O diálogo é o caminho certeiro para paz

ROTANEWS176 E POR BRASILSEIKYO  26/01/2019 23:10

 INTRODUÇÃO

 Reprodução/Foto-RN176 Da direita para esquerda Dr. Daisaku Ikeda, ele  é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista  e atualmente é o Mestre e Terceiro  Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI. E o ex-presidente da União Soviética Mikhail Gorbatchov – Editora Brasil Seikyo – BSGI

Os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, que aconteceram nos Estados Unidos, ocasionaram grande impacto ao mundo. Em meio à sensação de insegurança constante gerada pelo terrorismo e o aprofundamento das ameaças da corrida armamentista, Ikeda sensei vem afirmando consistentemente que não se deve abandonar a palavra “dialogo”.

DISCURSO DO PRESIDENTE IKEDA

Trechos extraído da 30ª Proposta de Paz publicada em 26 de janeiro de 2005.

 Desde os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, o mundo vive em crescente tensão. Embora os governantes tivessem tomado medidas rígidas de segurança para impedir os ataques terroristas, que poderiam ocorrer a qualquer momento, a vida de muitos cidadãos comuns foi afastada pelo medo e pela insegurança, e não há sinais de um retorno à rotina que consideramos como normal.

Embora durante a Guerra Fria tenham sido, de certa forma mais obscura. É impossível identificar o potencial daqueles que perpetram atos terroristas, e não qualquer evidência que ajuda a visualizar e a resolver essa situação. Persiste a sensação de vulnerabilidade de que até mesmo as ações militares mais agressivas ou a imposição de medidas de segurança são incapazes de aliviar.

Em muitos países, a prioridade dada à segurança nacional tem, em anos recentes, incentivado companhas para o aumento de armas atômicas. Cada vez mais as questões de segurança nacional são usadas para justificar as restrições de direitos e liberdades. Encontro isso, energia e preocupação são desviadas dos esforços internacionais para questões globais como a pobreza e a degradação ambiental. O agravamento resultante das pessoas é outra consequência trágica do terrorismo e dos esforços para contê-lo.

Como a humanidade do século 21 poderá vencer a crise que enfrentamos? Não existe. Obviamente, uma solução simples nem “varinha mágicas” que tornem tudo melhor. O caminho é arriscado, exige que se encontre uma resposta apropriada para essa violência que rejeita todas as tentativas de engajamento ou diálogo.

Mesmo assim, não há por que cair no pessimismo improdutivo. Não faz sentido. Todos esses problemas são causados pelos seres humanos, o que significa que para eles existe uma solução advinda do ser humanos. Não importa quanto tempo esses esforços levem, enquanto não desistirmos do trabalho de desatar os fios emaranhados dessas questões estar seguros de que encontramos um caminho certo.

Esses esforços devem se valer do pleno potencial do diálogo. Enquanto a humanidade existir, enfrentaremos os eternos desafios de realizar, manter e fortalecer a paz pelo diálogo. Precisamos defender e proclamar essa convicção incessantemente, sem nos importarmos com o riso frio ou as críticas cínicas com que possamos ser recebidos.

O ano de 1975 também foi uma época de grandes conflitos e de divisão no mundo. Os abalos que se seguiram a quarta guerra entre Isael e Arábia Saudita (1973) e à Guerra do Vietnã ainda eram sentidos. A primeira reunião de cúpula dos principais países industrializados foi realizada naquele ano para fortalecer a união do bloco ocidental, enquanto no bloco comunista, o confronto entre a China e a União Soviética antiga se intensificava de forma ameaçadora.

Dediquei o ano que precedia à fundação da SGI ao intenso esforço no diálogo. Minhas primeiras visitas à China e à União Soviética ocorreram em 1974. Profundamente ciente das tensões potencialmente explosivas, encontrei-me várias vezes com os altos lideres dessas duas nações, engajando-os em sincero diálogo.

Naquela época, no Japão a União Soviética e seu povo eram vistos com grande hostilidade. Muitas pessoas criticavam minha decisão de viajar para esse país, questionando que proposito eu teria, como um religioso, de visitar uma nação que não aceitava a religião? Mas minha sincera crença, como budista, era de que o sonho da paz só seria realizado se o bloco comunista, que representava um terço da população mundial, fosse reconhecido e participante do diálogo. Para mim, era crucial encontrar uma brecha o mais rápido possível.

Em minha primeira visita à China, em maio de 1974. Vi os cidadãos de Pequim construindo uma vasta rede de abrigos subterrâneos para se proteger de um provável ataque soviético. Quando me encontrei, três meses mais tarde, com o primeiro-ministro soviético Aleksey Nikolaievich Kosygin (1904-1980), transmitir a ele minha preocupação sobre o que observara na China quanto às intenções do seu país. Perguntei-lhe de forma direta se planejava atacar a China. O primeiro-ministro respondeu que a União Soviética não tinha intenção de atacar nem de isolar a nação chinesa.

Levei essa mensagem na viagem que fiz em seguida à China, em dezembro daquele ano, transmitindo-a aos líderes chineses. Foi também nessa visita que me encontrei com o primeiro-ministro Zhou Enlai (1898-1976), e discuti com ele a importância de estreitar e fortalecer a amizade entre a China e o Japão e de trabalharmos juntos por um mundo melhor.

Em janeiro de 1975, visitei os Estados Unidos e apresentei às Nações Unidas uma petição com mais de 10 milhões de assinaturas, coletadas por membro da Soka Gakkai do Japão, pedindo a abolição das armas nucleares. Tive também a oportunidade de trocar ideias a esse respeito com o secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger.

Foi em meio a tantos esforços para promover o diálogo que a SGI foi fundada há trinta anos, no dia 26 de janeiro de 1975. A convenção inaugural foi realizada na ilha de Guam, palco de intensas batalhas durante a Segunda Guerra Mundial, e teve a participação de representantes de 51 países e territórios. Desde a sua fundação, a SGI tem ajudado a manifestar a energia e a criatividade das pessoas para formar um movimento popular efetivo em prol da paz.

Os membros da SGI mantêm essa convicção original de que o diálogo representa o caminho correto e certeiro para a paz. Eu tenho também me empenhado no exercício da “diplomacia humana”, o tipo de diplomacia que visa por meio da amizade e da confiança promover amplos intercâmbios populares nos campos da educação e da cultura e assim unir o mundo que outrora foi dividido.

Procurando enxergar além das diferencia nacionais e ideológicas, engajei-me em diálogos com líderes de vários campos de atuação pelo mundo inteiro. Encontrei-me com diversas pessoas e dialoguei com elas sobre diferentes pensamentos filosóficos, culturais e práticas religiosas, incluindo judaísmo, cristianismo, islamismo, hinduísmo e confucionismo. Minha crença, fortalecida ainda mais por essa experiência, é a de que o fundamento para o diálogo que o século 21 necessita deve ser o humanismo-um humanismo que vê o bem como aquilo que nos une e aproxima, e o mal como aquilo que nos divide e isola.