ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 21/11/2020 11:00 Por Marcio Nakane
COLUNISTA
Fim de ano é época em que muitos aproveitam para presentear, mas em tempos de economia é importante dar sentido a esses gastos
O fim do ano se aproxima e, apesar de 2020 não ter sido fácil, de maneira geral, consideramos o período de festas como uma ocasião para presentear aqueles que nos são queridos e a nós mesmos, algo que nos dá forte sensação positiva. Mas será que fazer compras e oferecer lembranças têm relação com felicidade?
Há dois resultados consistentes de estudos a respeito do assunto.1
Primeiro, adquirir experiências, em vez de bens materiais, traz mais felicidade. Essas experimentações incluem viagens, refeições, concertos, passeios, ouvir música, ler livros, assistir a filmes, jogar games, dançar.
Segundo, presentear os outros, em vez de comprar coisas para nós mesmos, traz mais felicidade.
Note que alguns dos exemplos da lista de vivências envolvem um bem material e uma experiência. Um livro, por exemplo. Se compramos ou ganhamos um livro e ele permanece intocado na estante, é apenas um bem material, enquanto o ato de ler a obra se torna uma experiência. Se após a leitura mantivermos o livro conosco, então teremos tanto o bem material como a vivência. E, se depois da leitura, o passamos adiante doando para um amigo, ficamos apenas com a experimentação.
Quando contamos o que fizemos ou relembramos acontecimentos, nossos relatos e nossas lembranças são sobre experiências. Momentos que passamos com nossos familiares e amigos, filmes que assistimos, livros que lemos, músicas que ouvimos, viagens que fizemos: experiências que ficam na memória. Elas estão mais relacionadas com felicidade que com bens materiais, em parte porque nos fazem sentir mais conectados a outras pessoas.
Reprodução/Foto-RN176 Foto de ilustração Editora Brasil Seikyo – BSGI
Experiências estão intimamente ligadas à autopercepção; juízo sobre quem você é ou deseja ser.
Com relação a presentear outras pessoas, o ideal é algo cuidadosamente escolhido para encantar o recebedor, abrindo os olhos para uma nova possibilidade de consumo ou de vivência. E, ao mesmo tempo, que funcione como um canal de sentimento afetuoso para quem dá e para quem recebe. Parte desse exercício é maravilhar o presenteado, ou seja, entregar algo que a pessoa adoraria ter, se ao menos tivesse consciência disso.2 Nesse caso, aumenta a felicidade não só dos que presenteiam, mas também dos que recebem a surpresa.
Quando conhecemos bem a pessoa (familiares e amigos), é possível seguir o ideal descrito anteriormente. Mas, e quando não conhecemos bem a pessoa? Ou, mesmo sendo próximos, temos dúvidas na escolha? Vales-presentes (gift cards) são boa alternativa, pois deixam a pessoa livre para escolher o que deseja.
Além de tudo isso, é fundamental ressaltar que, ao falar de presentes e de experiências, nem sempre se faz necessário gastar ou comprar alguma coisa. Para muitas pessoas, nosso tempo e nossa atenção são as melhores homenagens que podemos oferecer.
No escrito O Rico Sudatta, o buda Nichiren Daishonin afirma:
A maneira para se tornar um buda facilmente não tem nada de especial. É como dar água a alguém sedento em época de seca, ou como acender fogo para uma pessoa que está morrendo de frio; também é como dar algo único a outra pessoa, ou como fazer uma doação ainda que ao custo da própria vida.3
Presentear com propósito eleva nossa condição de vida.
Marcio Nakane
Doutor em economia pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, e professor doutor de economia na Universidade de São Paulo (USP). Membro da BSGI desde 2009, é líder da Comunidade Jaguaribe, em Osasco, SP.
Notas:
- DUNN, Elizabeth W.; NORTON, Michael I. Happy Money — The Science of Happier Spending. Simon & Schuster, 2013.
- WALDFOGEL, Joel. Scroogenomics — Why You Shouldn’t Buy Presents for the Holidays. Princeton University Press, 2009.
- CEND, v. II, p. 353.