Das ruas para o mundo

RIO DE JANEIRO – BRASIL

ROTANEWS176 E POR JORNAL DO BRASIL 15/09/2018 09h19                                                                          FFONSO NUNES, affonso.nunes@jb.com.br

Fundação Playing for Change promove shows simultâneos hoje em diversos países

Os burburinhos da cidade, a circulação de pessoas, seus sonhos, muitas ideias… E sons. Numa tarde de 2002, o produtor musical Mark Johnson caminhava despretensiosamente pelas ruas de Santa Monica, na Califórnia, quando foi tomado por uma voz poderosa de timbres firmes e fortes, que carregava consigo a intensidade e complexidade da música negra. Assim, o engenheiro de som que já havia trabalhado com Paul Simon e Jackson Browne conheceu o cantor e guitarrista Roger Ridley. Os acordes de “Stand by me” podiam ser ouvidos a pelo menos uma quadra de distância. Extasiado, Johnson perguntou ao homem por que tocar nas calçadas se tinha uma voz tão marcante. “Cara, estou no negócio da alegria. Fico aqui para dar alegria às pessoas”, devolveu o artista.

Esta é a história que deu origem a Playing for Change, um projeto audiovisual que reúne pessoas ao redor do planeta que se conectam usando o poder da música para superar diferenças. Desde 2004, Johnson percorre o mundo filmando músicos famosos ou anônimos que executam a mesma canção, seja numa esquina em Nova Orleans, numa favela carioca, numa praça italiana ou numa comunidade rural sul-africana. Os vídeos do projeto são uma febre na internet. No mundo de Playing For Change, uma flautista israelense pode tocar com um percussionista pelestino. O que a ONU não consegue fazer, a arte é capaz de proporcionar.

Reprodução/Foto-RN176 Playing for Change (Foto: Divulgação)

O vídeo de Ridley e outros artistas anônimos cantando “Stand by me” obteve mais de 39 milhões de visualizações no YouTube. É parte do premiado documentário “Playing for change: peace through music” (Tocando por mudanças: a paz através da música), que já se desdobrou em outros longas, dezenas de videoclipes, quatro álbuns, turnês internacionais e um braço social que criou a Fundação Playing For Change, voltada para a criação de escolas de música que atendem cerca de 600 crianças no Congo, Gana, África do Sul, Nepal, Mali, Ruanda, Bangladesh, Argentina, Marrocos, México e Brasil.

Para manter essas escolas, o movimento realiza, desde 2011, o Playing for Change Day no terceiro sábado de setembro. Na edição do ano passado, a programação global envolveu 38 países de forma simultânea. O Rio de Janeiro está entre as cidades incluídas no evento.

No PFC Day, músicos entre os quais artistas de rua que nos acostumamos a ver nas calçadas, praças e no transportes públicos ganham visibilidade e têm a chance e apresentar a sua arte, e não apenas fazer parte de uma paisagem. Os palcos cariocas estão espalhados pela Tijuca, Lapa e São Cristóvão com programação a partir das 15h. Haverá apresentações também em Nilópolis, São Gonçalo e Niterói – no Teatro MunicipaldeNiterói a programação será dedicada ao público infantil. Entre as atrações da extensa programação, destaque para Eliana Pittman, Da Ghama (ex-Cidade Negra), Silvério Pontes, Arthur Maia, Annie Fabbreschi, Prole Preta, André Marçal e Rodrigo Auad.

“Há palcos em que serão cobrados ingressos, num preço médio de R$ 20 e palcos e outros gratuitos mas com urnas instaladas para receber doações”, informa o radialista Jorge Moreno, que representa a fundação no Rio. Toda a arrecadação do PFC Day conta, vai para a fundação, que se encarrega de distribuir os recursos entre as entidades atendidas no mundo.

No Brasil, a escola de formação musical fica em Curitiba e trabalha com uma metodologia que valoriza cada aluno individualmente. “A música é só um meio, a ferramenta usada para a socialização e a integração delas na sociedade”, acrescenta Moreno. Se uma delas demonstra habilidade e potencial para a música, a própria escola a encaminhará para uma instituição que possa lapidar esse talento.

O trabalho do Instituto Playing for Change no Brasil é exercido por voluntários. O grupo chegou a manter, até o ano passado, um espaço colaborativo no bairro de Guadalupe para fomentar a carreira de músicos, produtores, artistas e empreendedores.

Esta rede de parcerias, antecipa Moreno, pode ser o embrião para a criação da segunda escola de música do projeto no país. “Estamos nos estruturando para arrecadar, a partir do próximo ano, os recursos para que possamos ter uma escola aqui no Rio em 2020”, planeja o radialista, que mantém um programa semanal, o Playing for Change Show, transmitido aos sábados pela 94 FM (Roquete Pinto). Nele ouve-se músicas e notícias da PlayingForChangeBand e suas turnês internacionais, artistas parceiros, entrevistas e promoções.

O sucesso dos vídeos do Playing for Change no YouTube foi tão grande que boa parte dos músicos que participaram deles continuaram envolvidos no projeto, reunindo-se na banda que leva o mesmo nome. O veterano Grandpa Elliott, um carismático bluesman de Nova Orleans com jeitão de vovô, lidera o conjunto, que mistura canções de estilos dos mais variados continentes, dando sentido real à expressão world music. Muitas vozes e muitas sonoridades constituindo um único idioma.

E nas performances ao vivo é muito fácil perceber isso, a exemplo do que vimos no Rio, em agosto de 2012, quando a banda levou uma pequena multidão ao Parque Garota de Ipanema no Arpoador. “Eles têm tanto amor um pelo outro que acaba se tornando a performance ao vivo mais poderosa que você já viu”, elogia o produtor Mark Johnson, para quem a presença de artistas de sete, oito paises dividindo um palco exerce um fascínio sobre o público. “Eles e o público criam juntos este mundo onde há esperança, essa mágica. Nós não somos divididos por nossa raça, ou nosso gênero, ou quanto dinheiro nós temos, ou nossa política, ou nossa religião”, completa.

Johnson e sua sócia, Whitney Kroenke, viajam pelo mundo garimpando talentos que farão parte das novas produções entre medalhões e anônimos. Artistas do quilate de Keith Richards, Buddy Guy, David Crosby, Jack Johnson, Manu Chao, Warren Haynes (ex-Alman Brothers e Gov’t Mule), Dobbie Brothers e os brasileiros Sandra de Sá e AfroReggae participaram do projeto.

Sandra de Sá e o AfroReggae, por exemplo, tiveram a companhia do cantor caboverdiano Ilo Ferreira e de músicos brasileiros, argentinos, cubanos, jamaicanos e indianos na gravação da canção “Satchita”, um mantra indiano que pede aos deuses pela paz no mundo.

SERVIÇO

Sábado, 15/9

10h – Palco Galpão 252

Local: Rua Senador Salgado Filho 252, Olinda, Nilópolis

Atrações: Som que surge, Irmãos Lempé, Ventilador de teto, Marcos Gayoso, Projeto Monera, Capoeira Brasil, artesanato, gastronomia e exposição de fotos da Baixada Fluminense

13h – Palco A Barca do Som

Local: Bistrô Bendito – Cantareira (Av. Quintino Bocaiuva, 217, Niterói)

Atrações: Canamaré, Rock na Véia, Bicho Solto, Rodrigo Auad, Annie Fabbreschi, Beliza Luar, Bowbow, Arthur Maia, Facção Caipira, Carmo Soá, Caê Vimer, Da Ghama eSilvério Pontes

16h – Palco Kids

Local: Teatro Municipal de Niterói (Rua Quinze de Novembro, 35)

Atrações: Kiko Menezes com o Sonori EcoParque convida: Orquestrinha Sonori Lab, Coral Agnes Moço, Glorinha e Renato, Leonardo Braz e Ana Cristina Richa (Cores e Flores), Banda Violúdico, Marcio Selles e Anderson Silva (da orquestra de cordas da Grota), • Uke Drops (Grupo de Ukuleles) e Ricardo Gadelha (artista multilinguagem)

17h – Casa com a Música – Lapa

Local: Rua Joaquim Silva, 67

Atrações: Marvin Maciel, Renato Biguli, Banda Nocaute e Banda BXD (formada por músicos do Baixada Nunca Se Rende – Coletivo Aberto de Músicos).

17h – Palco Afro Fiesta

Local: Ganjah Coffee (R. do Rezende, 82)

Atrações: The Kraken Music, Prole Preta, Eliana Pittman, Fabio Homero, Edi MC (Nocaute), Rafael Costa (Syntonos), Gui Rodrigues e DJs

 

17h30 – Palco Pop

Local: Tower Park (Rua José Higino, 15, Tijuca)

Atrações: André Marçal, Juçara Freire, Dona Penha, Mica, Malize Trio e

DJ Karen dos Anjos

19h – Palco MPB

Local: Bistrô Conexão Entre Amigos (Rua São Cristóvão 291, São Cristóvão)

Atrações: Juçara Freire, Ricardo Germano e Leandro Tavares

21h – Palco Toma Rock

Local: Smoke Lounge (Rua Ibituruna, 8, Tijuca)

Atrações: Ballet Underground e DJ Wagner Fester

Domingo, 16/9

10h – Palco Ilumina Rio (intervenção urbana)

Local: Quinta da Boa Vista

Segunda, 17/9

15h – Palco Favela Mundo Rocinha

Local: Estr. da Gávea, 454, Rocinha