Ser a luz da esperança

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 10/10/2020 11: 14

RELATO

A coragem e a benevolência de Bruno refletem em sua postura no trabalho, inspirando as pessoas

Reprodução/Foto-RN176 Bruno Brito,  Responsavel pela DMJ da RE Paraíba, CRE Leste, CGRE

Pratico o Budismo de Nichiren Daishonin na Soka Gakkai há 31 anos e nessa trajetória obtive grandes conquistas e superei dificuldades. No entanto, o momento atual é um dos mais desafiadores que já vivi. Eu que sempre quis levar os ideais humanísticos Soka para a sociedade por meio do trabalho, desde 2010 atuo como fisioterapeuta em unidades hospitalares, e neste ano passei a trabalhar no combate ao coronavírus. Sou gerente multidisciplinar e de qualidade num hospital em Santa Rita, região metropolitana de João Pessoa, PB, e fisioterapeuta numa Unidade de Terapia Intensiva destinada aos pacientes com Covid-19 no Hospital Universitário Lauro Wanderley, na capital paraibana.

Prezar as pessoas

Minha família ingressou na BSGI, quando eu tinha 4 anos. Cresci em meio à filosofia budista, e os incentivos que recebi do presidente Ikeda na organização me motivaram a realizar ações de impacto positivo na vida das pessoas. Assim, escolhi cursar fisioterapia e auxiliá-las a romper seus limites, algo que vivenciamos em nossa trajetória como membros da Gakkai.

Essa convicção reflete até hoje em meus esforços para promover a humanização na assistência aos pacientes, respeitando o ser humano que existe além das patologias. Sinto que essa postura fez toda a diferença no ambiente profissional e, dessa forma, fui convidado a integrar, como fisioterapeuta, um time de funcionários de um hospital recém-fundado na Paraíba, referência em neurologia e cardiologia, e responsável pela assistência dos 223 municípios do estado.

Abracei essa chance confiante e me dediquei incessantemente para transformar a realidade dos pacientes. Logo, tornei-me responsável técnico, depois coordenador e em janeiro cheguei a gerente multidisciplinar (fisioterapia, odontologia, terapia ocupacional, farmácia, nutrição, psicologia, serviço social e fonoaudiologia) e de qualidade (indicadores de padronização e planejamento estratégico da gestão). Foi desafiador assumir essas duas grandes áreas e isso se intensificou com a Covid-19.

No hospital, foi montado um plano de ação para atuar na retaguarda, e demos início à estratégia num momento em que a situação era relativamente tranquila. No entanto, com o rápido aumento dos casos da doença, na semana seguinte fomos surpreendidos com a construção de um hospital de campanha no estacionamento da unidade. E, à frente da parte assistencial, estávamos mais duas pessoas e eu; então, de uma hora para outra, assumimos grandes responsabilidades para encontrar soluções para tantos desafios.

A sabedoria para vencer está na prática budista, que possui a unicidade de mestre e discípulo como eixo. Refleti que meu caminho era assumir essa convicção no dia a dia, pois são os indivíduos comuns, unidos por um único ideal, que podem minimizar os sofrimentos causados por essa doença.

Evidenciar a força

Durante quatro meses, morei longe da esposa, dos filhos e dos familiares para prevenir o contágio do coronavírus. Trabalhava até quinze horas por dia, chegando a casa exausto. Muitas vezes, o cansaço era tanto que dormi em frente ao oratório enquanto fazia minhas orações.

Nos momentos mais difíceis, lembrava-me das condições em que o presidente Ikeda veio ao Brasil pela primeira vez, há sessenta anos, e de todos os obstculos que ultrapassou em sua batalha para expandir a Soka Gakkai. E, em meio ao desafio diário, eu me inspirava na luta de bastidores que empreendi no Sokahan [grupo da Divisão Masculina de Jovens], de acordar cedo e estar sempre disponível e alegre. Compreendi que minha missão era atuar na sociedade tal como o presidente Ikeda esclarece ao se referir a um princípio budista: “O conceito de ‘ações invisíveis’ (myo no shoran) salienta a rigorosidade da lei de causa e efeito. Embora invisíveis para os outros, as nossas determinações e ações são ‘observadas’ pelos budas e divindades celestiais de todo o universo”.1

Além disso, a luta não foi solitária, pois tive o apoio dos amigos Soka e da minha família, que, como verdadeiros leões na fé, recitaram 4 milhões de daimoku nesse período. Um dos benefícios foi que mesmo em contato constante com os pacientes da Covid-19, não contraí o vírus, realizando meu trabalho sem cessar.

Hoje, sou especialista no acompanhamento do pós-alta e um dos autores responsáveis pela criação dos protocolos de assistência à Covid-19 do estado da Paraíba.

Penso que este é o momento para demonstrar que, mesmo em meio a tantas adversidades, nós da Soka Gakkai somos a luz da esperança no mundo. No poema A Estrada, que desperta bastante curiosidade nas pessoas que passam pela minha sala no hospital, Ikeda sensei exalta: “Existe uma estrada / E essa é a estrada que eu amo / Eu a escolhi. / Quando trilho essa estrada, as esperanças brotam / E o sorriso se abre em meu rosto. / Dessa estrada nunca, jamais fugirei”.2

A estrada que escolhi como missão foi construída com amor pelo que eu faço, e sinto que devo trilhar esse caminho sem arrependimentos, criando uma grande história.

Notas:

  1. Brasil Seikyo, ed. 2.089, 25 jun. 2011, p. A6.
  2. Terceira Civilização, ed. 485, 1º jan. 2009, p. 43.

Bruno Brito, 35 anos. Fisioterapeuta, especialista em doenças cardiopulmonares e em segurança e qualidade do paciente. Resp. pela DMJ da RE Paraíba, CRE Leste, CGRE.