ROTANEWS176 E POR IG 01/10/2019 07:30 Por Fernanda Labate
A ideia de conciliar a menstruação com algo de pano pode soar arriscada e anti-higiênica, mas a calcinha cumpre a promessa de segurar o sangue por muitas horas, controlar odores e, acima de tudo, ser algo confortável
Menstruar é algo natural para quem tem um aparelho reprodutor feminino que funciona normalmente e, a não ser que a mulher sofra com problemas que trazem dores durante o processo, não há nada de tão terrível e extraordinário em ter algum sangue saindo da vagina. Para muitas, porém, o problema é a forma de conciliar a menstruação , já que absorventes e coletores podem ser desconfortáveis ou “ameaçadores”. Mas você já ouviu falar de calcinha absorvente?
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Reprodução/Foto-RN176 A calcinha absorvente é uma boa alternativa para quem não se sente bem com coletores menstruais ou absorventes descartáveis, mas, para que ela funcione, é preciso conhecer bem o próprio fluxo e ter mais de uma peça
Não é difícil encontrar mulheres que não se sentem confortáveis em usar coisas que precisam ser inseridas no canal vaginal e, apesar de algumas se darem bem com o absorvente externo, dificilmente é possível classificá-lo como algo confortável. Além disso, absorventes descartáveis geram grandes quantidades de lixo e é necessário gastar dinheiro com eles periodicamente. Como a calcinha absorvente é algo relativamente recente no Brasil, porém, muita gente não a conhece ou tem uma ideia errada sobre ela.
Pensando nisso, o Delas testou a calcinha de uma das poucas marcas existentes no Brasil e trouxe alguns detalhes, pontos positivos e negativos de optar por essa peça durante “aqueles dias”:
Como é uma calcinha absorvente?
Reprodução/Foto-RN176 As calcinhas absorventes têm uma camada de tecido absorvente entre o material normal da peça, e, mesmo com mais de uma camada, a parte que fica em contato com a vulva é bem mais fina que um absorvente externo comum – Divulgação/Pantys
Conforto e segurança
A ideia de usar uma peça de pano – e apenas ela – durante o período menstrual pode não soar exatamente segura, mas há muita tecnologia envolvida para que a calcinha absorvente cumpra esse objetivo. Em geral, elas são confeccionadas combinando um tecido mais macio (que fica em contato com a pele) e um tecido impermeável (que fica em contato com a roupa).
A parte que fica entre as pernas, porém, traz um forro extra: entre esses dois tecidos, há uma camada de material absorvente especialmente desenvolvido para impedir a proliferação de bactérias – já que, quando o sangue sai do corpo e entra em contato com o ar, torna-se um prato cheio para isso.
Apesar de contar com mais de uma camada de tecido, porém, ela não se parece nada com uma “fralda” como muita gente imagina. A parte que fica em contato com a vulva é, sim, um pouco mais espessa do que uma calcinha convencional, mas, ainda assim, tem aproximadamente um terço da espessura de um absorvente externo comum.
Além de não dar a sensação de estar usando uma fralda, ela também não se parece com uma. Além de serem fininhas, as calcinhas absorventes normalmente são disponibilizadas em mais de um modelo. Algumas marcas têm opções de cores que fogem do preto e do bege (como vermelho e lilás), além de tamanhos diferentes para cada intensidade de fluxo.
Para quem tem fluxo leve, os modelos costumam ser do tipo tanga, com as laterais mais fininhas. Quem tem o fluxo um pouco mais intenso, as calcinhas costumam ter um formato do tipo biquíni, com laterais mais largas e cintura mais alta. Já para mulheres que lidam com um fluxo bastante intenso ou que dura mais dias, os modelos costumam ser do tipo “boyshort” (que lembram um micro short) ou “hotpants”, cuja cintura fica na altura do umbigo e o bumbum fica mais coberto.
Algumas marcas ainda sugerem que, caso o fluxo seja intenso a ponto de haver situações em que o absorvente não aguenta, a calcinha pode ser usada em combinação com o absorvente higiênico como uma forma de prevenir vazamentos,
Porém, na hora de escolher o melhor modelo, não é só a quantidade de sangue que deve ser levada em consideração. Mesmo que a mulher menstrue pouco ou durante poucos dias, o conforto também é importante na hora de optar por um dos tipos e ela pode escolher a calcinha indicada para fluxos mais intensos sem problema algum.
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Tempo de uso
De acordo com as marcas, é possível ficar mais de cinco horas – e, dependendo da intensidade do fluxo e do momento do ciclo, até um dia inteiro. Ao contrário do que muita gente pensa, ela não dá a sensação de estar molhada e o contato com a pele é agradável até o momento em que a camada absorvente esteja totalmente “cheia”. Quando a mulher começa a sentir que a peça está muito úmida, é hora de trocar a calcinha absorvente, colocando a usada para lavar.
Apesar das recomendações, porém, é preciso realmente conhecer muito bem como é o fluxo em cada um dos dias da menstruação. Durante o primeiro dia de teste – em que o fluxo ainda estava leve –, eu, repórter do Delas, passei a noite com a calcinha e, quando acordei, ela estava realmente bem sequinha. Decidi então sair de casa com ela e, após cerca de cinco horas, houve, sim, um pequeno acidente. Nada desesperador, afinal, quando isso acontece, o sangue escapa pelas “bordas” do tecido, e não através dele.
Para quem quer usar apenas a calcinha sem intercalar com outro método, parece mais sensato ter ao menos três ou quatro peças. Conforme uma está no corpo, a outra está na bolsa para uma eventual troca, enquanto a terceira e a quarta entram no dia seguinte conforme as outras estiverem lavando.
Lavagem
Quando a calcinha fica cheia após algumas horas e é hora de lavar, não é indicado entregar a tarefa para a máquina de lavar roupas de cara. Conforme instruem as marcas, é necessário realizar uma pré-lavagem em água fria para tirar o excesso de sangue e aí sim colocá-las na máquina. Por conta do forro absorvente, porém, elas não podem entrar em contato com amaciantes, produtos à base de cloro e, principalmente, com o ferro de passar roupas.
Por terem várias camadas de tecido, a calcinha demora um pouco mais do que as calcinhas convencionais para secar – mas nada de apelar para a secadora. Sendo assim, é preciso estendê-la ao ar livre imediatamente após a lavagem, sempre em um local protegido da luz do sol direta.
Pontos positivos e negativos
Reprodução/Foto-RN176 Ao contrário do que muita gente pensa, a calcinha absorvente não se parece com uma fralda e não dá a sensação de umidade – Divulgação/Pantys
Assim como o absorvente externo e o interno, a calcinha absorvente tem suas vantagens e desvantagens, além de requerer alguns cuidados específicos por não ser descartável (como coletores menstruais, que, após o ciclo, devem ser desinfetados em água fervente).
Vantagens
- É sustentável
Apesar de haver absorventes biodegradáveis, tanto os externos quanto os internos de marcas mais conhecidas são feitos a partir de materiais que levam ao menos 100 anos para se decompor. Em alguns lugares do mundo, há processos para separar os componentes recicláveis dos absorventes usados e reduzir o impacto ambiental na hora de descartá-los, mas, no Brasil, os destinos deles são aterros a céu aberto.
Se fizermos as contas, a situação é ainda mais preocupante: considerando que uma mulher usa cerca de 20 absorventes por ciclo, são 240 por ano e aproximadamente 10 mil durante a vida toda. Mesmo que o fluxo da mulher seja intenso demais para usar só a calcinha absorvente durante os primeiros dias da menstruação e ela ainda tenha de combiná-la com um absorvente externo, essa alternativa diminui consideravelmente a quantidade de lixo gerada durante esse período.
- Conforto
Apesar de ter me acostumado a usar absorventes externos, eles nunca deixaram de me incomodar – além de, ocasionalmente, causarem alergias na virilha. Para mim, os internos são um verdadeiro pesadelo e não me sinto nada inclinada a testar coletores. A calcinha absorvente, por outro lado, me faz praticamente esquecer que estou menstruada, e, além disso, o modelo que escolhi (para fluxo intermediário, do tipo biquíni) é mais confortável do que muita calcinhas convencionais que tenho.
- Os gastos diminuem
As calcinhas absorventes de marcas brasileiras custam, em média, R$ 85. Para conseguir usar apenas a peça durante o ciclo menstrual, é preciso de ao menos três ou quatro calcinhas, então, sim, o gasto inicial de usá-las não é baixo. No entanto, levando em consideração que as calcinhas só precisam ser substituídas por peças novas a cada dois anos (se não estiverem mais funcionando perfeitamente), além de serem mais confortáveis e ecológicas, a longo prazo, também são – assim como coletores – uma opção mais econômica que absorventes.
- Nada de cheiro
Quem usa coletores menstruais provavelmente já descobriu que o sangue em si não tem cheiro ruim. O odor desagradável que sentimos quando usamos absorvente vem do contato entre as substâncias presentes neles e o sangue, mas, na calcinha absorvente, isso não acontece. Muita gente acha que, por ser possível ficar várias horas com ela, a peça fica com tanto cheiro quanto os absorventes, mas, pra minha surpresa, ela não cria odores com o passar do dia.
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Desvantagens
- O processo de lavagem pode ser incômodo
Sangue menstrual é apenas sangue e não há nada de sujo ou nojento nisso. Eu, particularmente, não tenho problemas em lavar a calcinha à mão antes de colocá-la na máquina conforme mandam as instruções do produto, mas, como essa etapa serve justamente para enxaguar a peça e não deixar que ela manche outras roupas durante a lavagem, quem tem receio de ver sangue ou mexer com ele pode se sentir desconfortável.
- É complicado trocá-la fora de casa
Quem trabalha mais de cinco horas por dia e tem fluxo intermediário provavelmente vai precisar trocar a calcinha absorvente ao longo do dia, mas fazer isso sem estar em casa pode ser complicado. Assim como o coletor, que precisa ser esvaziado, lavado e reinserido na vagina, a calcinha dá um pouco mais de trabalho na hora de trocar, já que é preciso tirar outras peças de roupas no processo, lavar a peça usada ou guardá-la até a hora de chegar em casa.
Uma solução que encontrei para não precisar fazer isso no trabalho é usar um absorvente externo comum por algumas horas e retirá-lo na metade do dia, trocando a calcinha absorvente apenas após o expediente, já em casa. Ainda que funcione, porém, essa técnica ainda requer o uso de um absorvente.