ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 27/05/2022 15:37
REDE DA FELICIDADE Por Dr. Daisaku Ikeda
Incentivos extraídos do romance Nova Revolução Humana
Reprodução/Foto-RN176 Ilustração mostra presidente Yamamoto encontrando-se com os membros da BSGI durante o ensaio para o Festival Cultural-Esportivo da SGI após dezoito anos desde a sua segunda visita ao Brasil (São Paulo, fev. 1984). Ilustrações: Kenichiro Uchida – Editorial Brasil Seikyo – BSGI
Nestes trechos do romance Nova Revolução Humana (NRH), de autoria do presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Dr. Daisaku Ikeda, vamos relembrar a história de Setsuko Saiki e seus esforços na abertura de caminhos do kosen-rufu do Brasil, vencendo inúmeras dificuldades para corresponder ao Mestre.
[Desde a sua fundação em 1960, a BSGI alcançou grande resultado na propagação do Budismo Nichiren. No início de 1966, o número de famílias chegava a 8 mil. Nesse ano também, em sua segunda visita ao Brasil, Shin’ichi Yamamoto (pseudônimo do presidente Ikeda no romance Nova Revolução Humana) desembarcou no Rio de Janeiro em 10 de março, acompanhado de sua esposa, Kaneko. Desde 1964, o Brasil vivia sob regime militar. Os cinco dias da segunda visita do presidente Ikeda transcorreram sob constante vigilância policial em consequência de informações distorcidas sobre a Soka Gakkai. Dois acontecimentos foram o ponto alto da sua segunda visita ao país: o Festival Cultural da América do Sul, realizado no dia 13 de março, no Theatro Municipal de São Paulo, com a participação de 1.700 figurantes de várias localidades do Brasil; e o encontro com 5 mil membros no Ginásio de Esportes do Pacaembu, também na capital paulista. Esses eventos ocorreram sob a vigilância de centenas de policiais. O empenho dos membros nessa época resultou na inauguração da sede própria da BSGI em São Paulo (atual Sede Social da Divisão Feminina da BSGI) cujo imóvel foi adquirido pessoalmente pelo presidente Ikeda durante a sua segunda visita ao país. A organização, que era formada apenas por um distrito, passou a ser composta por três distritos gerais (atual regional ou área) e sete distritos.]
A visita de Shin’ichi Yamamoto ao Brasil, em 1966, foi como uma luz de esperança acesa no fundo de um túnel. Apesar disso, a escuridão era ainda muito profunda.
O casal Saiki [Ronaldo Yasuhiro Saiki, coordenador da Regional da América do Sul, e sua esposa, Glória Setsuko Saiki, coordenadora da Divisão Feminina da América do Sul] estava disposto a difundir a correta imagem da Gakkai no seio da sociedade brasileira e a criar boas circunstâncias para que o presidente Yamamoto visitasse o Brasil sem ser incomodado pela polícia.
A decisão de Setsuko era firme e forte: “Mudarei sem falta esta situação. O Brasil será, no mundo inteiro, a nação que mais reconhecerá e louvará a Gakkai e o presidente Yamamoto”. Com esse objetivo, ela devotou-se totalmente às atividades visitando os membros da Divisão Feminina, casa por casa, a fim de transmitir seu sentimento e de gerar uma grande onda de recitação de daimoku e de propagação do budismo (shakubuku).
Setsuko não mediu esforços. Com o endereço escrito num pedaço de papel e usando as poucas palavras que aprendera a falar em português, ela perguntava como poderia chegar ao seu destino. Percorria dezenas de quilômetros todos os dias, de ônibus ou de trem, para encontrar e incentivar suas companheiras.
Houve uma ocasião em que, devido ao horário das visitas, perdeu o último trem e teve de voltar a pé, caminhando sozinha pelos trilhos na escuridão da noite. Sentiu tanto medo que as lágrimas chegaram a molhar todo o rosto. Em outra ocasião, teve de descer do ônibus que ficou preso em uma enchente e andar pelas águas lamacentas que chegavam a bater acima dos joelhos.
Apesar das dificuldades, ela persistiu em sua decisão. Esses esforços acenderam gradativamente no coração de suas companheiras a chama de se devotarem à felicidade dos membros do Brasil, compartilhando com ela a mesma decisão.
[A BSGI acelerou seu ritmo de desenvolvimento, realizando diversas atividades, inaugurando novas sedes e conquistando reconhecimento da sociedade, sempre com o apoio constante do presidente Yamamoto.]
Shin’ichi aguardava ansiosamente o momento para realizar uma nova visita às terras brasileiras. Essa oportunidade chegou finalmente em março de 1974, quando foi programada uma viagem pelos Estados Unidos e depois para o Brasil.
Com a confirmação do período da visita, foi programada a realização de um festival cultural em São Paulo e os preparativos começaram alguns meses antes do final de 1973. (…) Depois de cumprir os compromissos em São Francisco e Miami, Shin’ichi chegaria a São Paulo no dia 13 para participar do festival cultural e de outras importantes atividades. Entretanto, a emissão do visto de entrada no Brasil estava demorando. (…) Saiki procurou averiguar a razão da demora na emissão do visto e fez contato com algumas autoridades do governo federal. Soube então que o órgão emissor do visto estava temeroso diante da denúncia anônima de que havia um indivíduo perigoso na comitiva do presidente Yamamoto. Era o mesmo cenário de oito anos atrás.
[Por fim, o visto de entrada foi negado e não foi possível concretizar a visita do presidente Yamamoto. No momento da ligação telefônica informando o cancelamento, Shin’ichi incentivou os líderes da BSGI.]
— Sei quão indignado e triste está. Contudo, esta situação deve ser encarada como a manifestação da sabedoria do buda. Com toda a certeza, há um profundo significado em tudo isso. Há ocasiões em que uma vitória pode ser a causa da derrota no futuro. Da mesma forma, a derrota pode ser transformada em causa da vitória. Espero que o Brasil se levante agora e avance com firmeza, fazendo desta situação a causa para a grande vitória no futuro. Agir dessa forma é agir com determinação embasada na prática da fé. Se olharmos a longo prazo, perceberemos que quanto maior a dificuldade, maior será o fortalecimento. Este é o princípio do budismo. Embora não possa viajar desta vez, irei sem falta numa outra oportunidade para incentivar os companheiros do Brasil. Está bem? (…)
[Após a comunicação aos líderes da BSGI,] Setsuko estava com os olhos vermelhos. Tentava inutilmente conter as lágrimas. Incapaz de controlar a tristeza no peito, saiu correndo da sala. Fitando o céu do entardecer, irrompeu em altos prantos.
“Como pude ser tão ingênua”, Setsuko pensou. “Acreditava que tudo daria certo por estar lutando ao máximo. Porém, estava, na verdade, parada diante de uma grande barreira. Quando achamos que já fizemos o bastante, paramos de avançar. Jamais esquecerei esta amarga experiência pelo resto de minha vida! Eu não serei derrotada! Nada fará de mim uma perdedora! Chamarei sem falta o presidente Yamamoto ao meu Brasil! Se o problema foi o visto de entrada, criarei uma circunstância em que o presidente da República lhe fará um convite para visitar nosso país!”
O festival cultural foi realizado nos dias 16 e 17 de março no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo, conforme havia sido programado. (…) A inesperada notícia [do cancelamento da visita] chocou os figurantes. (…)
Ronaldo Saiki apresentou a mensagem enviada por Shin’ichi Yamamoto. Cada palavra parecia transmitir o profundo sentimento de Shin’ichi pelos companheiros do Brasil.
“Mesmo que o nosso encontro não tenha sido possível nesta oportunidade, no meu coração está vivo o dinâmico entusiasmo de todos os senhores. Espero que mantenham o ânimo e construam famílias realmente felizes por todos os recantos do Brasil. Realizem também com alegria e coragem o kosen-rufu da querida terra brasileira que possui ilimitado potencial para um futuro promissor. A vitória e a derrota não podem ser avaliadas somente por uma questão momentânea; devem ser vistas a longo prazo. Eu irei sem falta ao Brasil. Estarei infalivelmente com vocês num breve futuro”.
Uma nova decisão começou a brilhar nos olhos cheios de lágrimas dos figurantes. Nesse mesmo instante, o presidente Yamamoto estava orando dos Estados Unidos pelo sucesso de todos no festival cultural. (…)
Todos atuaram como protagonistas responsáveis pelo sucesso do festival. Não havia ninguém que era um mero espectador. Foi esse espírito que decidiu a vitória desse grande evento. (…)
[Após o festival,] os membros sentiram que havia faltado maior empenho na atuação para conquistar a confiança da sociedade brasileira e tomaram uma nova decisão: se a barreira é espessa, vamos dobrar os esforços. Se mesmo assim for difícil derrubá-la, vamos triplicar as nossas forças. Multipliquemos os esforços até que a barreira venha ruir aos nossos pés.
A primeira iniciativa foi o desafio na recitação de daimoku, e Setsuko Saiki manteve-se na vanguarda da divulgação do movimento de daimoku por todos os recantos da organização.
“Vamos criar um novo tempo. Quando o tempo amadurecer, a flor da decisão vai desabrochar sem falta” — esta era a disposição dos membros do Brasil. Além disso, assumiram o compromisso de abrir novos caminhos por meio da promoção de atividades em prol da paz, da cultura e do bem-estar social. (…)
[Os esforços dos membros da BSGI se intensificaram com diversas realizações que comprovaram os ideais de paz da organização em meio à sociedade. Em um curso de aprimoramento no Japão, em 1983, representantes da Divisão dos Jovens do Brasil convidaram Shin’ichi para uma nova visita ao país.]
A partir de agosto de 1981, Glória Saiki e outras dirigentes da Divisão Feminina começaram a se encontrar quatro vezes por semana no centro cultural para recitar daimoku visando à mais breve concretização da visita do presidente Yamamoto ao Brasil. Ao mesmo tempo, os membros se empenhavam para estreitar os laços de amizade e de compreensão da Gakkai no seio da sociedade brasileira.
E a aspiração desses membros chegou ao conhecimento do presidente da República. Em maio de 1982, o presidente João Baptista de Oliveira Figueiredo (1918–1999) enviou uma carta pessoal, convidando Shin’ichi Yamamoto para uma visita ao Brasil.
Os caminhos começaram a se abrir conforme a decisão e a oração de todos.
Shin’ichi respondeu à carta e começou a tomar providências para atender ao convite e corresponder à consideração do presidente da República. (…)
A visita ocorreria em fevereiro do ano seguinte e foi decidida a realização de um grande festival cultural em São Paulo no dia 26. Os membros receberam essa notícia com entusiasmo. Porém, os dirigentes centrais mantinham cautela: “Devemos agir com a máxima prudência. Não podemos cometer nenhuma falha. O kosen-rufu é uma luta contra as maldades e não podemos ser surpreendidos pelos imprevistos!”
De fato, à medida que a data da visita se aproximava, as críticas contra a Gakkai se intensificavam e adversidades começavam a surgir.
Certa ocasião, Glória Saiki declarou veementemente.
— Lutarei custe o que custar. Receberei sem falta o presidente Yamamoto aqui no Brasil. Haja o que houver, jamais serei derrotada!
Ela se empenhou com seriedade em todos os setores dos preparativos, derrubando cada barreira de dificuldades. (…)
[Finalmente, a terceira visita do presidente Yamamoto ao Brasil se concretizou em 1984.]
No dia 25 de fevereiro, o presidente Yamamoto surpreendeu, com sua repentina presença, os milhares de figurantes e membros que se encontravam no Ginásio de Esportes do Ibirapuera para assistirem ao ensaio geral do festival cultural.
Quando ele adentrou o ginásio e começou a dar a volta pela pista olhando para os membros que lotavam as arquibancadas, uma forte ovação e um turbilhão de vozes estremeceram o local. Todos aguardavam por esse grande momento.
Depois de percorrer o ginásio com os braços erguidos, Shin’ichi pegou o microfone e externou seu profundo sentimento aos membros do Brasil.
— Sinto-me muito feliz por estar aqui junto com todos os senhores. Foram dezoito anos de longa espera, mas finalmente pude reencontrar-me com os senhores, sublimes mensageiros do Buda. Este grandioso festival cultural ficará sem dúvida alguma gravado eternamente na história do kosen-rufu do Brasil com brilhantismo. Até chegar este momento, quanto avanço e devoção não houve da parte dos senhores e quantos belos laços de solidariedade não se formaram entre todos! Neste momento, meu sentimento é o de abraçar cada um dos senhores, apertar a mão de cada um com minha mais profunda gratidão. A Lei Mística é a fonte inesgotável da criatividade cultural que construirá o novo século. Declaro com toda a determinação que este é o caminho absoluto para edificar um mundo de verdadeira paz e felicidade.
Reprodução/Foto-RN176 Setsuko Saiki dialoga com o presidente Yamamoto e sua esposa, Mineko, durante visita do casal ao Brasil em 1966 – Ilustrações: Kenichiro Uchida – Editorial Brasil Seikyo – BSGI
As palavras de Shin’ichi atingiram o coração de todos os presentes naquele histórico encontro. (…)
Todo o ginásio estremeceu novamente com uma estrondosa salva de palmas e um “pique-pique” de alegria e juramento ecoou alto pelos céus de São Paulo.
Com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas, as pessoas nas arquibancadas pulavam, gritavam com todas as forças, acenavam e se abraçavam com incontida emoção.
Enquanto Setsuko Saiki observava essa tão sonhada cena, lágrimas fluíam sem cessar.
Eram lágrimas de alegria que haviam se acumulado ao longo de dezoito anos e que, naquele momento, brotavam de uma só vez. Sua emoção era tão grande que quase não conseguia manter-se de pé.
Setsuko gritou alto:
— Sensei! O Brasil venceu! O Brasil cumpriu finalmente sua promessa! (…)
No dia seguinte, 26 de fevereiro, às 18 horas, teve início o grande Festival Cultural-Esportivo da SGI com o tema “A sinfonia da paz na grande terra do século 21”. Os membros vieram de todos os recantos do Brasil. Muitos deles viajaram longas distâncias para assistir ao Festival. (…)
Era o momento da grande vitória. Eles haviam conquistado o glorioso triunfo com paixão na prática da fé e com convicção no supremo ensino chamado budismo. A espessa e tenebrosa nuvem de adversidades fora dissipada e eles puderam receber finalmente a luz do alvorecer.
Desde então, a Soka Gakkai do Brasil avançou na vanguarda do movimento pelo kosen-rufu em direção ao século 21, surpreendendo o mundo com seu resplandecente desenvolvimento tal como o Sol que se ergue imponente e destemido, lançando raios dourados pelo céu.
O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.
No topo: Ilustração mostra presidente Yamamoto encontrando-se com os membros da BSGI durante o ensaio para o Festival Cultural-Esportivo da SGI após dezoito anos desde a sua segunda visita ao Brasil (São Paulo, fev. 1984)
Ilustrações: Kenichiro Uchida
Fonte:
IKEDA, Daisaku. Luz do Alvorecer. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 11, p. 55-79, 2021.