Todos nascemos com uma missão e podemos encontrá-la, afirma guru espiritual

ROTANEWS176 E UOL  07/11/2016 12h53                                                                                                   Bárbara Stefanelli

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Reprodução/Foto-RN176 Guru brasileiro Prem Baba lançará, em novembro, o livro “Propósito – A Coragem de Ser Quem Somos”imagem: Raquel Cunha/Folhapress

Prem Baba está decidido a ajudar as pessoas a encontrarem sua missão na vida. “Para que nascemos? Qual é a razão da existência humana?”. São essas perguntas que ele deseja responder agora. Após passar anos focado em falar sobre relacionamentos –tanto amorosos quanto familiares e profissionais–, agora o mestre espiritual brasileiro, de linhagem hinduísta e que também é conhecido como Pai do Amor (significado da alcunha hinduísta Prem Baba), quer ver as pessoas colocando seus talentos em movimento.

Uma das maneiras de descobrir se você está afinado é tentando lembrar quais eram suas vontades e desejos na infância. Segundo Baba, a criança, quando chega ao mundo, tem uma indicação do seu propósito. “Mas, aos poucos, ela vai ouvindo que talvez tenha uma coisa errada com aquele sonho, com aquela vontade. E durante a vida, foi escutando: ‘Isso não é para você, não dá dinheiro’.” Para o guru, uma criança dizer que quer ser bombeiro, é uma vontade que, muitas vezes, vem permeada de fantasia e ficção, que não é, necessariamente, literal. “Pode ser que esta criança, quando cresça, queira apagar ‘incêndios’ no mercado financeiro”, exemplifica.

Outro modo de encontrar essa resposta é se questionando: “O que eu estaria fazendo agora, se não tivesse que ganhar dinheiro?”. Mas não vale dizer que estaria na praia, curtindo de boa e sem fazer nada. Para o guru, todos viemos com dons e temos que, em algum momento, praticá-los (“colocá-los a serviço”, como gosta de dizer). “Nessa vida, todo mundo tem que trabalhar, que ganhar dinheiro. E mesmo estando alinhado com o propósito, atuando na área que gostamos, os desafios acontecem, porque na Terra é assim: tem dias que chove ou fica nublado. O importante é não se identificar com o que é transitório.”
Acredita que todos nós nascemos com um propósito?

Sim, viemos com talentos para colocar em prática

Acho que as pessoas têm talentos, mas não um propósito

Não, acho que as pessoas não nascem com talentos e nem têm missões

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Para ajudar as pessoas a encontrarem este dom, Prem Baba fez encontros em Brasília e São Paulo, onde reuniu cerca de 1.150 pessoas, e também está lançando, agora em novembro, o livro “Propósito – A Coragem de Ser quem Somos” (R$ 29,90, editora Sextante). Abaixo, leia a entrevista completa que o guru brasileiro concedeu ao UOL, em que falou mais sobre propósito e até sobre a instabilidade política pela qual o Brasil e o mundo estão passando:

UOL: Por que você resolveu trabalhar o tema propósito neste momento?

Prem Baba: Porque, ao longo destes últimos anos, eu tenho percebido que muitas pessoas estão se sentindo perdidas em relação ao que fazer com os seus talentos, com os seus dons. Tenho identificado um sentimento profundo de desencaixe, que se acirrou muito nestes últimos meses, com essa grande crise que se manifestou no planeta Terra e aqui no Brasil, com essa crise política e econômica. Então, tenho recebido muitas pessoas revendo seus valores, escolhas e decisões e se sentindo sem referências. Sinto que nós estamos vivendo uma profunda transição, que eu encaro como uma mudança de cultura. É uma mudança de cultura do trabalho, que hoje é vista apenas como um modo de fazer para sobreviver, onde vale tudo. Está acontecendo uma transição para a cultura do serviço, que é realmente se colocar como um canal do bem e do amor, para tornar esse mundo um lugar melhor para se viver. Mas as pessoas não sabem como fazer essa alteração e foi aí que eu senti que poderia ajudar. Tenho elementos, ferramentas, para auxiliar nessa marcha, para promover essa mudança de cultura, do trabalho para o serviço.

UOL: E quais são os sinais de quando você não está prestando esse serviço, quando não está no seu propósito?  

Baba: Os principais sintomas são ansiedade, angústia contínua, depressão, vergonha, medo… Mas, talvez, o mais importante seja o sentimento de não pertencimento, de não se sentir encaixado, de sentir que não existe uma razão clara para acordar de manhã. Então as pessoas acabam se forçando a viver. Aí a vida acaba se tornando um esforço e, para aliviar esse desconforto, muitos acabam se amortecendo com uma série de elementos que são nocivos para a saúde, como o consumismo exagerado, comidas que acabam fazendo mal, drogas e uma série de outras coisas que só amortecem essa angústia existencial gerada por esse desencaixe e essa falta de sentido da vida.

UOL: E o contrário, como é estar em sintonia com seu propósito?

Baba: Talvez o principal aspecto seja essa alegria em acordar de manhã, essa consciência do por que e para que eu acordo de manhã. Eu sinto que saber o motivo de acordar pela manhã faz a diferença completa na vida de um ser humano. Então, assim ele se conecta com uma fonte de entusiasmo e de motivação, ele se sente pertencendo, encaixado. Ele sabe por que ele está naquele lugar e para quê. Essa percepção de estar no lugar certo e na hora certa dá uma satisfação.

UOL: Esse propósito de que você fala tem a ver com a profissão que exercemos?

Baba: Não necessariamente. Eu diria que, na maioria dos casos, está relacionado à profissão, porque este propósito interno precisa, de alguma maneira, se manifestar externamente. E como a gente precisa também sobreviver, então a grande maioria acaba realmente fazendo do seu propósito interno a sua profissão, o seu trabalho no mundo. É uma maneira, inclusive, de ser remunerado e sobreviver deste propósito –o que eu considero que seja o encaixe perfeito, que é quando o propósito interno se manifesta externamente e proporciona à pessoa a remuneração para ela ter aquilo que ela precisa. Mas nem sempre o propósito se manifesta através da profissão. Às vezes, acontece de a gente ser voluntário ou se doar para o mundo, por exemplo. Isso também pode ocorrer.

UOL: E o que você indica para a pessoa que está tentando encontrar o seu propósito?

Baba: Talvez a fase zero deste processo de afinação seja tomar consciência da insatisfação. Então, uma pergunta cabe bem neste momento: “O que eu gostaria que fosse diferente na minha vida, naquilo que estou fazendo no mundo?”. Acho que, a partir daí, a pessoa começa a se mover em direção a essa afinação. Se lembrar dos talentos da infância também vai ajudar. A partir do momento que a pessoa toma consciência da insatisfação, ela vai dar mais um passo, que é buscar algumas referências, alguns sinais de onde ela deveria estar. Aí com certeza ela tem uma referência já na infância, que é quando a criança já sabe o que deve fazer, quando ela ainda traz notícias do propósito. Vale uma pergunta: “O que a criança em mim queria ser quando crescesse?”. Quais eram os sonhos desta criança, quais eram as pessoas que ela admirava e por que ela admirava, quais eram seus heróis. Assim ela vai encontrar uma pista do caminho que talvez tenha se desviado ao longo da vida, por não ter recebido apoio e incentivo adequados para colocar em movimento aquilo que trouxe com ela.

UOL: E como os cuidadores podem ajudar a criança a desvendar o seu talento?

Baba: Esse é um dos grandes desafios para nós neste planeta. Eu diria que é um desafio dos pais e dos educadores, de uma forma geral, e até da nossa classe política, que precisa se conscientizar disso para, assim, reformular o sistema educacional de uma maneira a considerar que a criança já traz com ela uma sabedoria, já traz um mapa de onde ela deseja chegar. E esse lugar é sempre um lugar bom para ela. Mas através deste sistema que temos usado para cuidar e educar, as crianças têm se desviado. Eu sinto que, em primeiro lugar, é preciso compreender que os menores já trazem com eles uma sabedoria, um potencial, e nós precisamos respeitar e acolhê-lo. Precisamos dar força para que esse talento se desenvolva, mas, para isso, precisamos respeitar as crianças como seres sábios e não nos colocando acima e acreditando que sabemos mais do que elas.

UOL: Muitos acreditam que não existe um propósito nesta vida. O que você acha disso?

Baba: Sinto que é preciso ter um propósito para poder dar um sentido para a vida. Então, mesmo um cético precisa, em algum momento, dar um sentido para a vida dele, mesmo que ele não considere que esse propósito seja um programa da alma. Mas ele precisa, de alguma maneira, dar uma direção para a vida dele, para ele ter entusiasmo e alegria. E ele vai buscar isso onde? Dentro dele. Aí é só uma questão de terminologia, se ele vai buscar isso no programa da alma ou se vai buscar no mundo interior, na inspiração, não importa. A questão é que ele precisa dar uma direção para que a vida dele faça sentido. Isso é propósito.

UOL: E a remuneração é um sinal de que você está no seu propósito? Como o dinheiro está ligado a esse assunto?

Baba: Quando você está plenamente afinado com o propósito, naturalmente você entra em sintonia com aquilo que eu chamo do campo da potencialidade pura, que é quando todas as necessidades são atendidas. Você se afina com a prosperidade, com a abundância. E até antes de você perceber essa prosperidade, você entra em sintonia com um sentimento de confiança, você erradica o medo da escassez do seu sistema. Essa é uma das raízes da miséria, sofrimento e perturbação humana: o medo de que vai faltar, de que não vai pagar as contas, de que não vai conseguir comer, de que não vai ter onde morar… Quando você entra em harmonia com o fluxo da vida através do propósito, você começa a confiar que as suas necessidades serão atendidas e elas serão. Eu chamo isso de prosperidade. E prosperidade não significa, necessariamente, ter um tanto de dinheiro guardado na conta, mas é você ter confiança e tranquilidade de que suas necessidades serão atendidas.

UOL: No começo da entrevista, você falou sobre essa crise que tem atingido o Brasil e o mundo. Por que você acha que estamos neste momento?

Baba: Estamos passando por uma transição e toda transição gera turbulência, porque quando a gente visualiza uma coisa nova, temos uma tendência a nos assustar com a mudança e aí voltamos para trás. Nós estamos bem no clímax dessa transição, que é uma transição do medo para a confiança, desse estado de separação e isolamento para a unidade, de viver junto. Então, é curioso, porque os principais aspectos que percebo nessa crise acontecem na economia, bem quando a gente vislumbra uma possibilidade de uma economia diferente, colaborativa, por exemplo. Aí vem essa tendência de voltar para trás. Também tem o Reino Unido que, de repente, deu um passo para trás, querendo sair da União Europeia, no momento que visualizamos derrubar os muros de separação. Na Colômbia, os jovens não foram votar no plebiscito e também deram um passo para trás em um acordo de pacificação que vinha sendo construído há tanto tempo, com tanto esforço. Esses são pequenos exemplos de um susto, por conta de um novo que está chegando, de uma nova forma de viver a vida na Terra. Mas eu sinto que o trânsito está acontecendo, mesmo que estejamos assustados com ele. E eu sinto que essa mudança de cultura é inevitável, nós estamos transitando para uma cultura de paz, mesmo que ainda tenhamos que viver algumas guerras.