Vitória pra lá de retada

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  08/05/2021  07:33

RELATO

Maria traça cada passo de sua trajetória com a determinação de conquistar os sonhos e inspirar as pessoas

Reprodução/Foto-RN176 Maria Teixeira Campos, Resp. pela DFJ do Bloco Barravento, CRE Leste, CGRE – Editorial Brasil Seikyo – BSGI

Iniciei a prática budista em 2010, quando morava em São Paulo, SP, num momento muito feliz. Como atriz, atuava em bons espetáculos, fazia cursos com grandes nomes do teatro e do cinema, viajava e tinha ótimas amizades.

Fui acolhida com carinho pela família Soka e isso foi importante, pois estava longe da Bahia, minha terra natal. Empenhei-me nas atividades, tornando-me líder na localidade e secretária do Departamento de Artistas (Depart). Meu ex-namorado veio morar comigo e realizávamos ótimas reuniões em casa, e, assim, muitas pessoas se converteram ao budismo. Nosso Bloco Nova 14 Bis se tornou monarca e alçou novos voos a partir dali.

Essa história mudou completamente em 2017, quando se iniciou a maior das revoluções em minha vida. Minha melhor amiga e meu amado tio faleceram, meu casamento estava um fiasco e apareciam poucos trabalhos. Cheguei a ter renda menor que um salário-mínimo. Em meio a essa realidade, entregamos o apartamento e, diante de tanto desgaste e infelicidade, decidimos nos separar.

Acabei voltando para a casa da minha mãe, em Salvador, com a sensação de que havia sido derrotada, sem sucesso no trabalho, no amor, nos sonhos e na saúde, ao apresentar sintomas de ansiedade, transtorno do pânico e depressão. Chorava e lamentava o tempo todo, e nem mesmo na organização conseguia me adaptar. Acabava por descontar minha frustração em minha mãe que, benevolente, me fez refletir sobre a minha postura e me aconselhou a recitar mais daimoku. Assim o fiz. Também procurei um psiquiatra, fiz terapia e, relutante, comecei a tomar antidepressivo. Percebi que deveria vencer a própria escuridão e, para tanto, me atentei ao que a vida queria me mostrar. Então, fortaleci a prática budista, nutri corpo e mente com boas energias.

Logo, fui convidada para participar de um grupo de teatro de improviso e a me apresentar num espetáculo semanal divertido. Comecei a dar aulas de teatro para crianças em duas escolas e retomei meu projeto de contação de histórias musicadas. Na organização, passei a pôr minhas ideias em prática de forma mais harmoniosa e, empenhando-me para fortalecer o movimento dos artistas Soka, em 11 de novembro de 2018, junto com Angelina Yoshie e Cassius Fabian, realizamos a fundação do o Depart na Bahia.

Romper limites

Sentia-me cada vez melhor e, quando surgia o medo de levar outra “rasteira da vida”, eu me lembrava de que “o inverno nunca falha em se tornar primavera”1 e que o budismo é vitória ou derrota!

Reprodução/Foto-RN176 sarau do Depart Bahia – Editorial Brasil Seikyo – BSGI

Venci a falta de confiança ao me inscrever no mestrado de nota mais alta em artes cênicas do Brasil, na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Então, criei um projeto para valorizar minhas origens, uma vez que havia vivenciado preconceito velado na área de audiovisual por conta do meu sotaque. Com meu trabalho, determinei que seria a porta-voz dos silenciados, excluídos e desvalorizados, provocando reflexões contra o preconceito, numa luta pelo respeito e pela dignidade da vida. Estudei bastante, fiz ótimas provas, entrevistas, mas, por ter escrito um projeto grandioso para ser realizado em apenas dois anos, fui questionada sobre a sua viabilização. Fui classificada, mas em último lugar, e na universidade faltou uma vaga para que pudesse me matricular. A sensação de revolta com a vida surgiu novamente, porém, como discípula de Ikeda sensei, e baiana retada [palavra que qualifica pessoas ou coisas com atributos positivos] que sou, não permitiria que limitassem meu potencial. Recitei daimoku sem dúvidas no coração de que teria a minha vaga e, dias depois, o secretário da pós-graduação comunicou que um aluno desistiu do curso por ter passado com bolsa em outra universidade; a vaga era minha! Comprovei a força da fé, e o melhor, ninguém foi prejudicado.

Pouco tempo depois, fui demitida das escolas nas quais trabalhava, ficando sem renda. Contudo, ciente de que não há oração sem resposta, voltei-me para o daimoku, determinada a encontrar um trabalho digno, no qual pudesse atuar como atriz, realizasse o sonho de fazer cinema, de ser reconhecida pela qualidade da minha atuação, fazendo as pessoas felizes mundo afora.

Foi assim que recebi uma mensagem de um amigo que me convidou para atuar em seu filme. Fiz um teste ali mesmo pelo celular, e fui aprovada. Aceitei o convite e viajei para o Rio de Janeiro no dia seguinte para gravar. Apesar de todos os cuidados que tiveram comigo desde a minha chegada, somente tive a dimensão dessa produção quando me encontrei com o elenco para passar o texto e notei que todos eram famosos. Para minha surpresa, a protagonista era eu. Ali me dei conta de que minhas orações estavam sendo atendidas. Quanta gratidão!

Fiz amizade com a equipe e me entrosei com os atores. Dei o melhor de mim sendo aplaudida em cena aberta. Após as filmagens, neste ano de 2021, fui premiada como melhor atriz no Europe Film Festival.

No mestrado, gloriosamente consegui uma bolsa de estudos e concluí o curso, concretizando tudo o que havia proposto no projeto e mais um pouco. Tornei-me a prova real de que tudo é possível para um praticante do Sutra do Lótus. Por isso, nunca duvide do seu potencial ainda que lhe digam o contrário.

Reprodução/Foto-RN176 com a mãe e as sobrinhas. As fotos foram tiradas antes da pandemia do coronavírus – Editorial Brasil Seikyo – BSGI

Hoje, sou só gratidão até pelos tempos difíceis, que me levaram à verdadeira felicidade. Também à minha família, aos Três Mestres [Tsunesaburo Makiguchi, Josei Toda e Daisaku Ikeda], aos amigos Soka; às minhas origens. Das raízes subo à copa, com asas fortalecidas para alçar grandes voos. Porque sou do tamanho dos meus sonhos!

Maria Teixeira Campos, 38 anos. Atriz, humorista, palhaça, contadora de histórias, arte educadora e locutora. Resp. pela DFJ do Bloco Barravento, CRE Leste, CGRE.

No topo: Maria Teixeira Campos

Nota:

  1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 560, 2020.