Superar tudo com determinação

ROTANEWS176 22/09/2023 15:40                                                                                                                            REDE DA FELICIDADE                                                                                                                                              Por Dr. Daisaku Ikeda

Nestes trechos do romance Nova Revolução Humana, o autor, Dr. Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), conta a história de Hiroto Muraki, que emigrou com a família do Japão para a República Dominicana em 1957.

Reprodução/Foto-RN176 Ilustração mostra Hiroto Muraki, à frente, à esq., dedicando-se ao cultivo de arroz na República Dominicana juntamente com os demais trabalhadores locais – Ilustração: Kenichiro Uchida

[Após a Segunda Guerra Mundial, diversas famílias mudaram-se do Japão para outros países em busca de condições melhores de vida, entre elas estavam integrantes da Soka Gakkai, que também objetivavam contribuir para o movimento pelo kosen-rufu nesses locais. Entretanto, muitas encontravam situações desafiadoras e enfrentavam inúmeras dificuldades.]

Hiroto Muraki era um dos remanescentes na República Dominicana. Ele chegou em 1957 com sua esposa e alguns parentes. Quando ainda estava no Japão, vendera sua casa, o campo de plantações, os móveis e tudo o que podia ser negociado. Sua decisão era radicar-se definitivamente nas terras dominicanas. (…)

O local do assentamento ficava próximo da fronteira com o Haiti, a 330 quilômetros a noroeste de Santo Domingo, capital da República Dominicana. O terreno que recebeu era cinco vezes menor do que a área prometida e ficava a mais de cinco quilômetros da colônia de imigrantes. Era uma área de terra vermelha, ressequida e dura como pedra. Ará-la com enxadas parecia uma tarefa impossível.

Após muito esforço, conseguiu arar apenas um terço da área recebida. Entretanto, a primeira plantação não produziu quase nada devido ao intenso calor e à falta de água. Hiroto Muraki só conseguiu colher um pouco de tomate.

Embora existisse um sistema precário de irrigação, a água era racionada e distribuída em horários preestabelecidos. Quando chegava sua vez de receber a água, ele aguardava sem dormir.

Numa dessas ocasiões, a água não chegou. Ele resolveu então seguir pelo canal de irrigação para verificar o que havia acontecido. O vizinho havia desviado o canal para usufruir da água de Hiroto.

Todos estavam numa situação precária, entre a vida e a morte. Não tinham mais condições de cumprir os acordos ou pensar nos outros. Hiroto ficou triste ao saber que o coração de seus companheiros havia ficado tão árido quanto aquelas terras. A disputa por água, que era uma questão de sobrevivência, gerou brigas e conflitos entre vizinhos e parentes. (…)

Nessa situação de desesperança, Hiroto escreveu uma carta à sua mãe no Japão, dizendo que pretendia voltar quanto antes, apesar de ter-lhe dito na partida que seria um homem bem-sucedido dentro de dez anos.

Após algum tempo, ele recebeu uma carta com a resposta da mãe. Ela contava-lhe que havia ingressado na Soka Gakkai e que estava praticando o budismo: “O Gohonzon tem um poder extraordinário. Se você recitar também o Nam-myoho-renge-kyo, poderá encontrar o caminho para a felicidade. Por isso, tente mais uma vez, empenhando-se na recitação do daimoku”.

Hiroto não acreditou inicialmente que uma religião pudesse resolver seus problemas e melhorar sua vida. Entretanto, ao reler várias vezes a carta, o sentimento e a preocupação da mãe pela felicidade dele penetraram em seu coração. Além disso, Hiroto não tinha outro meio para mudar o rumo de sua vida.

Começou então a recitar o daimoku sem saber seu significado. Ao orar por dez a vinte minutos, sentiu-se aliviado. Com esse resultado, decidiu empenhar-se com seriedade na recitação do daimoku. Isso aconteceu em 1962.

Depois de algum tempo, a sogra de Hiroto, que sofria de problemas estomacais, também iniciou a prática budista. Porém, em vez de melhorar, as dores tornaram-se mais intensas.

A vizinhança logo comentou que a sogra de Hiroto adoecera por causa de uma religião estranha.

Hiroto indignou-se com isso e escreveu para a mãe, transmitindo-lhe que não praticaria mais o budismo. Depois de alguns dias, recebeu uma carta do irmão que também era praticante: “Sua situação é comparável a um cano que ficou sem ser utilizado por longo tempo. Quando abrir a torneira, ele despejará inicialmente somente água suja com ferrugem. Porém, depois de deixar escorrer a água por algum tempo, toda a sujeira do encanamento terá saído, dando lugar à água limpa. Isso acontece também com nossa vida quando começamos a praticar o budismo. Se persistirmos em nossos esforços, apesar dos obstáculos, com certeza, alcançaremos a vitória”.

Hiroto refletiu sobre as palavras do irmão e continuou a se empenhar na prática. Algum tempo depois, sua sogra já estava com a saúde recuperada e todos da família começaram a recitar o gongyo e o daimoku.

Certo dia, um cavalheiro dominicano apareceu em seu armazém e comprou um refrigerante. Era o prefeito de uma cidade vizinha, que fez uma proposta a Hiroto.

— Você não poderia produzir mudas de arroz em suas terras? As terras da minha cidade são impróprias para esse tipo de cultivo e tenho comprado mudas em outros locais.

Hiroto respondeu que seu maior problema era a falta de água para irrigar sua plantação, e que se resolvesse esse problema poderia aceitar a proposta de trabalho.

O prefeito prometeu que tomaria providências para melhorar o sistema de irrigação e que Hiroto poderia iniciar o trabalho de arar a terra.

Com essa inesperada proposta e com abundância de água para irrigar o solo, Hiroto teve sucesso no cultivo de mudas de arroz, obtendo várias safras por ano. Ele teve de contratar mais de vinte empregados para atender à demanda. Enfim, conseguira ver uma luz no fim do túnel. Era o primeiro benefício da prática da fé.

[Com o dinheiro que juntou com a produção de mudas de arroz, ele transferiu-se no final de 1962 para uma região mais populosa onde predominava a produção de arroz. Abriu um comércio de alimentos e produziu também um doce de arroz muito apreciado no Japão.]

Os japoneses que experimentaram a dura realidade nas colônias de imigrantes reconheceram no sucesso de Hiroto a importância da prática da fé e começaram gradativamente a abraçar o budismo. Ao mesmo tempo, apesar de em meio às adversidades, descobriram um novo significado na vida: “Nós temos a missão de ensinar o budismo às pessoas desta terra a fim de conduzi-las à felicidade. E é justamente para cumprir essa missão que viemos para cá. Por isso, aconteça o que acontecer, jamais seremos derrotados pelas adversidades. Vamos vencer infalivelmente toda e qualquer dificuldade”.

Eles descobriram que tanto a felicidade como a infelicidade são definidas, antes de tudo, no âmago da vida. Isso é chamado no budismo de determinação.

Com o esforço de Hiroto e demais companheiros, trinta das 120 famílias de imigrantes japoneses iniciaram a prática budista.

O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.

No topo: ilustração mostra Hiroto Muraki, à frente, à esq., dedicando-se ao cultivo de arroz na República Dominicana juntamente com os demais trabalhadores locais
Fonte:

IKEDA, Daisaku. Arando a Terra. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 11, p. 133-144, 2021.

Ilustração: Kenichiro Uchida

FONTE: JORNAL BRASIL SEIKYO