Venezuela, o país que 5 mil pessoas abandonam todos os dias

ROTANEWS176 E POR BBCNEWSBRASIL 30/12/2018 18:06                                                                                Katy Watson – BBC

Mais de 3 milhões de pessoas deixaram a Venezuela nos últimos anos para fugir do colapso econômico e humanitário que assola a nação rica em petróleo. Segundo a ONU, número deve passar de 5 milhões em 2019.

Na Venezuela, a discussão sobre quanto tempo ficar, para onde fugir e como começar uma nova vida nunca está muito longe da mente de muitas pessoas. Toda vez que visito o país, há menos amigos e conhecidos para fazer contato.

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Reprodução/Foto-RN176 Mais de 3 milhões de pessoas fugiram da Venezuela nos últimos anos e, diz a ONU, esse número deve passar de 5 milhões em 2019 Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Estima-se que 5 mil pessoas arrumem suas malas e saiam do país todos os dias, ansiosas para fugir do colapso econômico e da crise humanitária que assola a nação rica em petróleo.

Mais de 3 milhões de pessoas fugiram da Venezuela nos últimos anos. Segundo a ONU, esse número deve subir para mais de 5 milhões até o final de 2019,

A grande maioria dos venezuelanos viaja para outras partes da América do Sul. Mais de 1 milhão de venezuelanos escolheram a vizinha Colômbia como seu novo lar, com meio milhão atravessando o país rumo a Equador, Peru e outros destinos na região.

Os sortudos, aqueles com conexões e membros da família já estabelecidos em outros países e com um bom nível educacional, encontraram trabalho. Mas também conheci muitos que vendiam água ou comida nas ruas do Peru e da Colômbia para sobreviver.

“Estamos falando de pessoas que estão partindo não por causa de um desastre natural ou de uma guerra”, diz Claudia Vargas Ribas, especialista em migração da Universidade Simón Bolívar, na Venezuela.

Ano Novo, novos desafios

Espera-se que o novo ano sobrecarregue o governo venezuelano. Em 10 de janeiro, Nicolás Maduro será formalmente empossado por mais seis anos, depois de ter sido declarado vencedor nas eleições de maio, que foram amplamente boicotadas pela oposição e criticadas pelos Estados Unidos, a União Europeia e a maioria dos vizinhos da Venezuela.

O presidente Maduro culpa os “imperialistas” – como os Estados Unidos e a Europa – por travarem uma “guerra econômica” contra a Venezuela e imporem sanções a muitos membros do seu governo.

Mas seus críticos dizem que é a má administração econômica – primeiro por seu antecessor, Hugo Chávez, e agora pelo próprio Maduro – que deixou a Venezuela de joelhos.

“Teremos dias e semanas críticos a partir de janeiro”, diz David Smolanksy, um líder da oposição exilado e agora chefe do Grupo de Trabalho sobre a migração venezuelana para a Organização dos Estados Americanos (OEA).

Reprodução/Foto-RN176 Enquanto Maduro culpa os ‘imperialistas’, seus críticos apontam a má administração econômica como a causa da crise Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A liderança da Assembleia Nacional, controlada pela oposição, muda no início de janeiro, e alguns acreditam que isso pode causar ainda mais tensão.

“Maduro vai querer fazer uma demonstração de força”, diz Geoff Ramsey, diretor assistente do Programa da Venezuela no Escritório de Washington sobre a América Latina (WOLA), organização não governamental dedicada à promoção de direitos humanos, democracia e justiça social.

“Eu acho que isso vai criar um novo nível de insatisfação, e os poucos que não tiverem um plano de fuga estarão fazendo algum depois de Maduro oficializar seu novo mandato.”

A região reage

A crise da Venezuela continuará afetando toda a América do Sul. “Os países da região são países em desenvolvimento, não podemos esquecer disso”, diz Claudia Vargas Ribas. “Então, receber essa quantidade de pessoas se tornou um dos assuntos regionais mais complexos.”

Reprodução/Foto-RN176 O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, está prestes a ser empossado para seis anos no cargo Foto: Reuters / BBC News Brasil

Houve esforços para coordenar uma resposta humanitária. Foram realizadas duas reuniões na capital do Equador, Quito, e chegou-se a um entendimento de que os países precisam trabalhar juntos para resolver a crise. Um terceiro encontro está programado para o primeiro semestre de 2019.

“Se você comparar o que a América Latina vem fazendo com o que a Europa vem fazendo [com seus migrantes], sendo que é a Europa que tem melhores condições e é mais desenvolvida economicamente – a América Latina está dando o exemplo”, diz o sociólogo Tomás Páez, coordenador do Projeto Global da Diáspora Venezuelana.

Mas, com cada vez mais venezuelanos chegando, os países poderiam tornar suas regras de imigração mais rigorosas?

“Se eles colocarem obstáculos, o que vai crescer é a imigração ilegal”, diz Páez, acrescentando que o tráfico de drogas, a prostituição e indústrias ilegais crescerão.

Mais a ser feito

Alguns especialistas acreditam que o que foi prometido até agora é uma gota em um balde comparado ao que é necessário.

“Os governos regionais estão muito interessados em obter financiamento dos Estados Unidos e outros doadores”, diz Geoff Ramsey. “Mas eles estão muito mais reticentes quando se trata de fornecer soluções de médio e longo prazo para a crise.”

No início deste mês, 95 organizações, coordenadas pela Agência de Refugiados da ONU (ACNUR) e pela Organização Internacional para as Migrações, lançaram o chamado Plano de Resposta Regional para Refugiados e Migrantes da Venezuela.

Reprodução/Foto-RN176 Com cada vez mais venezuelanos chegando, os países poderiam tornar suas regras de imigração mais rigorosas? Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A ideia é ajudar a responder às necessidades dos venezuelanos que estão migrando, assim como convocar a comunidade internacional para ajudar a financiar os esforços de ajuda humanitária.

Geoff Ramsey diz que é um ótimo começo, mas que promessas no papel não são suficientes. “A solução para a crise de migração da Venezuela exigirá que a América Latina integre essas pessoas em suas economias formais e mercados de trabalho”.

A região não precisa apenas responder à crise, mas também manter a pressão contra Maduro, diz David Smolanksy. “Você precisa do braço forte e da mão amiga”, diz ele.

“A região precisa ser firme contra a ditadura. Enquanto ela continuar, as pessoas continuarão a fugir.”

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