ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 27/02/2021 09:00
RELATO
A pandemia do coronavírus significou para Marciele a chance de revolucionar a vida profissional e vencer a doença
Sou enfermeira, especialista em auditoria e gestão pública e, seguindo o sonho de ser médica, estou estudando medicina.
Reprodução/Foto-RN176 Marciele Zandonadi, no Centro Cultural Campestre da BSGI -SP. Resp. pela DFJ da Comunidade Sinop, RM Cuiabá, Sub. Centro-Oeste, CRE Oeste, CGRE.
Sou do Mato Grosso e no ano passado, em função da pandemia, todos os acadêmicos da faculdade em que estudo foram dispensados das atividades presenciais no estado de São Paulo. Com isso, fui para a cidade de Porto dos Gaúchos, MT, para perto da minha família. Lá, fui convidada a assumir a Secretaria de Saúde, em meio ao caótico cenário pandêmico; talvez a época mais difícil da história.
Eu sabia que seria uma árdua missão, porém segui com o objetivo central da minha vida e legado do meu mestre que é servir ao bem da humanidade, pois sabia da minha capacidade e que minha atuação naquele momento preservaria a dignidade da vida das pessoas que ali viviam.
Sem recuar
A correria diária era intensa. Passava 24 horas por dia conectada ao trabalho. As horas em que recitava daimoku diminuíram bastante e senti que a energia vital estava cada vez mais baixa. Assim, os obstáculos e as maldades se manifestaram de diversas formas. Enfrentei a desarmonia familiar e os três venenos da ira, da avareza e da estupidez se manifestaram. A autoestima estava baixa e sentia uma tristeza profunda, mesmo tentando não demonstrá-la. Emagreci dez quilos. Vivi um dos maiores sofrimentos da minha vida, refém dos impulsos ilusórios ou desejos mundanos, das doenças da mente, assim como aprendi no budismo. Mas foi vivendo tal situação que resgatei as palavras de Nichiren Daishonin: “Independentemente de quantos inimigos terríveis os senhores enfrentem, livrem-se de todo o medo e jamais recuem”.1
Foi o que fiz. Mesmo passando por tudo isso, consegui digna e brilhantemente cumprir minha missão como secretária da Saúde. A meta principal era proteger as pessoas daquela cidade. Para isso, extraindo o meu melhor, criei projetos estratégicos e certeiros que até se tornaram referência em nível nacional. E, após três intensos meses como secretária de Saúde, pedi exoneração do cargo para retomar os estudos em São Paulo.
Retornei com um misto de sentimentos e o coração apertado, sem compreender vários aspectos daquele período e ressentida. Aos poucos, retomei a recitação do daimoku e as coisas começaram a clarear. Vencendo a mim mesma a cada dia, busquei ajuda profissional, sendo diagnosticada com ansiedade generalizada. O tratamento psicológico me ajudou a assimilar o não julgamento e o respeito pelas escolhas de cada um. E a prática budista me possibilita orar pela felicidade de todas pessoas, mesmo as que me causaram algum tipo de sofrimento.
Diante do Gohonzon, determinei que o ressentimento não faria mais parte de mim, recuperaria a dignidade, a saúde mental, o amor-próprio e manteria a prática por toda a vida. Concluí que tenho uma missão brilhante e que nasci para ser feliz. Por isso, o inverno jamais falharia em se tornar primavera!
Cumprir uma missão
Os dias foram passando e voltei a me sentir confiante. Agora, atuando num hospital na capital paulista, sentia os efeitos dessa mudança no trabalho. Os colegas diziam que admiravam essa força e que eu sempre irradiava um sorriso no rosto. Fui elogiada por cuidar dos familiares com carinho e por lutar para resolver os problemas dos pacientes. Então, aproveitava a oportunidade para falar a respeito da grandiosidade do budismo, ressaltando convicta a boa sorte de ter um mestre.
Reprodução/Foto-RN176 Marciele Zandonadi, atuando num hospital em São Paulo
Diante de tamanhas transformações, recuperei minha saúde mental; estava forte. Isso foi fundamental quando fui diagnosticada com a Covid-19.
Por trabalhar naquele momento na linha de frente, fiquei exposta ao vírus. Foram dias difíceis, nos quais sentia muita fraqueza e falta de ar. Tive sérias complicações pulmonares, início de embolia e pneumonia. Perdi o apetite e não conseguia realizar minhas atividades. Porém, deveria seguir fazendo provas da faculdade para não ser reprovada.
Reuni força e coragem e recitei firme daimoku pela minha rápida recuperação, e com o tratamento adequado venci a Covid-19, sem sequelas. Além disso, passei no semestre letivo, com ótimas notas em todas as avaliações! Que vitória!
Reprodução/Foto-RN176 com sua equipe em Porto dos Gaúchos, MT. As fotos foram tiradas antes da pandemia do coronavírus
Pratico o budismo há oito anos e, olhando para trás, vejo que os obstáculos que enfrentei são, no fim, uma grande evolução, pois cresci muito como ser humano, percebendo quanto a recitação do daimoku eleva a energia vital. Sigo com a decisão de vencer a mim mesma a cada dia e lutar com todas as forças pelo bem da humanidade. E ser como o brilhante sol onde eu estiver, sempre conectada com Ikeda sensei. Ele cita: “O primeiro passo será determinar ser pessoas como o Sol. Sempre chegará o instante sublime do amanhecer, sempre chegará a hora em que a tempestade acaba, sempre chegará a primavera, infalivelmente, enquanto vocês forem um sol, magnânimo, imperturbável e brilhante”.2
Marciele Zandonadi, 34 anos. Enfermeira. Resp. pela DFJ da Comunidade Sinop, RM Cuiabá, Sub. Centro-Oeste, CRE Oeste, CGRE.
Notas:
- Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 415, 2014.
- Brasil Seikyo, ed. 1.833, 25 fev. 2006, p. B4.