Sessenta anos de avanço ininterrupto rumo ao futuro

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 10/10/2020 11:11

ESPECIAL

Reprodução/Foto-RN176 Dr. Daisaku Ikeda, ele  é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista  e atualmente é o Mestre e Terceiro Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI

Esta é a segunda matéria da série sobre o 60o aniversário de fundação da BSGI, organização que segue vencendo todos os desafios para propagar os ideais humanísticos do budismo, levando a paz e a felicidade à sociedade brasileira com base na unicidade de me

REDAÇÃO

Desde a sua fundação, em 1960, a BSGI estabeleceu um forte vínculo de mestre e discípulo com o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, que se tornou a fonte primordial do seu crescimento (veja Especial publicado na edição anterior do Brasil Seikyo). Essa relação dourada se aprofundou cada vez mais com as visitas do presidente Ikeda ao Brasil em 1966, 1984 e 1993, as quais se tornaram a “espinha dorsal” do desenvolvimento da organização e da transformação de vida dos seus membros até os dias atuais e para sempre.

Durante essa magnífica jornada, Ikeda sensei não poupou esforços para incentivar os discípulos brasileiros com denominações à BSGI, mensagens, poemas, direcionamentos e outras formas de incentivo (relembre alguns exemplos no Incentivo do Líder, escrito pelo presidente da BSGI, Miguel Shiratori, também na edição anterior do Brasil Seikyo). E os membros da BSGI vêm se dedicando para corresponder a essa consideração, atuando em diversos setores da vida brasileira e aprimorando-se como pessoas valorosas que contribuem para o bem-estar social. Dessa profunda relação de mestre e discípulo, surge a chave para transpor todos os obstáculos e abrir as portas para o futuro.

1960

Espírito da fundação

O presidente Ikeda desembarcou no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, por volta da 1 hora da madrugada do dia 19 de outubro de 1960. Essa data foi denominada mais tarde como Dia da BSGI.

Na viagem iniciada em 2 de outubro — data que se tornou conhecida como Dia da Paz Mundial —, ele visitou, durante 24 dias, as cidades norte-americanas de Honolulu, São Francisco, Seattle, Chicago, Nova York, Washington e Los Angeles, além de São Paulo (Brasil) e Toronto (Canadá).

A exaustiva viagem e os intensos esforços para desbravar os primeiros passos do kosen-rufu mundial debilitaram o corpo do jovem líder, que desde a juventude sofria com problemas de saúde. Em Nova York, os membros da comitiva o aconselharam a cancelar a viagem ao Brasil.

Diante dessa preocupação, o presidente Ikeda disse a um dos integrantes do grupo que o acompanhavam:

Contudo, eu irei. Existem companheiros que estão me aguardando. Jamais cancelaria a viagem sabendo que eles estão me esperando. O senhor sabe perfeitamente que um dos propósitos principais desta viagem ao exterior é a visita ao Brasil. Chegamos até aqui exatamente para isso. Não posso desistir no meio do caminho. Houve alguma vez que o presidente Toda recuou em meio a uma luta? Eu sou discípulo do presidente Toda! Eu vou! Vou sem falta, custe o que custar! Se tiver de tombar, então tombarei em combate! Que desventura poderia haver nisso?!” (Nova Revolução Humana, v. 1, p. 216).

Com essa determinação, e mesmo ciente do risco que poderia enfrentar, o jovem líder veio para São Paulo.

No dia 20, diante de cerca de 150 pessoas reunidas no salão do restaurante Chá Flora, no bairro da Liberdade, ele anunciou a fundação do primeiro distrito fora do Japão, o Distrito Brasil, composto pelas Comunidades São Paulo, Arujá e Campinas.

No jantar realizado com os recém-nomeados líderes do Distrito Brasil, ele recomendou:

O movimento do kosen-rufu aqui no Brasil irá se desenvolver muito no futuro. É importante que os senhores, como líderes, em vez de se preocuparem em se tornar flores e frutos, decidam ser o próprio solo do kosen-rufu deste país, a partir do qual inúmeros sucessores possam crescer e florescer. Também é importante transmitir a todos como é maravilhoso fazer parte da Soka Gakkai e dedicar a vida à causa do kosen-rufu. A gota de orvalho sobre uma folha logo desaparece, mas as águas do oceano abrangem o mundo todo. A Soka Gakkai, a organização do kosen-rufu, possibilita-nos manifestar nosso potencial interior tão vasto quanto o oceano e elevar nosso estado de vida. Desejo que, haja o que houver, cada um dos senhores determine jamais abandonar a Soka Gakkai. Quando os líderes, cuja função é orientar os membros na fé, deixam de praticar e traem seus companheiros, isso constitui uma grave ofensa. A Soka Gakkai enfrentará ataques no futuro. Sem dúvida, haverá aqueles que tentarão minar e destruir a sólida união de nossa organização. Entretanto, os verdadeiros praticantes são aqueles que foram fortalecidos e treinados por meio de muitas provações. Essas pes­soas irão saborear a glória na vida. (NRH, v. 1, p. 248-249).

No dia seguinte, 21 de outubro, o presidente Ikeda seguiu viagem para Los Angeles, Estados Unidos, retornando a Tóquio no dia 25. Durante as poucas horas que esteve em São Paulo, ele plantou a semente do espírito da unicidade de mestre e dis­cípulo no coração de cerca de 150 membros daquela época e os incentivou a iniciar o movimento de propagação (shakubuku) do Budismo de Nichiren Daishonin em terras brasileiras.

1966

Desafiando as intempéries

Em pouco mais de cinco anos, desde a fundação, a BSGI alcançou grande resultado na propagação do Budismo Nichiren promovida pelas pessoas que se reuniram no restaurante Chá Flora.

No início de 1965, o número de membros girava em torno de 2.500 famílias. Essa quantidade cresceu para 5.600 em agosto, e, no fim do ano, chegou a 6.800 famílias. Nos dois primeiros meses de 1966 foram realizados mais 1.200 shakubuku, totalizando 8 mil famílias.

Em sua segunda visita ao Brasil, o presidente Ikeda desembarcou no Rio de Janeiro em 10 de março de 1966, acompanhado de sua esposa, Kaneko. No Rio, havia, nessa época, 166 famílias que compunham três comunidades e dez blocos.

Desde 1964, o Brasil vivia sob regime militar. Os cinco dias da segunda visita do presidente Ikeda transcorreram sob constante vigilância policial em consequência de informações distorcidas sobre a Soka Gakkai. O Departamento de Ordem Política e Social (Dops) — poderosa polícia política da época — rotulou a Soka Gakkai como uma organização política com fachada de instituição religiosa. Com base na suspeita de que o objetivo da visita do presidente Ikeda era o de fundar um partido político no Brasil, seus passos foram vigiados pelos agentes policiais.

Na manhã do dia seguinte da chegada ao Rio, o presidente Ikeda foi procurado por um jornalista que publicara um artigo difamatório a respeito da Soka Gakkai. Na entrevista, ele esclareceu:

Ela [a religião] existe para proporcionar felicidade às pessoas, para construir um mundo de paz e criar uma sociedade cada vez melhor. Esses propósitos fazem parte da missão original que deve ser cumprida pelas religiões. Sendo assim, uma religião que fecha os olhos para os sofrimentos das pessoas e os problemas sociais deve ser qualificada como uma religião morta. O budismo, cuja essência é o Sutra do Lótus, expõe o caminho da benevolência e ensina que todas as pessoas são dotadas da natureza de buda, revelando a suprema igualdade e o respeito absoluto à dignidade da vida. A Soka Gakkai, por sua vez, tem como objetivo contribuir para a paz e a felicidade das pessoas. Para atingir esse fim, ela aplica os princípios filosóficos do budismo nos diversos campos da atividade humana, tais como a arte, a cultura e a educação. Com base nesse pensamento, incentivamos nossos membros para atuarem também no campo da política. (NRH, v. 11, p. 19-20).

O jornalista perguntou-lhe se a Soka Gakkai pretendia criar um partido político no Brasil. A resposta foi clara:

No caso de assuntos relacionados à crença no budismo, eu posso dar meus conselhos e fazer minhas recomendações. Porém, a questão de como tratar e agir no campo da política deve ser analisada e definida pelos membros de cada país. É um assunto que não devo interferir nem ditar alguma instrução. Antes de tudo, sou japonês e penso que não devo intrometer-me nesse assunto. Particularmente, penso que não há nenhuma necessidade de criar um partido político seja no Brasil, seja em qualquer outro país. (Ibidem, p. 21).

Depois de algum tempo, esse jornalista publicou uma matéria esclarecendo que não havia nenhum fundamento no alarde criado em torno da Soka Gakkai, rotulando-a de organização fascista. A entrevista concedida pelo presidente Ikeda foi reportada corretamente e os objetivos da Soka Gakkai foram descritos sem distorção.

Além da entrevista e de se encontrar com membros pioneiros, o Mestre subiu o Morro do Corcovado de onde conheceu a Baía de Guanabara, o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor.

Dois acontecimentos foram o ponto alto da sua segunda visita ao Brasil: o “Festival Cultural da América do Sul”, realizado no dia 13 de março, no Theatro Municipal de São Paulo, com a participação de 1.700 figurantes de várias localidades do país; e o encontro com 5 mil membros no Ginásio de Esportes do Pacaembu, também na capital paulista. Esses eventos ocorreram sob a vigilância de centenas de policiais.

O empenho dos membros nessa época resultou na inauguração da sede própria da BSGI em São Paulo (atual Sede Social da Divisão Feminina da BSGI) cujo imóvel foi adquirido pessoalmente pelo presidente Ikeda durante sua segunda visita ao Brasil.

A organização, que era formada apenas por um distrito, passou a ser composta por três distritos gerais (atual regional ou área) e sete distritos.

1984

O reencontro após dezoito anos

Em 1974, seria realizada uma viagem do presidente Ikeda aos Estados Unidos e ao Brasil. A BSGI programou a realização de um festival cultural para recebê-lo. Porém, a emissão do visto de entrada ao país foi negada: o governo brasileiro estava temeroso em função de uma denúncia anônima de que havia um indivíduo perigoso na comitiva.

A tristeza e a indignação se tornariam a força propulsora para mudar a história. Durante o período seguinte, os membros redobraram os esforços nas atividades para que a BSGI fosse reconhecida como uma organização digna de respeito.

Foram dezoito anos de espera, mas, em 19 de fevereiro de 1984, o presidente Ikeda desembarcou no Aeroporto de Congonhas em São Paulo, em sua terceira visita ao Brasil.

Nos onze dias de permanência em solo brasileiro, ele viajou para Brasília, DF, onde manteve audiências com o presidente da República, com os ministros da Casa Civil, da Educação e Cultura e das Relações Exteriores, e também visitou e doou livros para a Universidade de Brasília. Nos intervalos desses compromissos, encontrou-se com os membros e os incentivou calorosamente.

No dia 25 de fevereiro, o presidente Ikeda apareceu inesperadamente no Ginásio de Esportes do Ibirapuera, em São Paulo. Os milhares de figurantes e integrantes da organização que se encontravam no ginásio ficaram surpresos e muito felizes.

Quando ele surgiu no ginásio e começou a dar a volta na pista olhando para os membros que lotavam as arquibancadas, uma forte manifestação de alegria e um turbilhão de vozes estremeceram o local. Todos aguardavam por esse grande momento.

Depois de percorrer o ginásio com os braços erguidos, ele pegou o microfone e externou seu profundo sentimento:

Sinto-me muito feliz por estar aqui junto com todos os senhores. Foram dezoito anos de longa espera, mas finalmente pude reencontrar-me com os senhores, sublimes mensageiros do Buda. Este grandioso festival cultural ficará sem dúvida alguma gravado eternamente na história do kosen-rufu do Brasil com brilhantismo. Até chegar este momento, quanto avanço e devoção não houve da parte dos senhores e quantos belos laços de solidariedade não se formaram entre todos! Neste momento, meu sentimento é o de abraçar cada um dos senhores, apertar a mão de cada um com minha mais profunda gratidão. A Lei Mística é a fonte inesgotável da criatividade cultural que construirá o novo século. Declaro com toda a determinação que este é o caminho absoluto para edificar um mundo de verdadeira paz e felicidade. (NRH, v. 11, p. 74-75)

Em coro, os figurantes e os espectadores cantaram com altivo orgulho Saudação a Sen­sei. Essa canção encorajou os companheiros do Brasil nos momentos mais difíceis, incentivando-os a desafiar os próprios limites. Foi a canção que criou a forte solidariedade e o companheirismo entre os valorosos membros da BSGI.

Cerca de três anos depois, em 21 de fevereiro de 1987, o presidente Ikeda dedicou um longo poema intitulado A Longa e Distante Correnteza do Ama­zonas, no qual descreveu seu encontro com os membros brasileiros no ano de 1984.

1993

Consolidação da BSGI Monarca

O presidente Ikeda desembarcou no dia 9 de fevereiro de 1993 no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, ocasião em que foi recebido por inúmeras personalidades, entre elas o então presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Austregésilo de Athayde.

Além dos inesquecíveis encontros com os membros, o presidente Ikeda foi acolhido como sócio correspondente da ABL e homenageado com o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Na sequência, viajou para Buenos Aires (Argentina), Assunção (Paraguai) e Santiago (Chile), retornou a São Paulo e permaneceu no Centro Cultural Campestre (CCCamp) da BSGI.

O governo paulista homenageou-o com a Medalha dos Bandeirantes, com o título de “Educador Emérito da Escola Pública do Estado de São Paulo” e de “Professor Visitante Honorário” da Universidade de São Paulo.

No Paraná, o presidente Ikeda foi homenageado com a “Ordem do Pinheiro” pelo governo do Estado, com os títulos de doutor honoris causa pela Universidade Federal do Paraná e de Cidadão Honorário de Londrina.

No CCCamp, ele participou da Convenção Sul-Americana da SGI, da 16a Convenção da SGI e de vários outros eventos. Durante os dias em que esteve em terras brasileiras, ele vivenciou o grande avanço da BSGI desde a sua primeira visita em 1960.

Mais tarde, em 22 de julho de 2001, por ocasião da cerimônia de outorga do título de cidadão honorário do município de Itapevi, realizada no Auditório Makiguchi em Tóquio, o presidente Ikeda enalteceu o grande desenvolvimento da BSGI, com amplo reconhecimento da sociedade brasileira, no poema Brasil, Seja Monarca do Mundo!

Em resposta à dedicação e expectativa depositada por Ikeda sensei na BSGI, os membros se empenharam em diversas áreas para contribuir em prol do desenvolvimento da sociedade brasileira. Acompanhe, nas próximas edições do Brasil Seikyo, como tem sido essa atuação e quais são as perspectivas de avanço.

Fonte:

Os Fundamentos do Budismo Nichiren para a Nova Era do Kosen-rufu Mundial, p. 65 a 69.