ROTANEWS176 E ISTOÉ 13/04/17 19h30
As principais lideranças petistas ou estão presas ou sob investigação. Entre os 98 citados na lista de Edson Fachin, nomes ligados ao ex-presidente Lula ganham destaque e comprovam que o PT se transformou em uma escola de corrupção
Reprodução/Foto-RN176 JOSÉ DIRCEU (PT/SP) Ex-ministro chefe da Casa Civil (2003-2005) Acusação: A Odebrecht pagou R$ 350 mil em espécie quando ele já não estava mais no governo, e outros R$ 500 mil para seu filho, o deputado federal Zeca Dirceu (PT-SP) Defesa:O advogado disse que só irá se manifestar após conhecer o teor da acusação
O Partido dos Trabalhadores está no epicentro da lista do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, que autorizou a abertura de inquérito contra 98 políticos citados nas delações da Odebrecht. Ao PT cabe o papel de protagonista do esquema de corrupção envolvendo contratos da empreiteira com o governo. Com a divulgação da lista, a legenda perde, de uma vez por todas, a chance de reconstruir sua imagem diante de um Brasil destroçado sistematicamente nos últimos 13 anos, período em que os petistas desfrutaram das benesses do poder e dilapidaram o patrimônio público em três mandatos completos e um interrompido.
A lista de Fachin vem para comprovar o que já era sabido: os líderes do PT arquitetaram o mais amplo e devastador projeto de corrupção que se conhece, uma roubalheira que levou o País a mergulhar numa crise econômica sem precedentes. “O lulopetismo representa a maior tragédia da história do Brasil”, diz o historiador e escritor Marco Antonio Villa. “O PT será lembrado para sempre pelo legado que deixa, de autor do projeto criminoso de poder que destruiu a estrutura do Estado brasileiro e da ética republicana”.
PROMISCUIDADE
Além dos ex-presidentes e chefes da quadrilha Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, petistas como o ex-ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, já preso pelo processo do mensalão, o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, o ex-ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, os senadores Lindbergh Farias e Humberto Costa,a senadora Gleisi Hoffmann, pré-candidata à presidência do PT, e os deputados Vincentinho, Marco Maia, Maria do Rosário e Arlindo Chinaglia são alguns dos mencionados (leia quadro). Todos são acusados de ter participado de esquemas de corrupção, caixa dois, compra de votos, troca de favores e outras ações ilícitas. “O PT amplificou um sistema de promiscuidade com empresariado e isso tudo terminou contaminando o conjunto das obras partidárias que fez”, diz o cientista político José Lavareda. “Ou seja, o Brasil terá como lembrança do período petista os fatos revelados para a sociedade pela operação Lava Jato”.
Junto com o projeto de poder do PT que faliu o Brasil ao lotear cargos públicos, saquear estatais em bilhões de reais e instaurar uma profunda crise, faliu também o Partido dos Trabalhadores. Nas últimas eleições municipais, o resultado dos escândalos foi visto claramente nas urnas: passou de terceiro partido com mais cidades sob a sua gestão para o décimo, ao eleger apenas 256 prefeitos em todo o Brasil — em 2012, 630 prefeituras eram comandadas pelo PT, um encolhimento de 60%. “Muito provavelmente o PT não vai ter mais a influência que um dia teve no Brasil. O partido virou um cadáver difícil de ser administrado politicamente, um estorvo, uma herança que ninguém quer lembrar”, diz Vila. “Não dá mais para usar o Bolsa Família para ganhar votos, o PT virou o partido do petrolão”, completa.
Reprodução/Foto-RN176 CANDIDATA Gleisi Hoffmann: senadora pode se tornar a nova presidente do PT
“O que a lista do Fachin efetivamente demonstra é que temos um problema sistêmico no Brasil, no funcionamento da democracia brasileira”, diz o cientista político e professor do Departamento de Gestão Pública Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), Cláudio Gonçalves Couto. “A corrupção se tornou democrática, uma vez que atinge a todos de maneira similar”.
Além da urgência de mudanças que retirem o Brasil dessa zona nebulosa, a saída de cena desses políticos corruptos pode proporcionar benefícios duradouros. “É muito bom tudo o que está acontecendo a partir da Lava Jato. Esses políticos fazem mal, desqualificam e desmoralizam a política e ao desmoralizar a política você desmoraliza a democracia”, diz o historiador Marco Antonio Vila. Se a lei 9096/95 de organização dos partidos políticos fosse respeitada, o PT já estaria extinto, uma vez que a prestação equivocada de contas junto à Justiça Eleitoral leva à perda do registro partidário.
Enquanto isso não ocorre, a capacidade da militância petista de convencer os eleitores será testado, mais uma vez, nas próximas eleições. Em 2016, as urnas confirmaram que o Partido dos Trabalhadores já vivia uma grave crise de renovação. De lá para cá, a situação só tem piorado. “Até porque parte significativa de seus líderes ou estão presos ou estão inelegíveis”, diz o cientista político Lavareda. Hoje, o PT está muito longe de representar a esperança que lavaria o País a um ciclo de prosperidade com justiça social. Hoje, o que ele simboliza é a cara da corrupção, exemplo máximo de como o objetivo de manutenção de poder e de riqueza pode ser inescrupuloso, mesquinho e criminoso.
Delação de Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos, ex-presidente da Odebrecht Ambiental, sobre José Dirceu
“Pagamos porque não queríamos ter o Zé Dirceu como inimigo”
“Identificamos pagamentos de R$ 350 mil, a pedido do José Dirceu.
Também doamos R$ 250 mil, em 2010, e R$ 250 mil, em 2014.
Nós doamos, a pedido dele, para as duas campanhas a deputado federal do filho dele, o Zeca Dirceu, com caixa dois. Esse apoiamos sem conhecer. Não acredito que nenhum executivo ligado a mim tenha conhecido o filho dele.
Com o apoio, o que a gente buscava era não ter o Zé Dirceu como inimigo. Apoiar o filho dele era, basicamente, não tê-lo
como inimigo.
Ele, mesmo fora do governo, ainda tinha muita influência na máquina. Tinha seus tentáculos na máquina. Ele tinha muita penetração nos Estados, em algumas prefeituras, na própria Presidência da República”.