ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 13/02/2021 04:45
REDAÇÃO/ESPECIAL
No mês em que se inicia o 800o (octingentésimo) ano de nascimento de Nichiren Daishonin, relembramos a grandiosa trajetória do Buda em sua dedicação para enaltecer a dignidade da vida
Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustração – Editorial Brasil Seikyo – BSGI
Curiosamente, no Japão, utiliza-se uma forma alternativa do cálculo de idade:1 inicia-se a contagem do primeiro ano a partir do dia do nascimento e, ao se completarem doze meses, começa-se a contar o segundo ano, e assim sucessivamente. É diferente da forma ocidental, a partir da qual, por exemplo, uma pessoa nascida em 2021 só completará um ano de vida em 2022. Portanto, no caso do buda Nichiren Daishonin, que nasceu em 16 de fevereiro de 1222, de acordo com o calendário tradicional japonês, em 16 de fevereiro de 2021, inicia-se o 800º ano desde o seu nascimento.
Uma das principais figuras religiosas do século 13, Nichiren Daishonin dedicou sua nobre existência para despertar a condição de buda em todas as pessoas. Considerado o “Buda dos Últimos Dias da Lei”,2 enxergava todos com base na dignidade da vida inerente a cada indivíduo, respeitando-os e louvando-os. A história desse homem de imensa coragem poderia ser facilmente confundida com a de um personagem de ficção. Porém, em diversos momentos, a vida de Nichiren Daishonin se entrelaça com a própria história do Japão, o que permite conhecê-lo ainda com mais veracidade.
Missão de vida
Muito cedo, Daishonin percebeu que possuía uma grandiosa missão e, para entendê-la e cumpri-la, buscou o caminho da educação. Naquela época, no Japão, uma das poucas formas de adquirir conhecimento era estudar em algum templo budista. Assim, aos 12 anos, ele foi recebido no templo Seicho-ji. Depois, viajou por diversas localidades do país, percorrendo inúmeros santuários a fim de compreender profundamente o budismo. Tal dedicação lhe possibilitou chegar à conclusão de que o cerne do ensinamento budista era o Sutra do Lótus — Daishonin revelou a essência desse sutra na Lei fundamental do Nam-myoho-renge-kyo, cuja recitação (daimoku) libertaria as pessoas dos “quatro sofrimentos fundamentais” — nascimento, envelhecimento, doença e morte.
Além disso, ele despertou também para a missão de propagar essa percepção e condensá-la em forma de ensinamento para todas as pessoas, independentemente de classe social, gênero ou local de origem. O ápice desse momento da história de Daishonin ocorre em 28 de abril de 1253, quando ele recita vigorosamente Nam-myoho-renge-kyo declarando ser este o ensinamento budista capaz de salvar a vida das pessoas. Ao tomar a decisão de propagar a Lei do Nam-myoho-renge-kyo, a essência do Sutra do Lótus, o supremo ensinamento do buda Shakyamuni, Nichiren Daishonin dedicou a vida a essa missão, no real sentido da expressão. Ele foi perseguido por autoridades políticas, religiosas e pessoas comuns iludidas por ensinamentos errôneos e seus líderes invejosos — aqueles que tinham medo de perder posições sociais ou ter seus poderes contestados pela população.
Os anos se passaram e, em meio a tantas perseguições, exílios e tentativas de execução, Nichiren Daishonin manteve-se firme, incentivando seus discípulos a manifestar também uma postura altiva diante de qualquer dificuldade.
Obra dourada
Nichiren Daishonin redigiu centenas de cartas de incentivo aos seus discípulos e tratados, denominados Gosho (escritos honoráveis). Atualmente, mais de quatrocentos estão preservados, muitos dos quais já traduzidos para outros idiomas, inclusive para o português, preciosidades que estão disponíveis em quase todo o mundo.
A Soka Gakkai, organização fundada em 1930 pelos educadores Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda, representada mundialmente pela Soka Gakkai Internacional (SGI), presidida pelo Dr. Daisaku Ikeda, dedicou-se a compilar e publicar esses escritos, que formam a base fundamental do estudo e do aprimoramento de seus membros. A Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin vem sendo utilizada para conhecer de forma profunda o pensamento e a trajetória do Buda, assim como serve de apoio para o desenvolvimento de milhares de pessoas.
Sobre a abnegada dedicação de Daishonin, Ikeda sensei declara:
Nichiren Daishonin demonstrou plenamente esta verdade para todas as pessoas dos Últimos Dias da Lei por meio de sua luta abnegada em prol do kosen-rufu. Como indivíduo, ele “abandonou o transitório e revelou o verdadeiro”, estabelecendo um exemplo de como todos podem evidenciar o nobre estado de buda originalmente inerente.2
A filosofia budista oferece meios pelos quais é possível conduzir uma existência plena e realizada, iluminada pelo estado de buda. E são os heróis anônimos da família Soka — comprovando individualmente e também inspirando outras pessoas — que eternizam todos os esforços dedicados por Daishonin. É o kosen-rufu, movimento pela paz no mundo, sendo construído pelas pessoas comuns, tal como o Buda um dia desejou.
Biografia do Buda
A seguir, os principais fatos que marcam a trajetória da vida de Nichiren Daishonin:
1222 Nichiren Daishonin nasceu no povoado chamado Kataumi, na Vila de Tojo, no décimo sexto dia do segundo mês daquele ano (consideramos 16 de fevereiro de 1222). Originalmente batizado sob o nome de Zennichi Maro, era filho de pescadores, uma das classes sociais consideradas mais baixas da sociedade japonesa da época.
1233 Aos 12 anos, começa a estudar no templo Seicho-ji. Foi nessa época que ele expressou sua decisão de que se tornaria o homem mais sábio do Japão.
1237 Período em que decidiu se tornar monge e se aprofundar nos ensinamentos budistas, tendo Dozen-bo como seu mestre, ainda no templo Seicho-ji.
1253 No dia 28 de abril desse ano, por volta do meio-dia, no templo Seicho-ji, ele recitou pela primeira vez o Nam-myoho–renge-kyo e declarou que esse era o único ensinamento budista capaz de conduzir as pessoas para um caminho de felicidade. Foi nessa época, aos 32 anos, que adotou o nome de Nichiren (composto pelos ideogramas “Sol” e “Lótus”).
1260 Nichiren Daishonin apresentou às autoridades o tratado Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra, escrito por ele. Nessa obra, o Buda atribui a causa dos desastres e das calamidades da época ao fato de os japoneses caluniarem o ensinamento do Sutra do Lótus e praticarem amplamente os ensinamentos errôneos. Essa advertência não foi bem recebida pelos governantes. Nesse mesmo ano, Daishonin escapou de tentativa de assassinato pelos seguidores da seita Nembutsu, os quais invadiram sua residência. Após o ocorrido, afastou-se de Kamakura, onde vivia.
1261 Ao retornar a Kamakura, foi preso e, sem julgamento, exilado como criminoso na Península de Izu.
1263 Recebeu o indulto do exílio em Izu e retornou a Kamakura.
1264 Em 11 de novembro desse ano, Daishonin e seus discípulos foram covardemente atacados por militares. Na emboscada, alguns de seus discípulos foram mortos. O Buda sofreu um grave ferimento na testa e teve sua mão esquerda fraturada.
1268 Um documento expedido pelo império mongol, no qual constava ameaça de invasão violenta caso o Japão não se rendesse, chega a Kamakura. Esse fato atestava a veracidade do tratado Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra, enviado por Daishonin, que alertava sobre uma futura invasão estrangeira. Após saber do documento, o Buda enviou mais onze cartas aos líderes políticos da época — todas as mensagens foram ignoradas.
1271 Nichiren Daishonin foi intimado e interrogado por Hei no Saemon-no-jo Yoritsuna, figura poderosa do xogunato, e por policiais do governo. Daishonin prontamente advertiu o militar sobre a postura inadequada das autoridades. Dias depois, o próprio Hei no Saemon, acompanhado de alguns soldados, atacou a residência de Daishonin e o prendeu. Essa prisão foi seguida de tentativa de decapitação, interrompida por uma esfera luminosa que cortou o céu da madrugada, cegando a todos. Os executores se recusaram a decapitar o Buda. Devido a esse episódio, Nichiren Daishonin, convicto de suas crenças, “abandona a condição transitória de mortal comum e revela seu verdadeiro aspecto de buda”. Já as autoridades, impressionadas após o incidente com o misterioso astro luminoso, ficaram receosas e sem saber como agir.
1271 Ainda nesse ano, as autoridades decidem exilar Daishonin na Ilha de Sado, caracterizada pelo frio mortal do inverno. O local para o qual foi enviado não tinha a mínima estrutura para a sobrevivência de um ser humano.
1272 Nichiren escreve uma das suas principais obras: Abertura dos Olhos.
1273 Ainda exilado em Sado, escreve O Objeto de Devoção para Observar a Mente.
1274 Em fevereiro, Daishonin recebe indulto do exílio e retorna a Kamakura. Em abril, adverte Hei no Saemon pelas ações do governo ao buscar orações de religiões heréticas para a rendição do império mongol. A invasão ocorreu. Daishonin se muda para o Monte Minobu, local em que escreve A Seleção do Tempo e Saldar as Dívidas de Gratidão.
1279 Ocorre a “Perseguição de Atsuhara”, na qual um grupo de seguidores de Daishonin foi preso, torturado, intimidado e pressionado a abandonar a prática. Apesar de tudo isso, todos os integrantes se mantiveram firmes. Isso ocasionou a expulsão de dezessete deles da vila onde moravam; e outros três foram executados. Nesse mesmo ano, Daishonin cumpre o propósito de sua existência, inscrevendo o Gohonzon (do segundo ano da era Koan).
1282 No mês de agosto, aos 61 anos, Daishonin parte de Minobu e se instala na residência de Ikegami Munenaka. Ele chega ao local em 18 de setembro e, no dia 13 de outubro, falece concluindo sua nobre missão.
Notas:
- Até 1902, os japoneses contavam a idade ao nascer como um ano, e acrescentavam mais um a cada passagem do ano. Assim, quem nascia no dia 31 de dezembro já teria um ano ao nascer, e no seguinte já teria dois anos. Esse sistema era chamado kazoe-doshi. Uma nova lei de 1950 obrigou repartições públicas a usar a contagem de idade em que o primeiro ano é contado um ano (365 dias) após o nascimento. Entretanto, por questões culturais e de tradição, algumas comemorações ainda utilizam o kazoe-doshi.
- Refere-se ao período que se inicia cerca de dois mil anos depois da morte do buda Shakyamuni, da Índia.
- Brasil Seikyo, ed. 2.339, 10 set. 2016.
Leia mais:
Sobre os desafios vividos por Nichiren Daishonin, nas palavras do presidente Ikeda no Brasil Seikyo, ed. 2.339, 10 set. 2016.
Fontes:
Os Fundamentos do Budismo Nichiren para a Nova Era do Kosen-rufu Mundial. (Editora Brasil Seikyo, 2016. 78 p.).
A Vida de Nichiren Daishonin (Editora Brasil Seikyo, 2007. 127 p.).
Síntese do Budismo (Editora Brasil Seikyo, 2003. 166 p.).
