ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 20/02/2021 06:20
RELATO
Tatiane decidiu enfrentar os desafios com coragem para criar uma trajetória feliz
Reprodução/Foto-RN176 Tatiane Farias Hitzchky, Resp. pela DF do Bloco Cabo Antonio; RM Itapegica; Sub. Arujá-Guarulhos; CGSP; CGESP; Tatiane com seu filho, Lorenzo
Tive o primeiro contato com o budismo quando ainda estava com 2 anos, por intermédio da família do meu padrasto, a qual considero como minha. Eles são maravilhosos! No entanto, cresci uma adolescente problemática, por conta de traumas que sofri. Aos 16 anos, fui morar com meu namorado. Aos 18 anos, engravidei da minha filha Emily e, aos 20 anos, tive a segunda filha, Giovanna.
À procura de um direcionamento, busquei diferentes religiões. Mas, aos poucos, voltei a participar de algumas atividades da BSGI. Terminei o relacionamento e, então, no início de 2006, recebi o Gohonzon! Passei a me desenvolver na organização e recomecei a vida. Encontrei um companheiro e tive meu filho Lorenzo. A cada vitória, fortalecia minha convicção. “Ter ‘fé no Nam-myoho-renge-kyo’ é acreditar que a Lei Mística que abarca e sustenta todas as coisas no universo é sua própria vida. Ela existe dentro de você. Em outras palavras, é recitar daimoku acreditando que o Nam-myoho-renge-kyo é sua própria vida”.1
Quando surgiram as primeiras suspeitas de que algo estava errado com relação ao desenvolvimento do Lorenzo, recitei daimoku com essa determinação. Até que, em fevereiro do ano passado, descobrimos que ele está dentro do espectro do autismo, e procuramos um especialista para validar o diagnóstico.
Reprodução/Foto-RN176 Alecsandro, marido de Tatiane; a filha, Emily; Lorenzo; e ela
A primeira psicóloga que o avaliou me elogiou por me considerar uma mãe diferente, que não recusava o diagnóstico e estava pronta para agir. Acredito que tal percepção era por conta do sorriso que eu mantinha no rosto feito máscara. No entanto, por dentro, sentia-me profundamente triste, mas segui. Matriculei-me num curso sobre o autismo e a respeito do método Applied Behavior Analysis (ABA). Comprei diversos livros e vasculhei os canais do YouTube. Busquei aprender o máximo possível para auxiliar o Lorenzo em casa, pois o recomendado é que ele tenha pelo menos trinta horas semanais de estímulos e atividades, e nós não podíamos arcar com os custos de uma clínica especializada.
Intensifiquei minha prática, recitando mais daimoku e me dedicando ao estudo do budismo. Esforcei-me para atuar com diligência no bloco, no Orquídea da Paz [grupo de bastidores da Divisão Feminina] e no Departamento de Comunicação da BSGI (Decom), pois entendia que essa era a oportunidade para revolucionar minha vida e a de toda a família.
Esse era o meu ritmo quando veio a pandemia do coronavírus. A escola parou, a psicóloga cessou os atendimentos, o papai começou a trabalhar em casa, o salário foi reduzido, abandonei meus clientes no trabalho como designer e os encontros da organização se tornaram virtuais.
Reprodução/Foto-RN176 Alecsandro; o irmão de Tatiane, Ruam; a filha, Giovanna; e ela
Eu, que vinha lutando bravamente, comecei a sentir os primeiros sinais da depressão. Foram dias incontáveis que passei deitada, chorando, sem reagir. Sofri picos de ansiedade e senti faltar o oxigênio toda vez que minha cabeça era tomada pelo monstro “e se”. Refletia sobre a maternidade, pensava no meu filho e me sentia culpada. Experimentei o gosto amargo da vergonha e da decepção comigo mesma — sem dúvida, havia chegado ao fundo do poço. Mas, por ter o Gohonzon, o daimoku e Ikeda sensei, lá, no fundo, encontrei uma mola.
Nutrir o coração
Como diz a jornalista e escritora Ana Michelle Soares: “Sofrer não é vergonhoso para ninguém e acolhi meu surto com toda a legitimidade que ele merecia. O sofrimento existe para que a felicidade faça sentido”.2
O buda Nichiren Daishonin completa: “Sofra o que tiver de sofrer, desfrute o que existe para ser desfrutado. Considere tanto o sofrimento quanto a alegria como fatos da vida e continue recitando Nam-myoho-renge-kyo, independentemente do que aconteça. Que outro significado isso poderia ter senão a alegria ilimitada da Lei? Fortaleça o poder de sua fé mais do que nunca”.3
Confiante, voltei a participar das atividades, agora on-line, e nutri meu coração com o desejo sincero de comprovar a veracidade da Lei Mística, vivendo com alegria o tempo presente. Concebi que praticar o budismo nesta existência não é somente boa sorte, mas um privilégio, pois podemos contar com um mestre da vida em todos os momentos. Por reconhecer tal alento, eu me propus levar essa filosofia para as pessoas que sofrem, como parte da minha missão, a começar pelo meu bloco, no qual realizamos reuniões maravilhosas para shakubuku durante esse período.
Reprodução/Foto-RN176 com membros do Bloco Cabo Antônio. Todas as fotos foram tiradas antes da pandemia do coronavírus
Compreendendo que carma é missão, vi a luz da minha boa sorte brilhar. Percebi que ela sempre esteve lá, presente no diagnóstico precoce do meu filho, na possibilidade de pagar um bom convênio, no aumento de salário que chegou em meio à pandemia; e principalmente no apoio dos amigos, dos líderes da organização, mães atípicas, médicos, terapeutas e advogados. No fim, concluí que o autismo não é uma doença, portanto, não tem cura. A saída para o autismo está em um mundo mais humano. E isso é possível quando decidimos curar nosso coração e aquilo que nos impede de evoluir e avançar, reconhecendo nossa dignidade e a de outras pessoas.
Tatiane Farias Hitzchky, 39 anos. Social media e designer. Resp. pela DF do Bloco Cabo Antonio; RM Itapegica; Sub. Arujá-Guarulhos; CGSP; CGESP.
Notas:
- Terceira Civilização, ed. 574, jun. 2016, p. 16.
- Enquanto Eu Respirar, p. 90.
- Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin, v. I, p. 713.
Especial
Correnteza incessante da paz