Viver com sabedoria e coragem

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  27/03/2021 11:21

RELATO

Ademir fez da prática budista a base de suas ações e, com determinação, avança sem temer os desafios

 

Reprodução/Foto-RN176 Ademir Leite de Araújo, Membro da DS da Comunidade Americano, RM São José dos Campos, Sub. Vale do Paraí­ba, CLP, CGESP. No topo: Ademir, com a esposa, Ivone, à dir.; o filho, Gabriel, à esq.; e a filha, Mariana, ao fundo – Editora Brasil Seikyo – BSGI

A prática budista me fez compreender que coragem e sabedoria caminham juntas. Enquanto a coragem nos possibilita vencer o medo institucionalizado desde que nascemos, a sabedoria nos ajuda a fazer escolhas adequadas. Assim, temos a chance de avançar confiantes pelos caminhos tortuosos com os quais nos deparamos.

Sem medo

Quando comecei a trabalhar numa grande indústria de fabricação de papel, em Jacareí, SP, era um jovem bem tranquilo, independente, com uma visão positiva sobre a vida e, como biólogo, reconhecia a sua grandiosidade. Contudo, em meio ao estresse de trabalho acumulado ao longo dos anos, eu me transformei numa pessoa agitada, impulsiva e com baixa autoestima. Isso refletia na minha saúde e no ambiente familiar, no qual já enfrentávamos desafios.

Em 2017, meu filho mais novo, Gabriel, recebeu aos 11 anos o diagnóstico de transtorno do espectro autista (TEA). A partir daí, entramos num universo completamente novo no qual tivemos de reaprender muitas coisas. Por isso, ao completar 22 anos como funcionário da mesma empresa, percebi que deveria desacelerar. No entanto, minha vida desabou quando minha esposa, Ivone, foi diagnosticada com câncer de mama, e minha filha, Mariana, com nódulos na mesma região. Estava com medo e desanimado, e para encorajá-las, acabei reprimindo meus sentimentos. E foi ao desabafar com o amigo Carlos que ele expôs conceitos do Budismo de Nichiren Daishonin que faziam bastante sentido para mim e me disse que, se eu recitasse Nam-myoho-renge-kyo, evidenciaria a força para vencer.

Essa não foi a primeira vez que tive contato com o budismo. Antes, nossa vizinha Daniele já havia compartilhado essa filosofia conosco. Ela e o marido nos fizeram um novo convite para participar de uma reunião de palestra e resolvi aceitá-lo.

A atividade, realizada em São José dos Campos, SP, onde moro, foi no dia 2 de outubro de 2019 e me senti muito bem e tão encorajado que recebi o Gohonzon naquele dia.

Ser vitorioso

Passei a me dedicar com toda a sinceridade na fé, na prática e no estudo, e logo percebi que a situa­ção agora seguia por um curso vitorioso.

Minha filha Mariana passou por uma cirurgia para a retirada dos nódulos e o procedimento foi realizado com total sucesso. Em paralelo, minha esposa tolerou bem a quimioterapia e, mesmo com a imunidade baixa, não sofreu qualquer infecção para realizar as readequações do cateter subcutâneo que utilizava. A cirurgia para a retirada do tumor foi bem-sucedida; ela não precisou fazer mastectomia (remoção de uma ou de ambas as mamas) e teve alta do tratamento meses depois.

Aos poucos, eu também havia recuperado a autoestima, e no trabalho, devido às mudanças implementadas, o ambiente se tornou mais tranquilo. Recitando daimoku a cada dia, sentia-me preparado para enfrentar os problemas sem medo — algo fundamental para as próximas etapas que estariam por vir.

Em 2020, coragem e sabedoria foram assuntos recorrentes. Como muitos, iniciei trabalho em home office, tendo o volume de atividades praticamente dobrado. Como reflexo da nova rotina — apoiando minha filha e minha esposa, que se recuperava da cirurgia na época, e meu filho, que teve as aulas suspensas —, veio o descuido com a saúde. O estresse surgiu mais uma vez e, em certo ponto, não percebi o início de um problema de visão.

A situação se agravou e, em junho, decidi procurar um médico. No hospital, os exames apontavam para uma alteração brusca da glicemia como sintoma de diabetes. Fui internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com monitoramento de insulina feito por bomba dosadora durante 24 horas. Também tive de realizar reposição de alguns minerais como potássio e magnésio, num procedimento bastante doloroso. Além disso, fui acometido por uma bactéria e tive de ser medicado com fortes antibióticos.

Por conta da pandemia, não podia receber visitas. Num ato de coragem e de amor, minha esposa levou algumas roupas para mim e a liturgia da SGI. Como ainda tinha problemas para enxergar, seguia as páginas me guiando por um aplicativo no celular para fazer gongyo, e recitava daimoku o tempo todo.

No sexto dia na UTI, senti como se um peso tivesse recaído sobre os meus ombros e, resistindo a ficar triste, percebi tamanho sofrimento que existia ao redor. Não podia desistir, pois possuía o Gohonzon. No oitavo dia, tive alta com o quadro de saúde estabilizado. Quanta boa sorte! Retomei a rotina, com total apoio da empresa, da família e dos amigos Soka, e continuo o tratamento com ótimos médicos que se empenham por melhorias terapêuticas. O mais importante foi perceber que, com a prática budista, minha vida ganhou um novo significado: dedicar-me às pessoas. Concluí que o daimoku, recitado com forte fé e com o coração aberto, nos fortalece e nos possibilita avançar na direção da vitória. Tal como o presidente Ikeda incentiva: “Quando sua determinação muda, tudo começa a mudar na direção do seu desejo. No momento em que você resolve ser vitorioso, todo o seu ser, imediatamente se prepara para o sucesso”.1

Ademir Leite de Araújo, 46 anos. Biólogo. Membro da DS da Comunidade Americano, RM São José dos Campos, Sub. Vale do Paraí­ba, CLP, CGESP.

No topo: Ademir, com a esposa, Ivone, à dir.; o filho, Gabriel, à esq.; e a filha, Mariana, ao fundo

Nota:

  1. Brasil Seikyo, ed. 1.438, 15 nov. 1997, p. 4.