Vencer a si mesmo em primeiro lugar

ROTANEWS176 E POR  JORNAL BRASIL SEIKYO  25/08/2022 18:59                                                                    REDE DA FELICIDADE

Por Dr. Daisaku Ikeda

Reprodução/Foto-RN176 Desenho retrata Shin’ichi Yamamoto incentivando os participantes do curso de aprimoramento a manter esforços corajosos para sobrepujar as funções da maldade e para construir uma vida de fé inabalável – Ilustrações: Kenichiro Uchida 

No dia 15 de maio de 1978, Shin’ichi Yamamoto [pseudônimo do presidente Ikeda no romance Nova Revolução Humana] incentiva os participantes do Curso de Aprimoramento da Primavera, realizado no Centro de Treinamento de Kyushu, discorrendo sobre a luta contra as maldades.

[Shin’ichi Yamamoto] procedeu à leitura do seguinte trecho do escrito A Grande Batalha:

O rei demônio do sexto céu despertou os dez tipos de tropas e, em meio ao mar dos sofrimentos do nascimento e da morte, está em guerra contra o devoto do Sutra do Lótus, para impedi-lo de tomar posse e usurpar dele esta terra impura onde habitam os veneráveis e as pessoas comuns. Já se passaram mais de vinte anos desde que me vi nesta situação e iniciei a grande batalha. Nem uma única vez pensei em recuar.1

(…)

Qual a identidade desse demônio do sexto céu? É a origem de todas as ações da maldade que obstruem a iluminação das pessoas. Não significa que existe uma figura demoníaca com esse nome. Trata-se de funções inerentes à vida humana que habitam o coração das pessoas. Portanto, em essência, atingir o estado de buda não é uma batalha contra um inimigo externo, mas uma batalha feroz contra a natureza do mal que se esconde no interior da nossa vida. Ao vencermos nossa própria natureza intrínseca do mal, realizamos a revolução humana e a transformação da condição de vida, e abrimos o grande caminho da construção da felicidade.

— Por ser uma função que usurpa a vida de sabedoria, o rei demônio do sexto céu é conhecido como “usurpador da vida”. É também conhecido como “céu onde se desfruta livremente criações alheias” que indica uma condição de vida que se alegra em manipular e dominar as pessoas. Como resultado, a vida das pessoas perde o vigor e se fecha, destruindo os brotos do infinito potencial que cada uma delas possui. Pode-se dizer que, por trás das guerras, do desenvolvimento das armas nucleares, dos governos ditatoriais e até de ações como o assédio moral está a vida dominada pelo “céu onde se desfruta livremente criações alheias”, que almeja controlar livremente os outros. Em contrapartida, a ação do devoto do Sutra do Lótus se concentra em ensinar que todas as pessoas são dotadas da natureza de buda e são as mais dignas de respeito, procurando extrair o ilimitado potencial inerente a elas. Portanto, de um lado, está a função que torna as pessoas infelizes e, do outro, a que deseja conduzi-las à felicidade, e esse confronto é a batalha feroz entre as tropas da maldade e as do Buda. Não há outra maneira de dominar essa natureza maligna a não ser pelo budismo. Então, o que são esses dez tipos de tropas dos quais o demônio do sexto céu — o comandante das forças do mal — se utiliza? São dez subdivisões dos desejos mundanos que o mestre Nagarjuna, do sul da Índia, enumerou em seu Tratado sobre Grande Perfeição e Sabedoria: ganância, melancolia, fome e sede, insaciedade, sonolência, medo, dúvida ou arrependimento, ira, vaidade, e arrogância e desprezo pelos outros. (…)

— O primeiro, a ganância, é a situação em que vocês se tornam reféns da busca para saciar seus desejos e perdem a fé. A melancolia, o segundo, é uma situação em que são tomados pelas preocupações e tristezas e não conseguem se empenhar na fé. O terceiro são a fome e a sede, quando ficam impedidos de realizar qualquer coisa por falta de alimentos e bebidas. Mesmo querendo fazer as atividades da Soka Gakkai, não têm energia nem disposição para se movimentar por estarem com o estômago vazio. E então, acabam desistindo da prática budista com o sentimento de que não há a menor condição para tal. O quarto é a insaciedade. Indica o sentimento de forte ansiedade tal como na busca da água para saciar uma sede intensa. A pessoa passa a ser dominada pela sua incontrolável obsessão por algo, e acaba abandonando a fé. O quinto tipo de tropa é a maldade da sonolência. Por exemplo, acredito que existam pessoas que, quando decidem recitar daimoku ou estudar o Gosho, são tomados por uma terrível sonolência. Shakyamuni também lutou com todas as suas forças contra a maldade do sono em meio à sua busca pela iluminação. Para não ser atacado pela maldade do sono, devem estabelecer um correto ritmo de vida e procurar dormir suficientemente. Também é importante criar condições para descansar bem em sono profundo. Se não dormirem devidamente, é natural que sintam sono. Se ficarem com sonolência em momentos inadequados, talvez seja necessário lavar o rosto com água gelada. O sexto é o medo. Ao realizarem a prática budista, pode acontecer de se tornarem alvo de olhares de estranhamento por parte das pessoas ao redor ou ainda serem isolados do grupo. Em alguns casos, podem vir a enfrentar perseguições, como a sofrida pelo presidente Makiguchi, que põem a vida em risco. Afastar-se da Soka Gakkai ou abandonar a fé com medo de que ocorram esses tipos de situações é justamente a ação dessa maldade. Em conclusão, é a covardia. Daishonin afirmou: “Os discípulos de Nichiren nada poderão realizar se forem covardes”.2 A condição essencial para polir a fé e alcançar o estado de buda na presente existência é ter coragem. É necessário ter coragem para se converter ao budismo. É preciso coragem para realizar shakubuku. Sem coragem não se consegue enfrentar o mau destino. Fé significa coragem. (…)

— O sétimo são a dúvida e o arrependimento. São questionamentos e arrependimentos. Embora tenha tido a oportunidade de realizar a prática budista, acabam duvidando do Gohonzon, da Soka Gakkai e, ao se virem diante de obstáculos, se arrependem: “Não devia ter praticado este budismo”. Para vencer esse tipo de coração, tomado por sentimentos obscuros e carregados, é necessário estabelecer uma decisão firme e clara. Nessa atitude se encontram a alegria e os grandes benefícios.

— A ira, o oitavo tipo de tropa, corresponde ao coração dominado pela raiva. Ao ser orientado a realizar shakubuku, fica indignado com pensamentos como “Não é da sua conta. Faço quando eu quiser!”. E ainda provoca mal-estar agindo com rancor e inveja em relação a alguém ou à Soka Gakkai. Quando um veterano orienta a corrigir sua postura de fé com base no Gosho pensando em seu bem, revolta-se e manifesta o sentimento de ira em seu coração. É assim que essa maldade age no coração. (…)

— Esse coração de ira, em si, não é algo ruim. É necessário sentir raiva diante de atos de maldade. Se não manifestarem a ira contra o mal e o errado, não haverá mais a justiça. O problema é se afastar da fé porque ficou irado ou nervoso com algo. Vamos supor que exista um líder veterano inconsequente que só dá trabalho às pessoas à sua volta e causa muitos problemas. Ao observarem a postura dele, os demais se sentem aborrecidos e inconformados. Isso é natural. Contudo, começam a surgir pessoas que dizem: “É por isso que não participo das atividades da Gakkai e não vou às reuniões”. Esse é o aspecto de pessoas sendo derrotadas pela maldade da ira. A questão de realizar a prática budista visando à própria revolução humana e ao estado de buda, em essência, não tem nada a ver com a postura inapropriada do líder veterano. O alvo a ser combatido é esse coração que mistura essas questões e tenta justificar seu retrocesso na fé. (…)

— O nono tipo de tropa é a vaidade, uma condição na qual a pessoa tem extrema ganância por ganho ou benefício próprio e também grande necessidade de fama ou reconhecimento. É um modo de vida no qual se busca avidamente por riqueza e fama, menosprezando a fé, afastando-se do caminho do estado de buda. Quanto mais dominados pela ganância, mais o coração se empobrece e se perde. Os casos de pessoas que causam problemas relacionados com dinheiro na organização podem ser considerados exemplos de influência dessa maldade, que as consome com a necessidade de benefício próprio. E por mais que busquem a fama, o reconhecimento ou a posição social, esses são aspectos tão efêmeros quanto um sonho quando analisados da ótica da eternidade da vida. É uma grande estupidez deixar se levar por esses fatores e abandonar a fé. Mesmo no caso de nomeação de líderes dentro da nossa organização, por exemplo, existem pessoas que acham que foram depreciadas quando passam de uma função de liderança para a de vice ou de apoio e começam a cultivar inveja e ciúme em relação ao novo líder, perdendo o ânimo para se dedicar às atividades da Soka Gakkai. Esse é um exemplo de coração influenciado pela maldade da vaidade. Prática da fé é a batalha para combater esse tipo de sentimento.

Reprodução/Foto-RN176 O Curso de Aprimoramento da Primavera, realizado no Centro de Treinamento de Kyushu, teve participação de membros do Departamento de Orientação da Divisão Sênior e da Divisão Feminina da província de Hiroshima e de líderes representantes das divisões do distrito de Taito, Tóquio – Ilustrações: Kenichiro Uchida 

Por fim, a explanação de Shin’ichi Yamamoto chegou ao décimo tipo de tropa, que são a arrogância e o desprezo pelos outros.

— Esse tipo de maldade faz com que a pessoa se vanglorie e alardeie a respeito de si mesma e despreze as demais, ou seja, é a arrogância. Ao ser tomada pela arrogância, passa a não dar ouvidos a ninguém e não consegue mais aprender sobre o budismo com humildade na organização. Por outro lado, as pessoas ao redor começam a se afastar gradativamente dela, que fica sem ninguém para alertar suas falhas. Quanto mais elevada a posição social que a pessoa ocupa, mais facilmente é influenciada por essa maldade. Quando é dominada por esse tipo de maldade, a pessoa participa das atividades da Gakkai somente se receber elogios, mas sem alguém que alimente esse orgulho, ela negligencia a prática budista, e não consegue transformar seu destino nem elevar sua condição de vida, esgotando toda a sua boa sorte. Por fim, ninguém mais lhe dá atenção e acaba em uma condição miserável e infeliz. No mundo da fé e da prática budista, independentemente de ser presidente de uma grande empresa de primeira categoria, de se possuir alto cargo no governo, de ser professor universitário ou, ainda, de ser líder central da Soka Gakkai, todos são iguais. Funções ou títulos não importam nesse caso. Naturalmente, é importante conquistar sucesso e reconhecimento na sociedade para comprovar os benefícios da fé. Contudo, se isso for apenas para sua própria fama e fortuna, esse resultado não tem significado algum em termos de fé. Posição ou fama não são condições necessárias para alcançar a felicidade absoluta e muito menos fatores que definem a consecução do estado de buda da pessoa. No mundo da fé, as pessoas mais nobres e admiráveis são as que recitam daimoku com toda a seriedade, realizam shakubuku para o maior número de pessoas possível, empenham-se mais que ninguém na orientação individual aos companheiros e se dedicam ao desenvolvimento de indivíduos valorosos e capazes. As pessoas mais louváveis são as que se esforçam de corpo e alma em prol do kosen-rufu. O monarca da fé é o próprio monarca dos seres humanos. Por favor, tenham a convicção de que os senhores são esses grandes vencedores da vida e possuidores de imensurável boa sorte, louvados ao máximo pelo buda Nichiren Daishonin.

No topo: Desenho retrata Shin’ichi Yamamoto incentivando os participantes do curso de aprimoramento a manter esforços corajosos para sobrepujar as funções da maldade e para construir uma vida de fé inabalável

O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.

Fonte:

IKEDA, Daisaku. Batalha Feroz. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 27, p. 231-237, 2019.

Notas:

  1. The Writings of Nichiren Daishonin [Os Escritos de Nichiren Daishonin]. Tóquio: Soka Gakkai, v. II, p. 465.
  2. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 503, 2019.

Ilustrações: Kenichiro Uchida