ROTANEWS176 E POR NÓS 08/04/2022 10h02
Bruna Benevides aguarda desde 2015 a sentença do processo que moveu para reverter o pedido de afastamento das Forças Armadas
Reprodução/Foto-RN176 Segundo Bruna, laudo de afastamento por ser “portadora de transexualismo” é uma violação de seus direitos Foto: Valda Nogueira
Há sete anos a vida profissional de Bruna Benevides está em suspenso. Ela ingressou na Marinha do Brasil aos 17 anos de idade e alcançou o posto de sargenta, mas em 2012, ao se assumir uma mulher trans perante a corporação, foi afastada e indicada para aposentadoria compulsória. Em 2015, Bruna entrou com um processo contra a Marinha para não ser reformada. Atualmente, o processo aguarda julgamento pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça). “A Marinha segue recorrendo e, enquanto ela recorrer e não chegar na instância definitiva, vou seguir nesse embate, que já dura um bom tempo. Só não fui aposentada porque logo no começo consegui uma liminar que impediu que eu fosse excluída das Forças Armadas”, relata.
Nascida em Fortaleza (CE) no final da década de 1970, Bruna sabia que precisava sair de sua cidade natal para ser quem é. Iniciou sua carreira na Marinha em Olinda (PE) e depois se mudou para Niterói (RJ), de onde nunca mais saiu. O ingresso nas Forças Armadas foi também uma maneira de se libertar de um ambiente familiar conturbado e opressivo. Em 2008, Bruna conheceu a história da comandante Bianca Figueira, a primeira a assumir a transgeneridade na Marinha. “Aquele momento me despertou um divisor de águas. Eu estava prestes a fazer a prova para ser sargenta, esperava há cinco anos por essa promoção e sabia dos riscos que ia correr ao me reivindicar enquanto trans dentro daquele espaço”, explica.
Com a transição social, Bruna conheceu o ativismo. Isso aconteceu ainda dentro da Marinha, quando, de 2012 para 2013, recebeu autorizações internas para deixar o cabelo crescer e mudar de alojamento, por exemplo, mas passou a lutar por sua permanência dentro das Forças Armadas. Um dos maiores problemas durante esse processo foi lidar com violações de seus direitos. “Fui descrita como ‘portadora de transexualismo’ em um laudo usado para me manter afastada das minhas funções”, lamenta.
Para a ativista, não se avança em nenhuma luta individualmente. “Toda mudança política precisa ser coletiva”, atesta. Enquanto aguarda a sentença de seu processo, Bruna segue firme na luta de combate ao preconceito em relação à comunidade LGBTQIAPN+. Ela é responsável, entre outras ações e articulações, pela elaboração do tradicional Dossiê de Assassinatos e Violência contra Travestis e Transexuais, levantado pela Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), uma das mais importantes associações de pessoas trans no Brasil.