Metástase cerebral: entenda a progressão do câncer de Glória Maria

ROTANEWS176 E POR SAÚDE EM DIA  02/02/2023 15h16                                                                                        Por Milena Vogado

Glória foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2019. Mesmo após tratamento de sucesso, ela sofreu metástase cerebral e morreu nesta quinta.

 

Reprodução/Foto-RN176 Metástase cerebral: entenda a progressão do câncer de Glória Maria – Foto: Shutterstock / Saúde em Dia

A jornalista Glória Maria, ícone e referência no jornalismo nacional, morreu no Rio de Janeiro na manhã deste quinta-feira, 2. Glória foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2019. O tratamento com imunoterapia foi efetivo, mas depois a repórter e apresentadora sofreu metástase no cérebro (quando ocorre a invasão de células tumorais no órgão). Inicialmente, o tratamento com cirurgia deu certo. No entanto, os últimos esforços não tiveram êxito em conter as lesões.

“Diferente do câncer cerebral, que se origina no cérebro e consiste em células cancerígenas cerebrais, as metástases cerebrais do câncer de pulmão ocorrem quando as células cancerígenas se desprendem do tumor nos pulmões e entram na corrente sanguínea ou viajam pelo sistema linfático até o cérebro, onde se multiplicam”, explica o pós-PhD e neurocientista Prof. Dr. Fabiano de Abreu Agrela.

O Dr. Leonardo de Sousa Bernardes, neurologista com especialização em Neuro-Oncologia do Hospital Albert Sabin (HAS), explica que o câncer de pulmão é um dos que têm mais probabilidade de atingir o cérebro. Além deste, o câncer de pele (especificamente o melanoma, tipo mais agressivo), o câncer de mama e de rim também têm altas chances de evoluir para metástase cerebral.

“Estima-se que mais ou menos 30% pacientes que têm algum desses cânceres possam evoluir para metástase cerebral. E isso depende de vários fatores, entre eles o subtipo do câncer do paciente”, esclarece o médico.

No caso do tumor no pulmão, as chances são ainda mais altas. “Aproximadamente 10% dos pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (NSCLC) têm metástases cerebrais no diagnóstico inicial e até 40% acabarão desenvolvendo tumores cerebrais durante a doença”, estima o professor Dr. Fabiano.

Metástase cerebral

A metástase cerebral é um fator que piora a recuperação desse paciente, explica o Dr. Leonardo. “É um paciente mais grave que vai ter uma sobrevida menor, e muito provavelmente vai ter sintomas secundários a essa metástase”, afirma.

Segundo o neurocientista, Dr. Fabiano, à medida que os tumores cerebrais metastáticos crescem, eles podem danificar diretamente as células ou afetar o cérebro indiretamente, comprimindo partes dele ou causando inchaço e aumento da pressão dentro do crânio. Os primeiros sinais de alerta podem ser sutis e facilmente atribuídos a outras causas, incluindo quimioterapia. O neurologista do Hospital Albert Sabin aponta que o paciente pode sentir uma dor de cabeça nova e incapacitante, podendo ter dificuldade para engolir e deglutir, por exemplo.

Quanto maior a metástase, mais difícil é a chance de reversão

A metástase cerebral pode se formar através de uma lesão das meninges, as camadas que revestem o cérebro, ou como lesões sólidas. “Se for uma lesão única, o tratamento de escolha é a cirurgia com neurocirurgião. Agora, a partir de aproximadamente quatro ou cinco lesões, é preferível fazer a cirurgia seguido de radioterapia”, explica o Dr. Leonardo.

Quando ultrapassa de dez metástases, o médico explica que é necessário fazer uma radioterapia de céfalo total, com intuito paliativo. “Acima de dez metástases visíveis no exame, fica inviável fazer cirurgia para remover todas elas. E quando já tem diversas metástases, mais de dez por exemplo, é provável que tenham outras metástases microscópicas espalhadas pelo cérebro, que a gente acaba não enxergando com a ressonância num primeiro momento. Mas, se repetir a ressonância depois de alguns meses, acaba aparecendo”, afirma o médico.

De acordo com o especialista, as metástases podem recorrer. “Por mais que você faça a cirurgia ou faça radioterapia, elas podem voltar e voltar até mesmo mais agressivas. Então tudo depende do controle do tumor primário. Ou seja, no caso da Glória Maria, do tumor pulmonar dela. Se o tumor não estava bem controlado, a chance de recorrer é muito grande”, afirma.

Ele destaca também que as metástases são os tumores cerebrais mais comuns de todos. “São doenças difíceis de tratar mesmo. É preciso fazer uma vigilância regular do paciente com exames para checar se existe alguma possibilidade de surgir uma nova metástase”, conclui.

Glória Maria, ícone da TV

Glória Maria  começou no jornalismo na TV Globo, de onde nunca saiu. Além de referência, Glória foi pioneira. Em 1977, ela se tornou a primeira repórter a entrar no ar ao vivo e a cores no Jornal Nacional. A jornalista também mostrou mais de 100 países em suas reportagens e protagonizou momentos históricos.

Participou de coberturas como a da Guerra das Malvinas, em 1982; a posse do presidente americano Jimmy Carter, em 1977; os Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996; a Copa do Mundo da França, em 1998, entre outras. Com seu talento e carisma, proporcionou ao público entrevistas reveladoras e divertidas com grandes estrelas, como Michael Jackson, Usain Bolt, Paulo Coelho, Harrison Ford, Leonardo Di Caprio, Roberto Carlos e Madonna.