Ser feliz é ter um coração forte

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 07/04/2023 14:20                                                                        ESPECIAL DIRETO DA REDAÇÃO DO JBS 

No marco dos 770 anos do estabelecimento do Budismo Nichiren, em 28 de abril, de pessoa a pessoa, é importante viver o brado da vitória sobre o infortúnio.

 

Reprodução/Foto-RN176 Foto de ilustrativa da matéria – Foto: GETTY IMAGEM

A felicidade na vida se encontra no ato de enriquecer e fortalecer o coração.1 Eis uma frase que nos leva a refletir sobre pensamentos que, vez e outra, povoam nosso cotidiano, em especial nos momentos de situações adversas. O que é felicidade? Como resistir aos reveses do carma? Faz sentido continuar vivendo assim?

O budismo surgiu como resposta a essas indagações. No sécu­lo 6, o buda Shakyamuni dedicou-se a lançar luz à compreensão dos “quatro sofrimentos” — nascimento, envelhecimento, doença e morte —, dos quais ninguém está livre. Avançamos aqui até o século 13, quando um episódio transformou o destino da humanidade. A ele dedicamos este especial.
Atravessa os séculos a preciosa revelação do buda Nichiren Daishonin (1222–1282) sobre como iluminar a escuridão do sofrimento e da angústia, transformar o carma e ser verdadeiramente feliz. Isso porque, até então, as pessoas viviam imersas na prisão do próprio eu, limitadas aos ventos do destino, vagando em busca de algo fora de si.

Essa compreensão de Daishonin foi à base de uma vida de esforço abnegado. Muito cedo, ele percebeu que possuía uma grandiosa missão e, para entendê-la e cumpri-la, buscou o caminho da educação. Naquela época, no Japão, uma das poucas formas de adquirir conhecimento era estudar em algum templo budista.

Assim, aos 12 anos, ele foi recebido no templo Seicho-ji. Depois, viajou por diversas localidades do país, percorrendo inúmeros santuários a fim de compreender profun­damente o budismo. Tal dedicação lhe possibilitou chegar à conclusão de que o cerne do ensinamento budista era o Sutra do Lótus — Daishonin revelou a essência desse sutra na Lei fundamen­tal do Nam-myoho-renge-kyo cuja recitação (daimoku) é capaz de salvar a vida das pessoas.

Essa revelação ocorreu em 28 de abril de 1253, quando Daishonin proclamou ao mundo pela primeira vez o Nam-myoho-renge-kyo, estabelecendo assim seu mais elevado ensinamento. Na essência, é a certeza de que todos, sem exceção, podem manifestar livremente o potencial inato na vida, de coragem, esperança, sabedoria. Uma verdadeira revolução na forma de pensar e de agir, pois tudo está dentro de si.

Por ser um ensinamento revolucionário, ao contrário do que defendiam naquela época, as escolas budistas, Daishonin foi perseguido pelas autoridades políticas, religiosas e pessoas comuns iludidas por ensinamentos errôneos e seus líderes invejosos. Mas ele se manteve firme, incentivando seus discípulos a manifestar também uma postura altiva diante de qualquer dificuldade.


Felicidade para todos

Esse episódio de 28 de abril de 1253 se tornou justamente um marco histórico para o estabelecimento do budismo do povo. Como resultado, hoje milhões de pessoas têm a oportunidade de realizar a prática budista em todo o mundo. Isso porque sempre haverá um condicionante para essa expansão: a ação de não deixar ninguém para trás, como neste trecho em que lemos:
No início, somente Nichiren recitou o Nam-myoho-renge-kyo, mas depois, duas, três, cem pes­soas o seguiram, recitando e ensinando aos outros. Assim também será a propagação no futuro. Isso não significa “emergir da terra”?.3

A frase acima consta de um importante escrito de Nichiren Daishonin, O Verdadeiro Aspecto de Todos os Fenômenos, datado de 1273, vinte anos após ele ter recitado pela primeira vez o Nam-myoho-renge-kyo. Ele o redigiu enquanto estava exilado em Sado, uma inóspita ilha japonesa, para onde eram levados aqueles considerados indesejados pelas autoridades feudais da época. Ele nada temia. Um homem de coragem, que se dedicou a incentivar e a encorajar cada pessoa que encontrava, mesmo passando por severas perseguições.

Daishonin encerrou sua existência aos 60 anos, depois de cravar no coração de cada pessoa com quem se encontrou o precioso poder de transformar sofrimento em felicidade. No fim, ele comprovou com a própria vida que seu ensinamento estava correto.

Após a sua morte, no entanto, poucos foram os que tiveram acesso ao seu ensinamento, restrito a templos.

O surgimento da Soka Gakkai, em 1930, rompeu o tempo e a distância do coração de Daishonin com as pessoas do povo, seu maior legado. O educador Tsunesaburo Makiguchi, fundador da organização, entendeu perfei­tamente esse espírito do Buda e colocou-se em ação, percorrendo grandes distâncias para visitar uma única pessoa. Por meio de diálogos nas reuniões de palestra e em pequenas atividades, as pessoas tinham mais conhecimento e convicção sobre a validade do Budismo de Nichiren Daishonin. Elas se empenhavam na prática budista e experimentavam diretamente o benefício da fé na própria vida, o que, por sua vez, ocasionava uma onda de novos afiliados.

Makiguchi, assim como Daishonin, também sofreu severas perseguições, justamente por defender o respeito máximo à dignidade da vida ensinado pelo Buda. Ele foi preso, junto com seu fiel discípulo, Josei Toda. Makiguchi morreu na prisão, defendendo até o último instante suas convicções. Ele nada temia. Espelhava-se em Nichiren Daishonin.

Josei Toda saiu vivo do cárcere e não perdeu nem um minuto sequer para viajar e se encontrar com os poucos membros que restaram após a Segunda Guerra Mundial. Ele jurou realizar o sonho do seu mestre, edificando a organização que defendesse e legitimasse o ensinamento de Nichiren Daishonin. E foram as pequenas atividades, as quais ele conduzia encorajando o coração sofrido de uma pessoa após a outra, que selaram o avanço da Soka Gakkai. Também foi numa dessas reuniões de diálogo nas residências que resistiram aos bombardeios que se deu o encontro com o jovem Daisaku Ikeda, o qual herdou o legado dos mestres predecessores, tornando-se posteriormente o presidente da organização.
Colorir a vida de esperança

Evolução rima com ação deste­mida. Esse é o orgulho da Soka Gakkai de ter em sua história, quase centenária, o resultado da comprovação da prática da fé de milhões de pessoas que hoje vivem esse Budismo Nichiren. Entre tantos desafios, venceram os dramas de pobreza, doença e falta de harmonia que fazem da pessoa refém da dor e da desesperança. Haveria conquista maior?

Ao fortalecer o coração, a mente passa a trabalhar em vibrações positivas:

O Sutra Guirlanda de Flores afirma: “A mente é co­mo um pintor habilidoso”.4 Assim como um grande pintor, o coração cria livremen­te representações de todas as coisas. O coração é como o designer, o pintor, o escultor e o arquiteto do nosso ser.5

Assim nos encoraja o presidente Ikeda, hoje aos 95 anos, mestre Soka que viajou o mundo para plantar a semente desse budismo, inclusive no Brasil, em 1960, superando o próprio desafio de saúde. Assumindo para si o juramento de salvar toda a humanidade, ele se tornou presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI) e vem propagando os ensinamentos do budismo e os princípios humanísticos de seus mestres para o mundo.

Neste 28 de abril de 2023, completam-se 770 anos desde que Nichiren Daishonin recitou pela primeira vez o Nam-myoho-renge-kyo. Dessa maneira, celebrar essa data é constatar que a história do budismo, da Soka Gakkai e de cada membro que a compõe são revelações verdadeiras do desejo do buda Nichiren Daishonin. O propósito de uma vida que assume as rédeas do carma, transforma adversidade em oportunidade, conquista felicidade plena e se torna assim capaz de iluminar a vida do outro.

Reprodução/Foto-RN176 Integrantes da segunda turma da Academia Índigo Juventude Soka do Brasil recitam daimoku em atividade no Centro Cultural Campestre da BSGI (18 mar. 2023) – Foto: JBS
Não há egoísmo no modo de ser de um budista, mas sim uma condição de vida em que a felicidade da pessoa à sua frente é também sua maior realização. Na Soka Gakkai, essa relação de benevolência máxima é chamada shakubuku, ou erradicar o sofrimento da pessoa e oferecer esperança. O movimento de mais e mais pessoas unidas com esse sentimento é o propósito da nossa organização — o kosen-rufu.

Os ensinamentos de Nichiren Daishonin se revelam, portanto, a grande esperança para o futuro da humanidade. Agora, a BSGI viven­cia o vibrante movimento abraçado pelos jovens, os quais, a par do frustrante sentimento de impotência que se vive em tempos pós-pandemia, estão fazendo valer as cores vibrantes da alegria, do entusiasmo e do sentido de vida, e de propósito para o bem comum. É pela juventude Soka que o ideal da consecução de uma sociedade melhor para todos ganha contornos extraordinários.

E nos pequenos encontros de diálogos humanísticos, nas organizações de base, também não há lugar para a tristeza. Todos os que ali chegam sentem que as lentes escuras da desesperança ganham suave e intenso colorido. De um a um, sem deixar ninguém para trás, devemos criar uma tela de pura esperança e alegria pelo futuro, além de trazer para os nossos dias essas palavras de inspiração para iluminar e transmitir a voz da alegria para as pessoas.

Sua voz

é o rugido do leão,

um brado de justiça —

que salva os amigos.6

Assim, o Mestre conclama:

Vamos criar a disposição de novos seres humanos de grande valor emergidos da terra com alegria e destemida coragem, fazendo ecoar o daimoku de “prática para si e prática para os outros”.7

Fontes:

Brasil Seikyo, ed. 2.361, 25 fev. 2017.

Brasil Seikyo, ed. 2.551, 13 fev. 2021.

Terceira Civilização, ed. 536, 19 abr. 2013.

Notas:

  1. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana, Editora Brasil Seikyo, v. 27, p. 375, 2021.
  2. Coletânea dos Escritos de Nichiren Dai­shonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 395, 2020.
  3. Coletânea dos Escritos de Nichiren Dai­shonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 404, 2020.
  4. Ibidem, v. I, p. 235.
  5. Cf.Terceira Civilização, ed. 512, abr. 2011, p. 48.
  6. Idem, ed. 536, abr. 2013, p. 4.
  7. Brasil Seikyo, ed. 2.421, 26 maio 2018, p. A2.

Fotos: GETTY IMAGES / BS