SAÚDE
ROTANEWS176 E POR DELAS 11/07/2017 09:00 Por Gabriela Brito
Tocar a região íntima ainda é tabu entre as mulheres, e isso pode fazer com que elas nem mesmo consigam reconhecer algo de errado com a saúde
As pessoas costumam falar que os mamilos são polêmicos. Entretanto, desde pequenas nós sabemos que teremos de tocar nossos seios para nos prevenir de problemas como o câncer de mama. O que é realmente polêmico no corpo feminino é a vagina.
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Reprodução/Foto-RN176 É importante conhecer sua vagina e a vulva não só pelo sexo, mas para saber quando há algo de errado com sua saúde
Pare para pensar: para a gente se conhecer de verdade, é preciso se descobrir, mas como fazer isso se o ato de tocar nossas genitálias ainda é um tabu? Não estamos nem falando de masturbação, apenas de olhar lá para baixo de vez em quando, abrir os lábios e ver como está a situação da vulva. Sim, é vulva. Vagina é outra coisa.
Parte externa
Tem gente que chama de pepeca, outros de piriquita ou até de margarida, mas o mais comum é a gente chamar de vagina mesmo. Só que a vagina é só uma parte do órgão sexual feminino. De acordo com a ginecologista Cíntia Pereira, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, ela é um canal que comunica o meio externo até o útero. “É o canal do parto e também faz a função sexual da mulher”, explica a especialista. Em outras palavras, é onde o pênis entra durante a penetração vaginal.
Já a parte externa que nós vemos é a vulva . Pensando na ordem barriga até o ânus, que é como se a gente tivesse olhando para baixo, primeiro vem o púbis, que fica coberto pelos pelos pubianos. Um pouco mais para baixo vem o prepúcio, que seria uma cobertura para o clitóris.
Reprodução/Foto-RN176 Tem gente que chama de pepeca, outros de piriquita ou até de margarida, mas a verdade é que essa aí de cima é a vulva
Apesar de muita gente achar que o clitóris é só aquela ‘cabecinha’ que aparece do lado de fora, ele é quase como o pênis masculino. A verdade sobre o clitóris ainda é muito discutida, mas especialistas já apontam que a parte interna deste órgão compreende “quatro perninhas” que se estendem até a entrada da vagina e ainda vão para os lados. Mais para baixo nós vamos explicar melhor.
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Depois do clitóris, vem a abertura da uretra, e é por lá que sai a urina. Não confunda essa saída com a abertura vaginal, que é por onde pode entrar o pênis durante o sexo e por onde os bebês e a menstruação saem. As duas aberturas são protegidas pelos pequenos lábios, e esses, junto com o clitóris, são protegidos pelos grandes lábios e pelos pelos pubianos.
Hímen
Já na escola nós começamos a ouvir falar dele. É apenas uma membrana, que começa a ser formada dentro do útero materno e não tem uma função específica, mas que, mesmo assim, reúne inúmeros mitos em torno de si. Sim, estamos falando do .
A membrana está muito ligada com a primeira vez da mulher no sexo, já que ela se rasga durante a relação. Entretanto, se você acredita que o hímen é uma prova de que a mulher é virgem ou que o sangue na cama é a prova de que, sim, ela tinha o hímen e ainda era virgem, está enganada.
Primeiro, porque uma relação sexual vai muito além de uma penetração vaginal, podendo ocorrer até mesmo sem o contato entre o pênis e a vagina . Segundo, porque com cada mulher é diferente. Pode ser que com uma pessoa o sangramento ocorra só na primeira vez, enquanto com outra ele aconteça mais de uma vez porque a membrana pode não se romper de uma vez só. Algumas mulheres ainda nem passam pelo sangramento. Isso não quer dizer que ela não era virgem, mas que seu hímen era diferente do das outras mulheres.
Ao todo, são cinco tipos diferentes de hímens: anular, septado, complacente, cribiforme e imperfurado. Veja a imagem:
Reprodução/Foto-RN176 Apesar do hímen ser uma barreira para a entrada do pênis na primeira vez, a dor está mais ligada à falta de lubrificação
Normalmente, o hímen só deixa a abertura vaginal com um diâmetro menor. A membrana só fecha por completo a entrada no caso do hímen imperfurado, que é considerado uma anomalia rara. Quando isso acontece, a menina não menstrua, já que não há um espaço para o fluxo sair. Isso gera dor e desconforto e precisa de intervenção cirúrgica para ser resolvido.
O mais comum mesmo é o hímen anular, que circunda a abertura vaginal, mas há variações: o septado conta com uma pele que divide em duas a abertura deixada pela membrana, enquanto o cibriforme tem uma membrana completa e cheia de furinhos para o fluxo passar. Há também o hímen elástico ou complacente, que é mais flexível e não se rompe com a penetração.
O fato do hímen complacente não se romper pode causar até mesmo problemas para a garota, já que em muitos lugares o sangue gerado pela primeira vez ainda é visto como sinal de que ela era virgem. O que não é verdade, como já vimos.
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A ginecologista Bárbara Murayama, coordenadora da ginecologia do Hospital 9 de Julho, explica que a presença de sangue no rompimento do hímen varia muito se a menina tem ou não um vaso sanguíneo na membrana. O sangue na primeira ou primeiras relações sexuais pode ter mais a ver com a falta de lubrificação do que com o rompimento do hímen em si.
“Já se espera que o hímen se rompa, mas na primeira vez há também a possibilidade de outros machucados. Quando não estamos lubrificadas, há chance de alguns cortes por conta do atrito. E com certeza a maioria das mulheres vai estar nervosa, e a chance de lubrificação é menor”, afirma a especialista. Uma dica para quem ainda vai ter sua primeira relação sexual é usar um lubrificante daqueles que vende em farmácia ou supermercado. Se a pessoa perceber que a região íntima está muito seca, pode utilizar o produto para ajudar na penetração e evitar machucados.
Além disso, um mito sobre o hímen, segundo a ginecologista, é acreditar que um dedo, um absorvente íntimo ou um coletor menstrual podem perfurar a membrana. “Apenas objetos com calibre de um pênis podem rompê-lo”, explica a especialista.
Clitóris
Reprodução/Foto-RN176 Com vocês, o clitóris, que é um órgão destinado só para o prazer feminino e é bem maior do que parece externamente
O prazer feminino durante o sexo ainda é algo que está sendo descoberto e reivindicado pelas mulheres. O curioso é que são elas que carregam o único órgão do corpo humano feito exclusivamente para o prazer: o clitóris. “Ele tem uma grande quantidade de terminações nervosas, e começa a ser formado ainda no útero da mãe, quando o feto recebe os hormônios femininos. O clitóris vai ser uma região aproximada do pênis”, explica a ginecologista Bárbara Murayama.
Diferentemente do que muita gente pode imaginar, esse amiguinho da mulher não é só aquela cabecinha que aparece na vulva. A verdade é que especialistas já indicam que ele é mais alongado, mas essa parte fica escondida no interior da região íntima.
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Quem revelou a informação foi a urologista australiana Helen O’Connel, que começou a investigar mais a região íntima da mulher na década de 90. Na época, ela acreditava que os médicos poderiam estar cortando nervos do clitóris sem saber, já que não havia informações sobre o órgão – bem diferente foi a abordagem com o prazer masculino, que já tinha até um medicamento para tratar a disfunção erétil quando as novas informações sobre o clitóris começaram a ser divulgadas.
E uma dica da ginecologista: sabe o prepúcio do clitóris? Ele funciona da mesma forma como o prepúcio do pênis e pode acumular secreção também. Sendo assim, é preciso cuidado com ele. “É interessante expor um pouco a região e limpar com água e um pouco de sabão neutro.”
Para que se conhecer?
Reprodução/Foto-RN176 É preciso falar mais sobre as partes íntimas, mas nada de se comparar com as amigas, já que as vulvas são diferentes – Reprodução/@the.vulva.gallery
As ginecologistas concordam que é fundamental para a mulher conhecer sua região íntima. “A mulher que conhece o corpo dela sabe quando o funcionamento não está adequado. E a genitália às vezes as pessoas pulam, evitam entrar em contato”, explica Cíntia.
A especialista recomenda que as mulheres se olhem com a ajuda de um espelho, conheça a sua vulva e até toque dentro da vagina. É precisa acabar com certos tabus e medos sem fundamento para que a mulher tenha uma relação mais íntima e saudável com ela mesma. “Uma mulher que se investiga sabe perceber um corrimento, um odor diferente, um caroço na mama, por exemplo. Se ela faz isso, já chega na consulta sabendo o que falar”, completa.
Como Bárbara costuma falar para suas pacientes, a vagina é uma parte do corpo como qualquer outra, com a diferença de que ela te “diverte”. É preciso acabar com as censuras em relação a região íntima da mulher para que todas possam se conhecer. E nada de se comparar com as amigas. Cada corpo é um corpo e cada vulva é uma vulva.
Muito cedo para se conhecer?
Bárbara explica que a curiosidade com a região íntima começa logo na infância. Não porque as crianças estão precocemente com desejos sexuais, mas porque o toque na vagina ou no pênis, mesmo ainda muito cedo, gera uma sensação gostosa.
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“É importante que os pais ou responsáveis respeitem essa curiosidade e eduquem as crianças sem reprimi-las. A sensação é gostosa para eles da mesma forma que passar a mão no cabelo é gostoso. Mas é preciso ensinar que não se pode fazer em público. Pode-se falar que é melhor fazer no quarto ou deixar para quando se é grande, igual o papai e a mamãe.”
Só não dá para falar que não pode, porque isso vai influenciar no desenvolvimento sexual da criança mais para frente. Se a menina crescer achando que é errado colocar a mão na vagina, como ela vai se conhecer quando for mais velha? Chega de tabu com a pepeca.