A prefeitura de São Leopoldo, cidade do Rio Grande Sul, criou uma exposição para o Dia Internacional das Mulher, nessa semana.
ROTANEWS176 E BBC BRASIL.COM 10/03/2018 18:47
“Se te agarro com outro / te mato! / te mando algumas flores / E depois escapo”, cantava Sidney Magal, nos anos 1980. Neste ano, MC Diguinho lançou uma música com o seguinte trecho: “Só surubinha de leve com essas filhas da puta / Taca bebida, depois taca a pica e abandona na rua”.
Reprodução/Foto-RN176 Letra da música “Se te agarro com outro, te mato”, de Sidney Magal, ilustrou campanha da prefeitura de São Leopoldo | Foto: Thales Ferreira Foto: BBCBrasil.com
Músicas como essas viraram alvo de uma campanha e de uma exposição da Prefeitura de São Leopoldo, cidade de 230 mil habitantes no Rio Grande do Sul. A ideia era mostrar como a música brasileira já tratou (e continua tratando) as mulheres de forma pejorativa e, muitas vezes, com incitações à violência.
A canção de MC Diguinho, por exemplo, foi alvo de acusações de apopologia ao estupro – depois, o músico lançou uma versão mais “light”.
Reprodução/Foto-RN176 Campanha da prefeitura de São Leopoldo buscou músicas de vários gêneros, como samba e funk | Foto: Thales Ferreira Foto: BBCBrasil.com
Em meados do mês passado, a cidade gaúcha começou a publicar imagens de mulheres segurando cartazes com trechos de músicas de teor machista. A iniciativa foi pensada por causa do Dia Internacional da Mulher, no dia 8 deste mês. Nessa semana, uma galeria com as fotografias viralizou nas redes sociais – foram mais de 50 mil compartilhamentos.
Reprodução/Foto-RN176 ‘Concluímos que não acontece apenas no funk. Está em toda a música brasileira: samba, rock, axé, música romântica, sertaneja. Até Noel Rosa’, diz secretária | Foto: Thales Ferreira Foto: BBCBrasil.com
Uma em cada três mulheres sofreu algum tipo de violência em 2016, seja agressão física ou verbal. Os dados são de uma pesquisa do Datafolha e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgada no ano passado. Cerca de 503 mulheres brasileiras são vítimas de agressão a cada hora, de acordo com o levantamento.
Segundo Danusa Alhandra, secretária de Políticas para as Mulheres do município, a ideia da mostra surgiu depois da polêmica envolvendo “Surubinha de leve”, de MC Diguinho. “Nos questionamos se esse tipo de letra existia apenas no funk”, conta.| Foto: Thales Ferreira
Reprodução/Foto-RN176 Imagens foram compartilhadas mais de 50 mil vezes nas redes sociais | Foto: Thales Ferreira Foto: BBCBrasil.com
Servidoras da pasta acabaram encontrando uma série de músicas com teor machista, sexista e de apologia à violência contra as mulheres. “Concluímos que não acontece apenas no funk. Está em toda a música brasileira: samba, rock, axé, música romântica, sertaneja. Até Noel Rosa”, aponta a secretária.
No início do século 20, Noel Rosa compôs o samba “Mulher indigesta”, que “merece um tijolo na testa” – essa letra também está na campanha de São Leopoldo.
Reprodução/Foto-RN176 Secretária de Políticas para as Mulheres diz que intenção não era acusar artistas, mas fomentar a discussão | Foto: Thales Ferreira Foto: BBCBrasil.com
Para Alhandra, dizer que apenas o funk é machista também é uma forma de aumentar o preconceito. “Se você diz que é só o funk, que é cantado nas favelas e na periferia, você está afirmando que apenas um segmento da sociedade é machista e violenta”, explica ela. “E não é. Como está em todos os estilos musicais, a violência e a cultura de ver a mulher de forma submissa está em toda a sociedade, na classe média, na alta, na baixa.”
Reprodução/Foto-RN176 “A música é uma manifestação artística que pode reproduzir um pensamento da sociedade”, diz secretária que criou campanha | Foto: Thales Ferreira Foto: BBCBrasil.com
Por isso, as fotos da campanha de São Leopoldo mostram de Noel Rosa à banda de rock Camisa de Vênus, passando por MC Livinho e Bezerra da Silva.
Reprodução/Foto-RN176 Campanha foi criada depois de polêmica envolvendo música de MC Diguinho | Foto: Thales Ferreira Foto: BBCBrasil.com
Alhandra diz que a campanha não pretende acusar ou criminalizar nenhum artista. “Foi uma ideia simples que a gente teve, para refletir sobre as músicas e sobre os discursos que a gente repete, não como acusação. A música é uma manifestação artística, que pode reproduzir um pensamento da sociedade”.
Segundo ela, após o sucesso das primeiras imagens, servidoras da prefeitura e moradoras de São Leopoldo se ofereceram para posar para novas fotografias. A exposição fica em cartaz até o fim do mês, na sede da prefeitura de São Leopoldo e, depois, deve seguir para escolas municipais da cidade.
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