Torne-se feliz!

ROTANEWS176 E POR JORNAL  BRASIL SEIKYO 12/12/2020   07:10

CADERNO NOVA REVOLUÇÃO HUMANA

Capítulo “Origem”, volume 29

PARTE 49

Dia 11 de fevereiro — essa era a data do aniversário natalício do venerado mestre, Josei Toda. Se estivesse vivo, ele completaria 79 anos. Agora, Shin’ichi Yamamoto continuava suas viagens pela paz no lugar do seu mestre. Ele sentiu profunda emoção por observar o intenso céu azul da Índia, a terra da origem do budismo, que seu mestre tanto desejava realizar o kosen-rufu. Shin’ichi queria, sinceramente, que Toda sensei tivesse vivido por longo tempo. Mas a vida é limitada. E repetia diversas vezes para ele próprio: “É por isso que o mestre deixou a mim, seu discípulo de unicidade. No lugar do mestre, devo viver e sobreviver para promover o avanço do kosen-rufu da Ásia e do mundo!”. Ele tinha um forte orgulho de ter trilhado plenamente o caminho do discípulo. Assim como aquele límpido céu, não havia o mínimo de arrependimento em seu coração. O espírito de luta do mestre brilhava ardentemente como o sol.

Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustração Editora Brasil Seikyo – BSGI

Na manhã desse dia, Shin’ichi e comitiva viajaram por via aérea rumo a Patna, capital do estado de Bihar. Era uma viagem em que se observava os picos do Himalaia que, cobertos pela neve branca, irradiavam brilhantes raios de luz.

Pouco depois das 11 horas, a comitiva, que desembarcou no aeroporto de Patna, foi recebida por R. N. Sinha, administrador do subdistrito de Patna, do distrito de Patna, e pelos membros do Grupo de Pesquisas Culturais da Índia que haviam vindo antes do Japão, entre outros.

Um jovem indiano de estatura alta estava entre essas pessoas. Era um membro que soube da visita de Shin’ichi a Patna pelo jornal local na manhã daquele dia. Então, preparou um arranjo de flores, colhendo algumas rosas no jardim de sua casa, e dirigiu-se ao aeroporto. Quando o jovem lhe entregou as flores, Shin’ichi trocou forte aperto de mãos, agradecendo profundamente, e conversou com ele por algum tempo. O jovem dizia que, na sua casa, só ele havia se convertido ao budismo. Shin’ichi pediu a um membro japonês da comitiva, residente na Índia, que cuidasse dele, e disse ao jovem:

— No início, tudo começa com uma única pessoa. Você possui a missão de se empenhar na fé, tornar-se feliz e propagar o budismo em Patna.

A partir do ato de incentivar uma única pessoa diante dos seus olhos, dedicando toda a sua alma, abre-se o caminho do kosen-rufu.

PARTE 50

No passado, Patna era a cidade louvada como a capital das flores (Pataliputra). Com paisagem calma, com muito verde, avistavam-se carros de boi, ao som dos sinos, passeando pelas ruas da cidade em meio aos automóveis.

Pouco antes das 16 horas, Shin’ichi visitou a residência de Jayaprakash Narayan. Ele era discípulo de Mahatma Gandhi e estava com 76 anos. Narayan era um líder espiritual da Índia, respeitado e amado pelo povo como “consciência da Índia”.

Na rua de trás de um beco onde havia casas com parede de terra, chegaram a uma residência construída com pedras brancas. Era uma construção mais simples do que se podia imaginar.

Com um olhar gentil por trás dos óculos com armação prateada, Narayan recepcionou Shin’ichi que estava à sua frente. Ele, pessoalmente, colocou um colar de flores amarelas no pescoço de Shin’ichi. Por cima de sua vestimenta marrom, via-se um cachecol. Provavelmente, era o cuidado para não resfriar seu corpo. Sabíamos que sua saúde não andava bem e que frequentava o hospital algumas vezes por semana, convalescendo em sua residência. Apesar disso, ele o recebeu com toda a cordialidade e, ainda, dedicou tempo para diálogo. Shin’ichi estava profundamente emocionado com essa sinceridade de Narayan.

Na época de ensino médio, Narayan participou do movimento de não violência e de desobediência civil, apaixonado pelo ideal da revolução popular. Posteriormente, foi para os Estados Unidos onde aos poucos se inclinou para a ideologia revolucionária de Marx. Movido por um sentimento de reforma social radical, chegou a refutar a luta de não violência de Gandhi, defendendo a revolução armada. Porém, inspirado por Vinoba Bhave, melhor discípulo de Gandhi, acaba voltando ao caminho da revolução pela não violência. Depois de muitas idas e vindas, acabou retornando às origens de Gandhi. A ideologia de Gandhi, que pode ser considerada o grande solo da “consciência”, fez reviver a grande árvore da “consciência” de Narayan.

Após a morte de Gandhi, Narayan sucedeu à ideologia do seu mestre e desenvolveu o movimento Sarvodaya que visa o crescimento das pessoas de todas
as classes.

Por mais que pareça rica, uma sociedade em que por trás há pessoas oprimidas, famintas e sofridas, sua prosperidade não passa de ficção.

A verdadeira prosperidade só acontece quando todas as pessoas desfrutarem, igualmente, a felicidade.

PARTE 51

No encontro, Shin’ichi transmitiu sua intenção do diálogo:

— Vim aqui com o sentimento de ouvir o pensamento do mestre Narayan e apresentá-lo ao mundo para o bem da paz da humanidade.

— “Meu pensamento não é de forma alguma tão grandioso. O que acredito é o pensamento de Shakyamuni que elucidou a verdade para toda a eternidade”.

Essas palavras expressavam claramente qual era a origem espiritual que pulsava na Índia.

Narayan afirmou que conheceu Gandhi, o qual o considera seu mestre, por intermédio de sua falecida esposa:

— Essa construção foi erguida por minha esposa e eu a utilizo para realizar uma educação em que as mulheres possam contribuir para o bem-estar social. Além disso, visando o desenvolvimento das crianças, eu a utilizo também como escola de educação infantil. Na medida do possível, estou me esforçando para herdar a vontade da minha esposa.

A cortina que isolava o local do diálogo era também muito simples. De fato, ele dedicava tudo o que era possível para o bem das pessoas e da sociedade. A verdade ou não de uma crença manifesta-se em meio à situação real, próxima à vida diária.

Ele havia experimentado, por diversas vezes, a vida na prisão. Shin’ichi relatou que aquele era o dia de aniversário natalício do seu mestre, Josei Toda. Citou que o primeiro presidente da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi, havia falecido na prisão devido à opressão do governo militarista. O segundo presidente, Josei Toda, também havia passado dois anos de encarceramento. Então, perguntou a Narayan sobre o que havia aprendido durante o tempo em que ficou no cárcere.

Fixando os olhos em Shin’ichi, ele respondeu:

— Espero que o senhor não passe por isso.

— São palavras gratificantes. Na verdade, eu também, embora por curto período, fui preso injustamente sem ter cometido nenhum crime.

Assentindo com a cabeça, ele pegou um livro que estava sobre a mesa. O título da obra era Diário da Prisão, na qual ele narrava sua vida durante o encarceramento. A primeira edição fora publicada em segredo e, somente mais tarde, o livro foi revelado. Ele o autografou e o entregou a Shin’ichi junto com sua biografia que havia sido escrita por um famoso jornalista indiano. A resposta à pergunta de Shin’ichi deveria estar ali.

PARTE 52

Com voz calma, Narayan começou a relatar:

— Na prisão, cheguei a ser jogado em uma solitária e a sofrer quase uma tortura. Não era permitido encontrar com a família nem trocar cartas. O fato de não ser permitida a troca de cartas, um importante meio para me comunicar com o mundo externo, era terrível.

Essa condição adversa forjou uma determinação indomável como o aço. Nichiren Daishonin afirma em seus escritos: “O ferro, quando aquecido e forjado, torna-se uma excelente espada”.1

O guerreiro idoso era uma pessoa atenciosa nos detalhes. Por diversas vezes ele lhes oferecia doces:

— São doces da Índia feitos em casa. Por favor, sirvam-se. São deliciosos.

Quando Shin’ichi agradecia e continuava a falar, Narayan “protestava”:

— Até agora, o senhor não comeu nada.

— É que agora estamos no meio de uma conversa importante, de pesquisa e de aprendizado.

A essa resposta de Shin’ichi, o homem indomável manifestava um sorriso agradável.

Por ser um homem de forte coração, ele conseguia ser carinhoso com as outras pessoas.

Então, Shin’ichi o consultou sobre suas convicções.

— Elas mudaram ao longo do tempo, mas hoje a ideologia de Gandhi é a minha convicção. Corresponde também aos ensinamentos de Shakyamuni. E pode ser chamada de “ideologia nua”, simbolizada pelo aspecto seminu de Gandhi, vestindo apenas calça curta até os joelhos, e sem mais nada na parte de cima.

Shin’ichi imaginou a profundidade do significado da “ideologia nua”. Não significava armar-se com uma ideologia e muito menos um pensamento para aprisionar o ser humano. Além disso, não era um manto teórico afastado da realidade do ser humano. Pode-se dizer que era uma ideologia que fixando os olhos no ser humano, tal como ele é, se preocupava em como libertar as pessoas da miséria e da infelicidade real, caminhando e sofrendo junto com elas.

Narayan adverte que, aos olhos desse pensamento, o principal problema enfrentado pela sociedade da Índia era a influência nociva do sistema de castas. Ele lamentou profundamente o fato triste de continuar existindo até hoje, no país do Buda, um sistema que discrimina as pessoas pelo seu berço de nascença, afastando-as umas das outras.

O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.

Nota:

  1. CEND, v. I, p. 320.