Viagem a Marte pode causar danos no cérebro, diz estudo

Raios cósmicos podem afetar os astronautas e causar sequelas semelhantes às sofridas por pessoas com demência

ROTANEWS176 E BBC­ 04/05/2015 09h30

A lista de possíveis problemas a serem enfrentados pelos astronautas pioneiros de missões a Marte ganhou mais um item: o de estragos no cérebro. Um estudo da Universidade da Califórnia, divulgado na revista Science Advances, sugere que a longa exposição a raios cósmicos pode causar danos significativos ao sistema nervoso central, resultando em sequelas semelhantes às sofridas por pessoas com demência.

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Reprodução/Foto-RN176 Viagem para Marte duraria cerca de nove meses Foto: Nasa / Reuters

Raios cósmicos são formados por partículas de alta energia originadas no espaço e que viajam quase que na velocidade da luz. Cientistas acreditam que uma viagem a Marte, distante cerca de 226 milhões de quilômetros da Terra, duraria pelo menos nove meses. E os danos cerebrais poderiam ocorrer já durante a viagem.

“Isso não é uma boa notícia para os astronautas que poderão ser escolhidos uma missão a Marte. Déficits de memória e a diminuição de atividades cerebrais, por exemplo, poderão afetar partes críticas da missão. E a exposição às partículas poderá provocar problemas cognitivos para o resto da vida”, afirma Charles Limoli, coordenador do estudo.

Proteção impossível

A equipe de Limoli fez testes com ratos, submetendo-os a sessões de irradiação num laboratório da Agência Espacial Americana (NASA) especializado em estudos com raios cósmicos.

A exposição a determinadas partículas resultou em inflamações no cérebro que dificultaram a transmissão de sinais pelos neurônios. Tomografias computadorizadas mostraram que a rede de comunicação cerebral foi prejudicada por danos a células nervosas chamadas dendritos – alterações que contribuíram para a redução de desempenho dos ratos em atividades ligadas ao conhecimento e à memória.

Tipos semelhantes de disfunções cognitivas são comuns em pacientes com câncer de cérebro que receberam tratamentos à base de radiação de prótons.

Segundo Limoli, defeitos cognitivos nos astronautas demorariam meses para se manifestar, mas o tempo de viagem para Marte seria suficiente para isso. O cientista ressaltou ainda que, embora os astronautas trabalhando na Estação Espacial Internacional por longos períodos também sejam atingidos por raios cósmicos, a intensidade do “bombardeio” é menor e eles ainda contam com um pouco de proteção da magnetosfera terrestre.

O estudo da Universidade da Califórnia faz parte de um programa da Nasa que procura entender os efeitos da radiação espacial em astronautas e possíveis maneiras de mitigá-los.

Limoli sugere que a cápsula que levará os astronautas à Marte tenha escudos de proteção contra radiação mais reforçados em áreas usadas para descansar e dormir. No entanto, não existe proteção total contra as partículas.

Outra solução podem ser tratamentos preventivos para os astronautas, incluindo o uso de novas drogas. “Mas as pesquisas ainda estão em desenvolvimento”, explica o cientista.