“Sem ação, nada avança”

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 30/01/2021  17:01                                                       

CADERNO NOVA REVOLUÇÃO HUMANA

Capítulo “Origem”, volume 29

PARTE 57

O guia das ruínas de Nalanda explicou:

— Durante o primeiro ano, os alunos sacerdotes que ingressavam no monastério recebiam uma sala individual com mesa e objetos de cama. Mas, à medida que avançavam, a utilização passava a ser compartilhada até que, na época da formatura, eles partiam como um ser humano capaz de viver com o conhecimento da plena verdade.

Em outras palavras, com o treinamento espiritual, eles estabeleciam um caráter de busca única pela Lei, sem serem dominados por bens materiais. Por mais que se adquira conhecimentos, sem polir a personalidade, não se pode dizer que recebeu uma verdadeira educação.

Josei Toda utilizou a expressão “Universidade sem prédios” para se referir à Soka Gakkai. Pode-se dizer que a Soka Gakkai, que analisa o caminho do ser humano estudando os princípios do budismo, é uma universidade do povo que cria a felicidade e a paz. Shin’ichi estava convicto de que, com o passar do tempo, essa “universidade sem prédios” irradiaria um brilho cada vez maior como jardim da educação humanística.

No retorno a Patna, após a visita ao sítio arqueológico do budismo em Nalanda, a comitiva parou em um local de descanso. O relógio marcava 17h30.

O proprietário do local de descanso, de bigode, com cerca de 40 anos, perguntou-lhes de onde tinham vindo. Quando Shin’ichi lhe disse que tinham vindo do Japão, o homem abriu os braços demonstrando que levou um grande susto, e disse:

— Então, por favor, passem na minha casa que fica bem em frente.

— Agradecemos muito pela profunda consideração. Mas, como o horário do jantar também se aproxima, vamos acabar causando um incômodo aos seus familiares.

— De forma nenhuma. A família também vai recepcioná-los com enorme alegria. Na Índia, diz-se que o visitante, o professor e a mãe são deuses. Portanto, recepcionar um visitante equivale a reverenciar Deus.

Era uma conversa que já tinham escutado também quando visitaram o ministro das Relações Exteriores, Vajpayee. De fato, sem esse tipo de pensamento, dificilmente convidariam uma pessoa para ir à sua casa logo no primeiro contato. Possivelmente, nem sequer se envolveriam.

Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustração Editora Brasil Seikyo – BSGI

Shin’ichi sentiu que a religião estava profundamente enraizada no espírito e na vida diária das pessoas. O fato de possuir uma religião equivale a ter uma filosofia de vida.

PARTE 58

Aceitando o convite resolveram visitar a residência dele.

A casa era uma construção de pedra, e o proprietário os conduziu ao jardim e lhes explicou detalhadamente sobre o uso do poço. No quintal da casa, iniciou-se o diálogo. A primeira pessoa a ser apresentada à comitiva foi a mãe do proprietário. Nos lares da Índia, notava-se forte respeito às pessoas de idade.

Com a presença de toda a família, eles lhes serviram chá preto e biscoito. E ainda, disseram que estavam preparando um prato com frutos silvestres para a comitiva. Apesar de achar que fosse deselegante, Shin’ichi pediu-lhes para ver como se preparava. Ele queria conhecer como as pessoas viviam. Prontamente, eles o conduziram até a cozinha com todo o prazer.

Duas filhas estavam agachadas em um canto do chão de terra onde ferviam água e leite e cozinhavam frutos silvestres em uma espécie de fogão de barro. Não havia água encanada nem gás, muito menos uma boa tábua de cozinha, mas se percebia um ambiente de chão de terra limpo e higiênico.

Os biscoitos oferecidos eram todos caseiros. As roupas das crianças e as capas das almofadas eram, na maioria, feitas à mão. Não havia nenhuma fartura, mas sentia-se amor e calor humano em cada objeto. Ali, havia justamente o que no Japão e em outros países desenvolvidos parecia se perder.

Tomando chá preto, a conversa se desenvolveu. Shin’ichi perguntou:

— A família é de quantas pessoas?

O chefe da família respondeu:

— São sete, ou melhor, oito.

Sorridente, ele trouxe um grande cão:

— Esse cão também faz parte da família.

Em sua expressão, via-se plenamente seu sentimento em considerá-lo um familiar. Mais que um simples animal de estimação, era um elemento que compartilhava a vida familiar, encarregando-se de determinadas tarefas do lar.

Foi uma visita de cerca de trinta minutos, mas houve uma perfeita integração entre a família e a comitiva de Shin’ichi. Na saída, quando Shin’ichi lhes ofereceu uma lembrança, o proprietário apertou as suas mãos por diversas vezes, dizendo-lhe: “Por favor, venha novamente, sem falta”. A partir do diálogo, valorizando um encontro, os corações se tocam e criam-se os laços humanos superando as barreiras de nacionalidade e etnia.

PARTE 59

A estada na Índia chegava ao oitavo dia. Na manhã do dia 13, quando se preparavam para se deslocar de Patna para Calcutá, G. S. Grewal, diretor do tribunal de justiça de Patna, estado de Bihar, veio visitar Shin’ichi Yamamoto no hotel. Usando turbante, a barba lhe dava um aspecto de muita elegância.

— Vim realizar uma visita de cortesia. Na verdade, gostaria de acompanhá-los a diversos locais, mas sinto muito por não ter conseguido fazer isso devido a inúmeros compromissos oficiais.

Shin’ichi sentiu-se muito grato pela sinceridade do diretor em manifestar toda a sua alegria em receber a visita da comitiva a Patna, até se desculpando polidamente pela sua ausência.

Shin’ichi transmitiu-lhe que nessa viagem à Índia conseguiu realizar significativos intercâmbios da amizade e da paz, e disse:

— Quero apresentar ao Japão o aspecto maravilhoso e as recordações douradas de Patna.

Após o encontro, Shin’ichi visitou o Museu de Patna. E em um voo pouco antes das 15 horas, dirigiu-se a Calcutá, o último destino na Índia.

Na manhã do dia seguinte, 14 de fevereiro, realizou visita de cortesia à residência oficial do governador Tribhuvan Narain Singh do estado de Bengala Ocidental, cuja capital e maior cidade é Calcutá.

O governador parecia aguardar esse encontro ansiosamente e iniciou seus cumprimentos dizendo:

— Quero ouvir sem falta do presidente o pensamento concreto sobre como realizar a paz e a amizade no mundo.

Ele queria perguntar sobre o que realmente tinha sido feito e o que seria realizado pela paz, e não apenas palavras e conversas abstratas. Shin’ichi citou, entre outros, os itens abolição das armas nucleares, promoção do desarmamento, intercâmbios culturais, intercâmbios educacionais e intercâmbios entre povos, como ações concretas. Para cada item, ele explicou o que foi feito até hoje, e também sobre o seu significado e alcance.

— Em outras palavras, iniciamos os trabalhos a partir de pontos próximos a cada um de nós que pudessem, de fato, ser postos em prática. Mesmo uma pequena gota acaba se tornando uma grande correnteza e até o grande oceano. A jornada de mil milhas inicia-se com o primeiro passo. O importante é dar um passo. Sem ação, nada avança.

O futuro esperançoso não chega se ficar somente esperando. Com coragem, deve-se iniciar a caminhada por si só.

PARTE 60

Shin’ichi continuou:

— O movimento de paz desenvolvido por nós baseia-se na construção da fortaleza da paz no interior do coração humano. Talvez a velocidade dessa caminhada pareça ser a de uma lesma. Mas viemos persistindo nesse movimento pacientemente. As ondas batem numa rocha, mas esta permanece absolutamente imóvel. Porém, depois de dezenas ou centenas de anos, o formato da rocha acaba mudando. Essa é a revolução da não violência conduzida pelo povo. Esse é o movimento pela paz promovido pela Soka Gakkai.

O governador Singh nasceu em Benares (Varanasi), local relacionado com Shakyamuni, e tem profundo conhecimento sobre o budismo. Depois de trabalhar como editor de um jornal, tornou-se deputado da Câmara Baixa, e posteriormente assumiu posições tais como de ministro da Indústria, de ministro de Minas e Metalurgia, entre outros. E, a partir de 1977, veio exercendo o mandato como governador do estado de Bengala Ocidental. Tinha 74 anos, mas sua voz era cheia de vitalidade.

Bengala Ocidental, que inclui Calcutá, uma das cidades mais populosas da Índia, é um grande estado com cerca de 46 milhões (na época) de habitantes. A população pobre não era pequena. Havia uma montanha de problemas, tais como de emprego, de alimentação e de criminalidade em virtude da miséria. O governador Singh vinha desafiando e lutando pela preservação da vida do povo de Bengala em meio a essa realidade de mares tempestuosos. Por isso mesmo, ele era cético em relação às ideologias meramente teóricas com belas palavras sobre a paz. E parecia se interessar muito pela Soka Gakkai, que promove o movimento pela paz com base no budismo, formando uma organização estruturada por pessoas vivendo o dia a dia em meio ao grande solo da realidade social.

A residência do governador era o local que, na época do domínio britânico em que Calcutá era a capital da Índia, o governador-geral utilizava como sua residência oficial. Na parede do salão havia um quadro com a foto de Gandhi sem nenhuma vestimenta na parte de cima do corpo. O governador tinha um grande orgulho por ter lutado ao lado de Gandhi.

Quando o diálogo se voltou para os princípios que norteavam a base do movimento pela paz, o governador enfatizou fortemente suas convicções:

— O que acredito é o ponto de que a humanidade é uma só. Essa é a essência dos ensinamentos expostos por Shakyamuni, aqui na Índia.

O princípio do budismo que elucida a existência da vida do Buda em todas as pessoas é o alicerce da unificação da humanidade.

O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.