ROTANEWS176 E POR AH 02/10/2021 12:00 Por Isabela Barreiro
O que começou com uma briga entre detentos durante um jogo de futebol no Pavilhão 9 terminou em mais de 100 mortes
Reprodução/Foto-RN176 Montagem mostrando foto do interior do Carandiru após a chacina (à esq) e foto do pavilhão após demolição anos depois – Wikimedia Commons/ Prefeitura de São Paulo
No dia 2 de outubro de 1992, o Massacre do Carandiru entrava para a história como um dos episódios mais chocantes do Brasil. Uma ação da Polícia Militar após uma rebelião que acontecia na Casa de Detenção foi a responsável por tal tragédia. Acredita-se que pelo menos 111 detentos foram assassinados por policiais naquele dia.
Sob os cuidados de Ramos de Azevedo, o Carandiru foi projetado inicialmente para abrigar 2 mil presos. No entanto, na década de 90, a criminalidade na cidade teve um aumento repentino, o que levou à superlotação do local. No mesmo período, foi considerado o maior presídio da América Latina, abrigando mais de 8 mil detentos.
As condições desumanas em que os eles vivam dentro da prisão culminaram no terrível massacre — rebeliões, estupros, extorsões, mortes, agressões e fugas de sucesso marcaram a história do Carandiru. Estima-se ainda que este episódio tenha feito mais vítimas do que as autoridades divulgaram.
Pensando nisso, veja fatos sobre o brutal episódio.
1. Relato de sobrevivente
Reprodução/Foto-RN176 Manifestação em memória das vítimas do Massacre do Carandiru / Crédito: Wikimedia Commons
“Foi uma carnificina aquele dia, eu comparo o que aconteceu com Auschwitz, Camboja e outras tragédias que eu via só em filme ou livro”, afirmou o ex-detento Sidney Sales, que tinha 24 anos quando a chacina aconteceu, em entrevista ao El País.
“Da forma como fomos surpreendidos pela tropa, qualquer um entrava em pânico. Um helicóptero da polícia deu um rasante atirando sem dó, aí desistimos e voltamos pra dentro. Não tenho mais pesadelos, mas traz uma revolta lembrar disso tudo né? Quem sobreviveu fica revoltado”, confessou o sobrevivente. “Eu sou desacreditado do Estado até hoje”, conclui.
2. Além de assassinatos, tortura
Muitos dos presos foram mortos de maneira instantânea, com tiros certeiros. Mas outros tiveram que lidar com agressões por com cassetetes e coronhadas vindas dos policiais que adentraram a prisão com a intenção de matar.
O único elevador do Carandiru, localizado no pavilhão, também se tornou instrumento de assassinato para os agentes do Estado. De acordo com Sales, “os policiais abriram as portas, e de cada 10 presos que passavam eles empurravam dois ou três no fosso. Imagina, uma queda de cinco andares”.
3. Ajuda dos próprios detentos
Alguns dos detentos, depois da chacina, ainda tiveram que ajudar os policiais a coletarem os corpos dos mortos. Eles tiveram de carregar pessoas mortas, algumas ainda sofrendo devido aos ferimentos e outras claramente vivas para o pátio, onde seriam levados por carros do Instituto Médico Legal.
O depoimento do sobrevivente Sidney Sales também ajuda a entender mais sobre isso.
Um preso pegava os braços e outro as pernas. Carreguei uns 25 corpos. Descíamos eles dos andares e amontoávamos no pátio. A gente tentava ignorar esses gritos dos que ainda viviam. Colocávamos presos mortos em cima deles pra ver se paravam de gemer”, lembra.
4. Proliferação de doenças
O massacre, além de causar a o assassinato de ao menos 111 detentos, também foi responsável por proliferar doenças que já eram causa de muitas mortes dentro do local. O derramamento de sangue intensificou essa disseminação.
Com as execuções, muito sangue foi espalhado pelo chão do Carandiru. O vírus da aids, o HIV, era muito comum entre os presos, e, com o líquido vermelho sendo derramado pelo local, muitos o adquiriram com facilidade.
5. Atualmente
Estima-se que este episódio tenha feito ainda mais vítimas do que as autoridades divulgaram. Em 2002, durante o governo de Geraldo Alckmin, iniciou-se o processo de desativação do Carandiru. Atualmente, o local abriga instituições educacionais e de cultura, como o Parque da Juventude e a Biblioteca de São Paulo.
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