ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 24/10/2020 04:16
ENCONTRO COM O MESTRE
Reprodução/Foto-RN176 Da esquerda para a direita Dr. Daisaku Ikeda, ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista e atualmente é o Mestre e Terceiro Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editora Brasil Seikyo – BSGI
O Dr. Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), com frequência enaltece a força das mães para lutar e proteger os filhos e a família. No Encontro com o Mestre desta edição, Ikeda sensei relembra pontos importantes sobre essas mulheres extraordinárias e sua batalha para a construção de um futuro mais feliz.
- DAISAKU IKEDA
No dia 3 de maio [em 2013], comemorou-se o aniversário de 25 anos do Dia das Mães da Soka Gakkai.
Nichiren Daishonin afirma:
Quando minha própria mãe ainda estava viva, fui muito contra suas palavras. Agora que ela me precedeu na morte, não posso deixar de sentir um profundo pesar. É por isso que revi os ensinamentos sagrados apresentados pelo Buda ao longo de sua vida, a fim de determinar quais ações são mais apropriadas para demonstrar devoção filial à minha mãe.1
Mesmo enfrentando inúmeras perseguições em toda a sua existência, Nichiren Daishonin jamais desprezou sua mãe; pelo contrário, deu-lhe o máximo de atenção. Também ensinou aos seus discípulos e seguidores a cuidar dos pais com as seguintes palavras:
Que razão há para acreditar que nossas mães, por meio do poder deste sutra, não podem se tornar budas? Portanto, uma pessoa que defende o Sutra do Lótus está saldando a dívida de gratidão com o pai e com a mãe.2
Em meu coração e no de minha esposa estão sempre vivas a imagem das louváveis mães com quem compartilhamos momentos de alegria e de tristeza. Vençam qualquer sofrimento com um sorriso! Vençam quaisquer intempéries da vida com base no daimoku!
Ah, louváveis mães que desbravaram sua vida com o espírito de jamais serem derrotadas! São muitas mães Soka que reluzem como o sol da felicidade, iluminando a sociedade caótica com a luz da esperança e da coragem.
Ser mãe é ser forte
Quero compartilhar a história de uma companheira de Saitama que superou corajosamente fatos angustiantes e sofrimentos recorrentes. Seu ponto primordial foi a participação na cerimônia da minha posse como terceiro presidente da Soka Gakkai, ocorrida no dia 3 de maio de 1960.
Ela atuou como líder da Divisão Feminina de Jovens (DFJ), casou-se e teve três filhos. A vida dela parecia que ia de vento em popa. Porém, sua filha caçula, a quarta, nasceu completamente cega, com catarata congênita.
Mas a mãe era forte. Diante da manifestação do carma, não vacilou nem recuou um passo sequer. Viveu em prol do kosen-rufu concretizando shakubuku em mais de cem amigos. A filha superou a doença, abriu firmemente os olhos do coração e hoje participa ativamente do Grupo Young Mrs. [atual grupo Zenshin da Divisão Feminina (DF)], carregando seu pequeno filho no colo.
Na SGI, são inúmeros os dramas humanos de vitória escritos pelas grandiosas mães anônimas e seus filhos, que reluzem com dignidade.
O ponto primordial de Gandhi
Recebi com muita honra o glorioso título de professor honorário do curso de ciência e sociedade da renomada Universidade KwaZulu-Natal, da África do Sul [em 2013]. Gostaria de compartilhar essa glória com todos os companheiros do Japão e do mundo. A cidade de Pietermaritzburg, capital do estado de KwaZulu-Natal, onde foi realizada a cerimônia de outorga do título, é o ponto primordial de Mahatma Gandhi (1869–1948), pai do movimento da não violência. Foi ali que ele decidiu iniciar o movimento pelos direitos humanos.
Gandhi trabalhava como advogado na África do Sul. Ao ver seus irmãos sofrerem preconceitos cruéis, decidiu se levantar para lutar por direitos iguais a todos. Dessa forma, nasceu o famoso movimento satyagraha (“manter a verdade”). A grande passeata em prol da “lei para salvar os indianos”, organizada por Gandhi, ao conduzir mais de 3 mil indianos que trabalhavam na mineração, aconteceu exatamente há cem anos [discurso proferido em 6 de novembro de 2013]. Esse movimento resultou na adoção do Ato de Reforma da Questão Indiana, em 1914.
Antes de iniciar sua batalha contra a violência, Gandhi proclamou: “Desde que haja um punhado de pessoas fiéis ao juramento, haverá apenas uma única meta na batalha. Essa meta é vencer”.
O juramento se torna juramento quando a pessoa o cumpre. Quer dizer, o verdadeiro juramento é aquele mantido fielmente até o momento da vitória final. O líder deve possuir a determinação e essa obstinação até o fim.
A chave para a construção da paz
A Dra. Ela Gandhi, neta de Mahatma Gandhi, estudou na Universidade KwaZulu-Natal e lutou pelos direitos humanos na África do Sul.
Ela deposita grande expectativa na rede humanística Soka e, como chave para a construção da paz, transmitiu-me quatro pontos enfatizados por Mahatma Gandhi: “resistência pacífica”; “sistema econômico arraigado na comunidade e capaz de extrair a força das pessoas”; “possuir o coração que preza todas as pessoas sem exceção”; e “dominar a si próprio para obter uma vida boa”.
São diretrizes de profundo significado. Se as adaptarmos para a nossa realidade, ficariam: em primeiro lugar, dialogar com persistência e com o coração repleto de benevolência e paciência.
Em segundo, fortalecer a amizade com os vizinhos do bairro onde residem, valorizar o local em que sua vida cotidiana se desenvolve e realizar pequenos encontros e reuniões para ampliar o círculo de amizade.
Em terceiro, dialogar e incentivar as pessoas com quem nos relacionamos, acreditando na natureza de buda inerente a elas e em seu infinito potencial.
Em quarto, transformar o seu interior ao superar a preguiça e a arrogância, orar, agir, clamar e se empenhar unicamente pelo kosen-rufu e pela felicidade e vitória de si mesmo e de outras pessoas. Viver altiva e orgulhosamente em prol da justiça e ter a convicção absoluta da eficácia da Lei Mística.
Da revolução humana para a revolução da sociedade — avançar, haja o que houver e por todo o infinito, com dignidade pelo caminho da fé e com a convicção de que estabelecer o ensinamento correto assegura a paz da nação.
A sucessão do bastão espiritual
A Dra. Ela Gandhi tem apenas uma única lembrança do seu avô, Mahatma Gandhi. Estava com 7 anos. Contudo, gravou solenemente o espírito da não violência e se empenha até hoje pelo mesmo objetivo.
A semente espiritual plantada no coração de um jovem pode, com o passar do tempo, resultar em uma frondosa árvore. Nosso empenho e nosso esforço têm apenas um objetivo: abrir o caminho que perdure para todo o futuro e por toda a eternidade para os amigos e os companheiros herdeiros. Encontramos nas escrituras budistas termos que significam “herdar” e “suceder”. Se não houver o herdeiro, o sucessor, não haverá o futuro.
Kosen-rufu é como a caudalosa correnteza de um grande rio; é transmitir para o futuro, para a próxima geração, o espírito humanístico exposto no budismo. É a corrida por revezamento em que se transfere o bastão espiritual da justiça. Portanto, o avanço da Divisão dos Estudantes (DE) é o avanço do próprio kosen-rufu.
Notas:
- WND, v. II, p. 898.
- Ibidem, p. 638.
Fonte:
Conteúdo composto por trechos do ensaio Nosso Grande Caminho de Vitórias, publicado no jornal Seikyo Shimbun em 6 de maio de 2013 e no Brasil Seikyo, ed. 2.182, 8 jun. 2013.