Sikorsky quer fornecer helicópteros inovadores para as Forças Armadas dos EUA

ROTANEWS176 E POR AIRWAY 15/02/2021 12:40                                                                                                                    Por Ricardo Meier

Modelos Defiant X e Raider X utilizam a tecnologia X2, de rotores coaxiais rígidos, para derrotarem os helicópteros 360 Invictus e V-280 Valor, da Bell

Reprodução/Foto-RN176 O Defiant X é um dos concorrentes da Sikorsky a utilizar a tecnologia X2 (Divulgação)

Duas das mais tradicionais fabricantes de helicópteros dos EUA estão disputando contratos históricos com as Forças Armadas do país para fornecer um modelo de reconhecimento e ataque e uma aeronave versátil capaz de substituir o famoso “Blackhawk”.

Mas se a Bell propõe conceitos conhecidos, sua rival Sikorsky quer vencer as duas concorrências com uma mesma “receita”, a tecnologia X2. Para quem nunca ouviu falar dela, trata-se de um sistema de voo com rotores coaxiais, ou seja, que giram em sentidos opostos num mesmo eixo.

Nesse sentido, tanto o Raider X, concorrente do programa FARA (Future Attack Reconnaissance Aircraft), do Exército dos EUA, quanto o Defiant X, a proposta recém apresentada pela Sikorsky para o FLRAA (Future Long-Range Assault Aircraft), lembram outros projetos antigos, sobretudo russos que utilizam há muito tempo essa ideia. Mas os dois helicópteros são mais do que isso.

A tecnologia X2 envolve o uso de rotores rígidos, ou seja, sem as partes móveis, sobretudo na chamada “cabeça do rotor”, onde ficam muitas engrenagens e considerado ponto sensível de qualquer helicóptero. Para substituir a função de propulsão horizontal, foi adotado uma hélice propulsora que também contribui para que esses modelos consigam atingir velocidades elevadas, acima de 250 nós (463 km/h).

Reprodução/Foto-RN176 O Raider X: Sikorsky quer ganhar concorrência com proposta mais ousada (Sikorsky)

Para controlar a vibração excessiva, eles utilizam um sistema fly-by-wire avançado e que permite conjugar alta manobrabilidade em baixas velocidades com um voo veloz e acima de 9.000 pés (2.743 m). Além do sistema X2, os dois helicópteros têm um comum uma fuselagem de baixa observação em que mal se veem protuberâncias ou reentrâncias.

Ideia antiga

O conceito X2, na verdade, não é novo. A própria Sikorsky estuda rotores coaxiais rígidos há muito tempo, pelo menos desde 1973 quando desenvolveu o protótipo S-69, que usava turbojatos nas laterais para providenciar o empuxo necessário na horizontal. O programa acabou encerrado nos anos 80 após avaliação do Exército e da NASA.

Apenas em meados dos anos 2000, a fabricante apresentou um novo protótipo usando a tecnologia, o X2. A pequena aeronave experimental já trazia a configuração adotada agora pelos dois helicópteros militares, mas numa escala bem menor.

Após decolar pela primeira vez em agosto de 2008, o X2 logo mostrou seu potencial ao superar 250 nós (460 km/h) dois anos depois. Os bons resultados motivaram a empresa a desenvolver o S-97 Raider, uma helicóptero de maior porte e que voou em 2015, e o SB-1 Defiant, um demonstrador da tecnologia para o programa de substituição do UH-60 Blackhawk.

Concorrentes diferentes

Agora, a Sikorsky, após passar pela seleção inicial do Pentágono, disputa com a Bell as duas importantes encomendas. O programa FARA, que prevê o fornecimento de um helicóptero leve de reconhecimento para o lugar do já aposentado OH-58 Kiowa, também deve ajudar o Exército dos EUA a retirar alguns antigos AH-64 Apache de serviço.

Nessa concorrência, o rival é o Bell 360 Invictus, um helicóptero de projeto ortodoxo, com rotor anti-torque semelhante ao “Fenestron”, da Airbus, e asas capazes de contribuir com a sustentação da aeronave em voo reto. Uma proposta que se baseia na simplicidade e economia, segundo a empresa.

Reprodução/Foto-RN176 O Bell 360 Invictus: proposta mais convencional para o Exército dos EUA (Bell)

Já o Raider X aposta na velocidade superior e na maior capacidade de carga para vencer a concorrência. Seu helicóptero possui assentos lado a lado enquanto o Invictus segue uma filosofia de ocupantes em tandem como em outros modelos de combate. Em comum, os dois modelos terão de oferecer uma arquitetura modular de aviônicos, capaz de adaptar as aeronaves para novas tecnologias e equipamentos.

A próxima fase da disputa envolve a produção dos helicópteros com um horizonte de encomenda para o ano fiscal de 2023.

Tilt-rotor

Já a concorrência FLRAA, para substituir o Blackhawk, possui propostas mais ousadas e encomendas que podem envolvem fornecer aeronaves para outras forças. Em geral, o Pentágono procura um helicóptero com grande raio de combate, velocidade elevada, capacidade de carga considerável e possibilidade de transportar de oito a 12 ocupantes.

A Bell aposta num conceito com o qual já trabalha com as forças armadas, o tilt-rotor, graças ao V-22 Osprey. Mas desta vez trata-se de uma aeronave menor, o V-280 Valor, e com algumas mudanças de configuração, entre elas a cauda em V e o fato de apenas o conjunto de hélices ser basculante enquanto a nacele é fixa. Isso deve se refletir em um projeto mais simples e leve, favorecendo uma manutenção e voo mais confiáveis.

Reprodução/Foto-RN176 O V-280 Valor (Bell Helicopter)

O grande desafio da Bell é tornar o V-280 barato já que o Osprey se mostrou uma aeronave de custo muito elevado. Em compensação, o tilt rotor é capaz de voar a velocidade bastante elevadas.

A Sikorsky e sua parceira Boeing, que apresentaram o Defiant X em janeiro, acredita que sua tecnologia, a despeito de ser mais lenta que o V-280, possui maior agilidade, sobretudo na aproximação para pouso por conta da capacidade das hélices pusher poderem ser usadas como reversores. A fabricante também enfatiza a menor área dos rotores coaxiais em relação ao modelo da Bell, que possui rotores separados.

Ambas as empresas esperam por um requerimento de proposta ainda neste ano e o anúncio do vencedor do contrato em 2022. Em jogo, a adoção ou não de tecnologias nunca vistas em produção.