ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 25/06/2022 10:59 ESPECIAL / REDAÇÃO
Os três primeiros presidentes da Soka Gakkai — Tsunesaburo Makiguchi, Josei Toda e Daisaku Ikeda — protegeram o budismo e o direito das pessoas à felicidade, mesmo em face da prisão deles e do ataque das maldades
Reprodução/Foto-RN176 Ilustração retrata a luta dos Três Mestres Soka [Josei Toda, acima à esq., Tsunesaburo Makiguchi, acima à dir., e Daisaku Ikeda, ao centro] contra as maldades e a opressão Dr. Daisaku Ikeda, fundador da Universidade Soka. Dr. Daisaku Ikeda. Ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Fonte Editora Brasil Seikyo – BSGI
Em 1940, passou a vigorar a Lei dos Grupos Religiosos em todo o Japão, num esforço do governo para unificar a nação durante a Segunda Guerra Mundial. E no ano seguinte, houve a revisão da Lei de Manutenção da Ordem Pública, a qual tinha como objetivo principal a opressão sobre o pensamento e a religião. Sendo assim, ser contra o talismã xintoísta se tornou motivo de prisão, pois o xintoísmo era a base espiritual do Japão militarista.
Os detetives da polícia especial vigiavam a Soka Gakkai e, em 1943, todas as reuniões estavam sob os olhares deles. Além disso, o clero estava envolvido. Em torno dos militares e da seita Minobu, juntaram-se para implantar a unificação dos grupos religiosos.
Em junho daquele ano, o clero aceitou passivamente o talismã xintoísta. No mesmo mês, Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda foram chamados ao templo Taiseki-ji, sendo orientados a seguir as ordens do governo.
O presidente Makiguchi ergueu a cabeça e disse: “Nunca nos inclinaremos ante a Deusa do Sol”. Com essas palavras, ele e Josei Toda saíram do templo. No caminho de volta, bastante indignado com o comportamento do clero, Makiguchi sensei disse: “Não temo a queda de uma religião tanto quanto temo a destruição da nação. Temo a tristeza que isso causaria a Nichiren Daishonin. Não está na hora de admoestar o governo? Do que o clero tem medo? O que acha disso?”.
Toda sensei ficou em silêncio, não sabia o que responder. Um pouco mais calmo, seu mestre perguntou novamente: “O que acha disso?”. Com a voz baixa, mas forte, Josei Toda fez seu juramento ao mestre: “Enquanto eu viver, seguirei o senhor fielmente. Estou pronto para morrer por nossa fé”.1
Na manhã do dia 6 de julho, o presidente Makiguchi foi detido em Shizuoka, onde se dedicava à propagação do budismo (shakubuku). Ao se despedir da senhora que o acompanhava, confiou-lhe uma mensagem: “Transmita minhas recomendações a Josei Toda”. Porém, Toda sensei também havia sido preso no mesmo dia, em Tóquio. As acusações que caíram sobre eles foram: violação da Lei da Manutenção da Ordem Pública e suspeita de desrespeito ao santuário xintoísta.
No dia 11 de outubro, cerca de duas semanas após o presidente Tsunesaburo Makiguchi ser transferido para o Centro de Detenção de Tóquio, Josei Toda também foi levado para a solitária desse local. Pouco mais de um ano depois, em 18 de novembro de 1944, Makiguchi sensei faleceu na prisão. Toda sensei só soube do falecimento do seu mestre em 8 de do ano seguinte.
Em junho de 1945, Josei Toda foi transferido do Centro de Detenção de Tóquio para o Presídio de Toyotama. Dali, foi libertado às 19 horas do dia 3 de julho do mesmo ano, semanas antes da rendição do Japão.
Após a sua libertação da prisão e com o objetivo de honrar a vida do seu mestre, Josei Toda deu início à reconstrução da Soka Gakkai. Em 3 de maio de 1951, assume como segundo presidente da organização e sua liderança é marcada pela luta da reconstrução e pelo fortalecimento da Soka Gakkai. No ano seguinte, a denominação Soka Kyoiku Gakkai [Sociedade Educacional de Criação de Valor] foi alterada para Soka Gakkai [Sociedade de Criação de Valor]. Toda sensei dizia: “A Soka Gakkai é mais preciosa do que minha própria vida”.
Nesse ínterim, em 24 de agosto de 1947, o jovem Daisaku Ikeda conhece a filosofia do Budismo Nichiren e decide ser treinado por Josei Toda, fazendo assim o juramento de acompanhar seu mestre por toda a vida. Sobre a relação de mestre e discípulo, o presidente Ikeda frisa:
Agi totalmente de acordo com a intenção do Buda. Nunca tive a ambição de me tornar isto ou aquilo nem de receber nenhum tipo de tratamento especial. Tudo o que queria era proteger Toda sensei e devotar-lhe minha vida. Esta era minha oração. Ficaria satisfeito se pudesse deixar um exemplo para as gerações futuras de como um verdadeiro discípulo de Josei Toda, um mestre sem igual, deveria conduzir sua vida.2
Comprovar a verdade
Com a grande expansão das conversões no Distrito Osaka e em todo o Japão, muitos inimigos se levantaram contra a Soka Gakkai. Em 1957, Daisaku Ikeda foi para Hokkaido a fim de solucionar o Incidente do Sindicato dos Mineradores de Yubari, que promovia uma perseguição discriminatória contra os membros da organização. O fato culminou com o Incidente de Osaka, quando, em 3 de julho de 1957, Ikeda sensei, com menos de 30 anos, foi preso injustamente sob a falsa acusação de fraude eleitoral.
Ao ser recepcionado no aeroporto, o presidente Ikeda disse para uma senhora que estava no local: “Está tudo bem. Como a senhora sabe, eu não fiz nada de errado. Não há com o que se preocupar”.3
Ele também comenta: “Doze anos mais tarde, em 3 de julho de 1957, eu, seu discípulo, segui orgulhosamente seus passos: fui preso por um crime que não cometi — uma perseguição enfrentada por propagar a Lei Mística”.4
Durante a prisão, Ikeda sensei passou por diversos interrogatórios. Em 9 de julho de 1957, por exemplo, a promotoria pressionou ainda mais para que admitisse a culpa. Repetidas intimidações foram feitas durante os intermináveis interrogatórios.
A promotoria exigia que o jovem Ikeda admitisse a culpa com chantagens e ameaças a ele e a seu mestre. Ele pensou:
Reprodução/Foto-RN176 Após sair da prisão, jovem participa de um encontro com os membros da Soka Gakkai no auditório do Centro de Nakanoshima, reconfirmando sua decisão de vencer o desafio diante das provações – Foto: Seikyo press
A saúde do mestre é frágil. Não posso deixar Toda sensei morrer na prisão como aconteceu ao presidente Makiguchi. Não permitirei que ele seja preso! Devo minha vida a ele. Não importa o que aconteça, vou protegê-lo! Isso significaria descartar a verdade e mentir conforme o desejo do promotor. Não estaria desonrando conscientemente a estimada Soka Gakkai?5
O jovem Daisaku Ikeda saiu da prisão no dia 17 de julho de 1957. Foram catorze dias em que sofreu pesados e intermináveis interrogatórios e, ao afirmarem que prenderiam o presidente Josei Toda caso ele não confessasse o crime eleitoral, assinou uma confissão porque jamais deixaria seu mestre retornar injustamente para a prisão. Porém, determinou que faria justiça e provaria a verdade.
Naquela tarde, os membros de Kansai fizeram uma grande manifestação com protestos contra a polícia e a promotoria de Osaka. Apesar do temporal que caía sem tréguas, milhares de membros se reuniram no Centro Cívico de Nakanoshima e no entorno, no centro de Osaka. Na ocasião, o presidente Ikeda bradou corajosamente: “Vamos lutar com a convicção de que a justiça do budismo prevalecerá no final!”.
Batalha conjunta
A primeira audiência no Tribunal de Osaka ocorreu em 8 de outubro de 1957. No total, 64 pessoas foram indiciadas no caso, formando dois grupos: um acusado de compra de votos, e o outro de solicitação de votos de porta em porta.
Reprodução/Foto-RN176 Antes da partida da Sede Central de Kansai rumo ao Tribunal de Osaka, presidente Ikeda agradece incentivos dos companheiros na manhã do dia de janeiro de 1962 – Foto: Seikyo press
Dos dez artigos de acusação relacionados no julgamento, Daisaku Ikeda foi acusado por todos os relacionados à solicitação de votos de porta em porta, e o diretor-geral da Soka Gakkai, Tadashi Koizumi, à compra de votos.
Em 5 de março de 1958, Ikeda sensei foi ao encontro do presidente Josei Toda, para lhe informar sobre a viagem para Osaka, a fim de se apresentar ao julgamento. Acamado, Toda sensei descobriu o cobertor, e lhe disse:
Daisaku, você está exausto, não está? Como está sua saúde? Você tem uma longa batalha pela frente. Gostaria de tomar seu lugar se pudesse. Você arcou com toda a culpa. É realmente uma pessoa de bom coração. (…) Este julgamento não será uma batalha fácil. Poderá perturbá-lo por mais algum tempo pela frente. Porém, você vencerá no final. Pelo fato de o ouro ser ouro, jamais perde seu brilho, não importa quão enlameado possa estar. Definitivamente, a verdade aparecerá. Apenas lute como homem — com dignidade e coragem.6
Em 2 de abril daquele ano, o presidente Josei Toda falece e, em meio a esse turbilhão, as audiências prosseguiam. Mais que nunca, o juramento do presidente Ikeda permanecia intacto.
Reprodução/Foto-RN176 Presidente Ikeda è recebido calorosamente por vários membros de Kansai na saída da Casa de Detenção de Osaka, em julho de 1957 – Foto Seikyo press
Depois de 1.670 dias após a prisão, em 25 de janeiro de 1962, o juiz proferiu sua decisão: “A corte declara o réu, Daisaku Ikeda, inocente”.
Durante a viagem ao exterior, no Egito, o presidente Ikeda recebe o telegrama da sede da Soka Gakkai, informando que não houve apelação dos promotores, indicando a finalização do processo.
Ikeda sensei comenta:
O espírito da Soka Gakkai e o espírito de mestre e discípulo continuam pulsando na firme decisão de combater o mal e a injustiça. (…) O laço de mestre e discípulo é o mais solene e profundo. Quando ambos tiverem o mesmo sentimento, não haverá nada que esteja fora de seu alcance. Eles vencerão sem falta.7
No topo: Ilustração retrata a luta dos Três Mestres Soka [Josei Toda, acima à esq., Tsunesaburo Makiguchi, acima à dir., e Daisaku Ikeda, ao centro] contra as maldades e a opressão
Fonte:
Brasil Seikyo, ed. 2.521, 27 jun. 2020, p. 8 e 9.
Ilustração: Kenichiro Uchida
Fotos: Seikyo Press
Leia mais
Na série “A Luta dos Três Mestres na Prisão”, publicada na revista Terceira Civilização, edições de julho a novembro de 2012.
Notas:
- Terceira Civilização, ed. 527, jul. 2012, p. 30.
- Brasil Seikyo, ed. 1.947, 12 jul. 2008, p. A2.
- Terceira Civilização, ed. 529, set. 2012, p. 36.
- RDez, ed. 79, jul. 2008, p. 19.
- Terceira Civilização, ed. 530, out. 2012, p. 30.
- O julgamento. Revolução Humana. In: Terceira Civilização, ed. 289, set. 1992, p. 2 e ed. 531, nov. 2012, p. 32.
- Terceira Civilização, ed. 384, ago. 2000, p. 31-34.