Uma grande jogada para a vitória

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 30/01/2021 17:20                                                       

RELATO

Determinação e alegria são palavras-chave para Niccolas que cria uma trajetória inspiradora

 

Reprodução/Foto-RN176 Niccolas Airy Jones Silva, Responsável pela Divisão Masculina de Jovens do Bloco Uberaba, RM Itaquaquecetuba, Sub. Ayrton Senna, CGSP, CGESP.

Niccolas Airy é, sem dúvida, um jovem cativante. Extrovertido, torna qualquer conversa uma troca produtiva. Seja para relembrar os episódios alegres da infância — vivida em Itaquaquecetuba, Região Metropolitana de São Paulo —, seja para refletir sobre os desafios ou compartilhar seus sonhos, aos 17 anos, ele se expressa com sinceridade e confiança de quem tem uma jornada inteira pela frente; o mundo todo para conquistar. “Sou apaixonado pelo basquete. Quero estudar sobre esportes, viajar para fora do Brasil. Desejo estudar fora também. Tenho pesquisado sobre os cursos na Universidade Soka. Sabe, eu me sinto como um pop star aqui nesta entrevista falando sobre os meus sonhos” (risos).

Ele, que contou relato na última Reunião Nacional de Líderes da BSGI, em novembro do ano passado, diz que os direcionamentos recebidos na organização são a base para se aprimorar e vencer qualquer desafio.

O contato com a Soka Gakkai vem de longa data. A mãe, Lusmar, enfermeira, iniciou a prática budista em 1985, aos 23 anos. “Havia passado por uma fase conturbada e até mesmo atentei contra a própria vida. Fiquei em coma e quando saí do hospital estava decidida a mudar minha história. Voltei a estudar e, por intermédio de uma amiga da escola, iniciei a prática budista. Foi como enxergar a luz no fim do túnel. Nunca mais parei de praticar”, relembra a mãe.

E assim, Lusmar já havia ingressado na Divisão Feminina quando deu à luz a filha Taine, fruto do primeiro relacionamento, ao passo em que Niccolas nasce em 2003. “Eu havia me separado há algum tempo e conheci o pai dele, Nilton, em meio às atividades da BSGI. Ele se tornou um grande companheiro, sendo um pai amoroso e presente, além de uma pessoa de grande valor para o kosen-rufu. Acumulamos muita boa sorte nessa fase. Niccolas nasceu em 2 de outubro, Dia da Paz Mundial na Soka Gakkai, como um garoto de preciosa missão; e o segundo nome Airy (‘grande árvore’) foi uma sugestão de Ikeda sensei. Muitas vezes, ele teve a proteção do daimoku”, ela complementa.

Reprodução/Foto-RN176 Niccolas com a mãe, Lusmar; o pai, Nilton; a irmã, Taine; e o sobrinho, Pedro

“Hoje, toda a nossa família pratica o budismo. Meus pais são um exemplo para mim e me proporcionaram uma infância feliz. Só tenho boas lembranças. Sempre acompanhava minha mãe nas visitas à Sede da Divisão Feminina ou ao Centro Cultural Campestre, em Itapevi, SP. Também participava das atividades da Divisão dos Estudantes (DE). Certa vez, tropecei e caí no palco numa apresentação de dança. Fiquei com muita vergonha, porém eu me levantei e improvisei a coreografia. Naquele dia, aprendi o significado de cair e se reerguer novamente” (risos), recorda Niccolas.

Ele continua: “Mas acho que tive a primeira comprovação da prática budista na fase em que meu pai, porteiro, trabalhava longe de casa, num local em que aconteciam muitos assaltos. Seguindo a recomendação de uma integrante da DF, recitei daimoku para que ele conseguisse um emprego melhor e perto de casa. Uma semana depois, foi convidado para trabalhar numa empresa que fica a cinco minutos de distância da residência, onde está até hoje. Fiquei felizão”.

Evidenciar a coragem

A cada vitória, Niccolas se sente mais confiante e, inspirado pelos incentivos do presidente Ikeda, se encoraja a viver diversos sonhos. “Eu gostava de desenhar e por um bom tempo me dediquei a isso. Aí a gente cresce e vai distinguindo o que é hobby e o que pode ser um sonho (risos). Como típico brasileiro que gosta de esportes, decidi jogar futebol e me empenhei bastante até que sofri uma lesão e passei por uma cirurgia. Ao me recuperar, comecei a me interessar pelo basquete. Daí em diante, eu respirava basquete. Treinava todos os dias, assistia aos jogos, lia sobre o assunto na internet. Só falava disso”, conta.

É nessa fase que também ingressa no Sokahan [grupo de bastidores da Divisão Masculina de Jovens (DMJ)]. “Fiquei inspirado pela luta dos bastidores e pela postura do meu cunhado, que era integrante do grupo. E apesar de ter entrado sem saber muito bem o que era o Sokahan, fui me aprimorando a cada dia. Esse grupo é incrível, muito especial para mim.”

Em paralelo, em 2018, assume a liderança da Divisão Masculina de Jovens num bloco da localidade, revelando-se um jovem líder solícito e dedicado. “Isso reflete em meu comportamento na sociedade, com meus amigos do basquete, na escola. Com essa bagagem na organização, mais as experiências do Sokahan, aprendi a tomar a iniciativa de resolver qualquer questão”, explica.

Reprodução/Foto-RN176 Niccolas com os amigos do basquete

Ele revela que esse preparo foi fundamental quando passou pelo momento mais desafiador de sua vida; algo que jamais imaginou. Isso porque, Niccolas é um dos alunos sobreviventes do atentado à mão armada por parte de dois jovens que aconteceu na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, SP, em março de 2019. Oito pessoas foram mortas e a notícia repercutiu em todos os veículos de comunicação do Brasil e de outros países. “Esse dia amanheceu bonito, com o céu alaranjado. Eu me lembro que não queria ir para a escola, mas acabei mudando de ideia. Entre os amigos, estávamos muito felizes, rindo, falando sobre músicas. Na hora do intervalo, enquanto tomávamos o lanche, escutamos os primeiros barulhos dos tiros. De repente, era como se estivéssemos num terremoto, com todos correndo e gritando, tentando se salvar. Acabei me separando dos meus amigos ao correr para a cozinha, onde entraram também cerca de cinquenta pessoas. Pedi para que todos se deitassem no chão e ficassem em silêncio, e fechamos a porta. A cada novo disparo, eu ficava angustiado, mas em meu coração tinha a forte convicção de que todos ali ficariam bem. Abracei dois alunos para tranquilizá-los e recitei daimoku durante aqueles minutos que pareciam não ter fim. A tensão terminou quando os policiais entraram no local e nos tiraram dali. O cenário lá fora era assustador e dois dos meus amigos infelizmente foram mortos. Tive uma crise de choro, fiquei em estado de choque.”

Niccolas retoma o fôlego, e continua: “Pouco tempo depois, reencontrei minha família. Senti a proteção da prática budista e das orações deles, senti-me seguro. Em casa, ao recitar daimoku, recobrei as forças para seguir adiante, ciente da minha missão. E isso começou naquele mesmo dia, quando decidi atuar pelo Sokahan em uma atividade da minha localidade no fim da tarde. Olha, essa foi a melhor coisa que poderia ter feito! E digo: sempre que você se sentir triste vá ao encontro das pessoas, dos amigos da Gakkai. Não há como não se sentir aliviado”, conta ele.

“Nesse momento, conhecemos a verdadeira força do Niccolas, que demonstrou forte senso de missão. Estava com o coração apertado, mas agradecida, pois ele estava conosco de volta. Quanta gratidão!”, relata a mãe, emocionada.

Voltar a sonhar

Com maturidade, Niccolas reflete: “Tudo acontece por uma razão”. E a etapa que vem a seguir é de grande avanço para ele: “Vivi a melhor fase da minha vida! Fiquei mais confiante e procurei dar um significado para tudo o que passei. E sinto que incentivei meus amigos. Eles me vêm como uma pessoa que está sempre feliz e que tem esperança. Isso é motivador. Faz-me lembrar do juramento do Sokahan, ‘Seja o farol de coragem e sabedoria a iluminar o eterno caminho do kosen-rufu’”.1

Então, continua: “Como aprendemos no budismo, quando algo ruim acontece é porque estamos perto de uma grande vitória. Assim, depois da pandemia do coronavírus, virá o melhor momento da humanidade. Confesso que durante a quarentena eu me senti desanimado. Sentia enjoos, dores de cabeça e insônia constantes. Porém, passei a recitar uma hora de daimoku todos os dias, e com o apoio da minha mãe, que também é psicóloga, estudei aspectos da mente do ponto de vista científico e da visão do budismo. Compreendi que deveria dominar a mente e lidar com a ausência do basquete, das atividades, da escola, como um desafio passageiro”.

Ele tem a ideia de lavar carros na garagem de casa, e logo conquista clientes. “Com isso, aumentei minhas economias, e com o apoio dos meus pais, decidi contribuir para o kosen-rufu como membro do Departamento de Contribuintes (Kofu). Depois, acabei conseguindo um trabalho temporário. E na luta de bastidores, tenho oferecido apoio nas reuniões on-line da organização. A Soka Gakkai é mesmo maravilhosa! No fim, aprendi a controlar a ansiedade e aproveitei para repensar meus objetivos.”

Niccolas, que deve terminar a escola neste ano, quando perguntado a respeito do futuro, responde prontamente: “Eu me sinto totalmente inspirado! Lendo informações sobre basquete e estudando para as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), decidi que quero fazer faculdade de educação física e conhecer a Universidade Soka, nos Estados Unidos!”.

Os pais, com orgulho, contam que o jovem tem se esforçado, demonstrando seriedade. “Ele tem um coração esplêndido e nosso desejo é que atue na linha de frente do kosen-rufu, como um ser humano valoroso”, expressa a mãe.

Em concordância, Niccolas complementa: “Quero trabalhar para gerar oportunidades de desenvolvimento para as pessoas por meio do esporte e despertar nelas sua dignidade e força. Tem tanta coisa pela frente, mas, quando penso nisso, fico empolgado e feliz!”.

Nota:

  1. Brasil Seikyo, ed. 2.313, 27 fev. 2016, p. A7.

Niccolas Airy Jones Silva, 17 anos. Estudante. Responsável pela Divisão Masculina de Jovens do Bloco Uberaba, RM Itaquaquecetuba, Sub. Ayrton Senna, CGSP, CGESP.