notícias, alguns deles com quase uma década de existência, para que as dúvidas sobre a autenticidade de alguma informação sejam esclarecidas rapidamente.3 O importante é termos em mente que, em caso de dúvidas sobre uma notícia, o melhor que podemos fazer é não compartilhá-la.

Ainda sobre a autenticidade de alguma informação, na ocasião do seu primeiro encontro com Toda sensei, o jovem Daisaku Ikeda relembrou uma frase contida em um tratado chinês que diz: “Faz bem pensar mais uma vez, embora concorde; é bom pensar mais uma vez, embora discorde”.4 Nela consta a disposição em estar aberto a compreender profundamente e com seriedade as situações que permeiam nossa vida diária.

Por fim, no livro Diálogo sobre a Religião Humanísticasensei acrescenta: “Uma pessoa que possui a atitude séria e sincera de buscar a verdade é humilde, cheia de compaixão e consideração pelas demais”.5

Desse modo, façamos com que nossa busca por informações seja também um reflexo da nossa melhor postura como discípulos.

Notas:

  1. Comissão de Estudos sobre Consciência Política da BSGI: Grupo criado para a pesquisa e a produção de materiais que versam sobre cidadania e política à luz dos princípios budistas, dos escritos de Nichiren Daishonin e das publicações oficiais da Editora Brasil Seikyo.
  2. Criação de Valor em Tempos de Crise. Propos­ta de Paz de 2021. InTerceira Civilização, ed. 633, maio 2021, p. 24.
  3. Entre eles, podemos encontrar os sites: Lupa, Aos Fatos, E-Farsas, e Boatos.org.
  4. Brasil Seikyo, ed. 1.904, 18 ago. 2007, p. B3.
  5. IKEDA, Daisaku. Diálogo sobre a Religião Humanística. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 1, p. 183, 2018.

Ilustração: GETTY IMAGES