ROTANEWS176 12/08/2023 13:05 VIDA – PRÍNCIPIOS BUDISMO NO A DIA DIRETO DA REDAÇÃO DO JBS
Esta série traz conceitos básicos do Budismo de Nichiren Daishonin aplicados na realidade diária. Nesta edição, o tema é: Transformar carma em missão.
Reprodução/Foto-RN176 Foto de ilustração da matéria
Um provérbio chinês de autoria desconhecida diz: “O pessimista reclama do vento, o otimista espera que ele mude, o realista ajusta as velas”.1 Na vida, todos nós nos deparamos com dificuldades e sofrimentos. Então, como devemos lidar com eles?
A profundidade da doutrina de uma religião deve ser medida pelo princípio de transformação do carma. O Budismo Nichiren é o ensinamento que expõe claramente essa teoria.
O que é carma? Todas as pessoas enfrentam adversidades como doenças, acidentes ou desarmonia familiar. O budismo explica que o carma é determinado pelas ações físicas, verbais e mentais realizadas pelo indivíduo. Ou seja, os sofrimentos vividos nesta vida são efeitos das causas negativas praticadas pela própria pessoa em existências passadas. Em resumo, o indivíduo é responsável pela própria felicidade ou infelicidade.
Mas se sua vida é predeterminada pela própria ação do passado, não é melhor se conformar? Alguns agem assim, outros se tornam pessimistas.
Os ensinamentos pré-Sutra do Lótus elucidaram apenas a teoria do carma do passado e não expuseram que a ação do presente determina o futuro. Assim, o indivíduo ficaria preso apenas ao carma imutável do passado.
Nichiren Daishonin negou essa teoria e elucidou que todos, sem exceção, podem transformar o carma nesta existência, revertendo a vida de sofrimentos em felicidade. Ele esclarece também o poder da Lei Mística que transforma o carma. Quando abraçamos a Lei, manifestamos o estado de buda por meio da recitação do Nam-myoho-renge-kyo. Com o poder do Buda evidenciado em nossa vida, infalivelmente transformamos o nosso carma. Por isso, não devemos nos desviar ou fugir dele. Em vez disso, devemos encará-lo e desafiar todas as adversidades.
Nichiren Daishonin expõe ainda que, com a prática budista, não somente transformamos nosso carma, como podemos ajudar outras pessoas a transformá-lo também por meio do shakubuku, ou seja, apresentando-lhes esta filosofia.
O presidente da Soka Gakkai Internacional, Dr. Daisaku Ikeda, afirma:
Se tudo se restringisse ao carma, as pessoas estariam fadadas a viver carregando o peso da culpa e sob uma forte ansiedade por não saberem que ofensas teriam cometido em existências passadas. Nesse sentido, o destino das pessoas seria algo determinado, imutável — um pensamento que facilmente poderia lhes privar de sua energia e paixão. Poderia também levá-las à passividade, a se preocuparem apenas consigo mesmas e em não fazerem nada de mal.
O Budismo de Nichiren Daishonin vai além dessa noção superficial de causalidade. Elucida a causa fundamental e nos mostra o meio para voltarmos à vida original, pura, que existe desde o tempo sem início. Essa causa fundamental nos faz despertar para a nossa missão como bodisatvas da terra, a dedicar a nossa vida à ampla propagação da Lei.2
Com a prática da fé, podemos transformar o carma negativo em missão e converter o negativo em positivo, o sofrimento em felicidade. Comprovar o poder da Lei Mística em nossa vida e propagá-la — eis a nossa missão como bodisatvas da terra.
Histórias de comprovação
O romance Nova Revolução Humana, de autoria do presidente Ikeda, está repleto de episódios que narram como membros da Soka Gakkai no Japão e em diversos países suplantaram os sofrimentos gerados pelo carma negativo e mudaram o rumo de sua vida por meio da prática budista. Brasil Seikyo selecionou cinco dessas histórias.
- Shin’ichi Yamamoto [pseudônimo de Ikeda senseina obra] incentiva um líder de comunidade do Japão que estava enfrentando sérias dificuldades financeiras e lutava para sustentar seus seis filhos. (NRH, v. 27, cap. “Espírito de Procura”, p. 366)
- Masaya Ueno era membro da Divisão Masculina de Jovens e, quando estava no terceiro ano do ensino médio, foi acometido pela tuberculose, que, na época, era uma doença incurável e fatal. (NRH,v. 9, cap. “Jovens Herdeiros”, p. 87)
- Por causa das dificuldades no trabalho e o vício do jogo, Choji Horiyama leva a família ao sofrimento. Veja como ele e sua esposa, Chie, transformaram a situação. (NRH, v. 26, cap. “Estrela Guia”, p. 106)
- Apesar de Taikyu Kawase ter sofrido de uma doença que lhe causou a perda gradativa da capacidade visual, ele não esmoreceu. (NRH, v. 10, cap. “Coroa de Louros”, p. 214)
- Conheça a história de Yoshimi Tachikawa, integrante da Divisão Feminina de Jovens e da banda feminina Kotekitai, que enfrentou questões financeiras e de saúde dos familiares. (NRH, v. 14, cap. “Missão”, p. 100)
Triunfar sobre o destino
Sarahanna Costa de Sousa nasceu em 22 de julho de 1996, em São Luís, Maranhão, região nordeste do país. A caçula chegou para a alegria dos pais, José Sandro e Dorinei, que já tinham Sarahwendy, Saimon Sandro e José Sander. “Todos com a boa sorte de ouvirem o som da recitação do Nam-myoho-renge-kyo no meu ventre”, orgulha-se Dorinei, que conhecera o Budismo Nichiren sete anos antes.
Reprodução/Foto-RN176 Com as companheiros do grupo Taiga – Foto: GETTY IMAGES
Até os primeiros quinze dias de vida, tudo parecia normal com a bebê, quando foram percebendo o aumento gradual da cabeça de Sarahanna. Começa o desafio pela vida, inclusive com um diagnóstico de que ela não passaria do primeiro ano de vida. “Diante daquela situação, meu marido e eu determinamos que ela sobreviveria sim, com base no poder da recitação do daimoku”, relembra, emocionada, Dorinei. Encontram uma médica que identifica se tratar de hidrocefalia moderada e dependeria de cirurgia e muito tratamento. Sinal de que havia luz no fim do túnel, ainda bem fraca por conta de nova suspeita de ananismo e de fortes indicações de que se a garota sobrevivesse, poucas seriam as chances de ela andar, ler e falar. O casal se dedica a levar a bebê a seções de fisioterapia, a fazer exames e a tudo o que lhes fosse indicado para tentar salvar a filha. Internações eram constantes.
“Não seremos derrotados.” Essa era a convicção dos pais, os quais tinham como base a frase da escritura do Buda que diz: “O Nam-myoho-renge-kyo é como o rugido de um leão. Que doença pode, portanto, ser um obstáculo?”4
A boa sorte se manifesta ao localizarem o melhor neurocirurgião da cidade, o qual fez uma incisão para a colocar uma válvula que controlaria a expansão da cabeça. A garota estava prestes a completar seu primeiro ano, com um cérebro de tamanho proporcional ao de um adulto. Intensifica-se o trabalho de reabilitação, sem garantias do que ocorreria depois.
“Não há nada que possa acalmar mais o coração do que recitar Nam-myoho-renge-kyo”, enfatiza Dorinei, que, junto com o marido e os filhos maiores, carregando a pequena Sarahanna nos braços, não perdia os encontros de recitação de dez horas de daimoku programados pela organização local. E muita luta na base. “Não havia dúvida em nosso coração”, ressalta o pai, José Sandro.
“Amo ser budista”
O tempo foi recompensado pela árdua batalha da família. Quatro anos após o diagnóstico, Sarahanna dava os primeiros passos, depois começa a falar, e assim veio se desenvolvendo. Em julho último, ela completou 27 anos. Leva uma vida normal, com as limitações abrandadas por sua dedicação e desejo de servir de inspiração para crianças e jovens. Ela passa por consultas esporádicas com o médico. Não cursou o ensino regular, mas é expert em computador e videogame, exercícios que a ajudam muito. Fala pouco, por opção, sendo reconhecida pelas amigas por seu carinhoso olhar e zelo em tudo o que faz. Formou-se na Academia Magia da Leitura, em 2019, e, pelo exemplo de superação e esforço, é confiada na organização local como responsável pela Divisão Feminina de Jovens (DFJ) de bloco. Anda e ainda dança, sim, abraçada como integrante do grupo Taiga. Uma presença símbolo de obstinação para todos os que a veem.
Sarahanna é só gratidão. “Amo ser budista, amo meus companheiros, e Ikeda sensei. E amo muito minha família.” Os irmãos, exemplos de companheirismo, estão juntos também como membros e na liderança jovem local: Sarahwendy, 32 anos, é responsável pela DFJ de distrito; Saimon Sandro, 32, é responsável pela DMJ de bloco; José Sander, 29, é membro. O pai é responsável pela comunidade, e a mãe, pela DF de distrito. Eles manifestam: “É uma alegria acordar e ver que Sarahanna vive uma juventude saudável e feliz. Determinamos seguir pelo caminho do kosen-rufu, com muita gratidão. Agradecemos a Ikeda sensei, por nos proporcionar praticar este maravilhoso budismo”.
Reprodução/Foto-RN176 Sarahanna, ao centro, comemora aniversário com seus familiares – Foto: GETTY IMAGES
Saiba mais:
Leia mais sobre a teoria do carma e os conceitos de “amenizar o efeito cármico” (tenju kyoju) e “carma adotado por desejo próprio” (ganken ogo) na seção Conheça o Budismo do Brasil Seikyo, ed. 2.636, 10 jun. 2023, p. 21.
“Reconhecer a impermanência como requisito para a felicidade” é o tema do Especial da revista Terceira Civilização (ed. 471, nov. 2007), que relaciona o carma e nossa visão sobre os fenômenos ao nosso redor.
Ouça podcast sobre o carma e a transformação do destino na seção Conheça o Budismo do BS+.
Fotos: GETTY IMAGES / Arquivo pessoal
Notas:
- Disponível em: https://www.pensador.com/frase/MTY5NDU0/Acesso em: 3 ago. 2023.
- IKEDA, Daisaku. Desbravadores. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 1, p. 240, 2019.
- Brasil Seikyo, ed. 2.454, 2 fev. 2019, p. B4.
- IKEDA, Daisaku. Estandarte da Lei. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 26, p. 92, 2019.
FONTE: JORNAL BRASIL SEIKYO