Como o aquecimento global está afastando filhotes de pinguim de seu alimento vital

Mudanças climáticas podem fazer com que a segunda maior espécie de pinguins morra de fome na Antártida, diz pesquisa.

ROTANEWS176 BBC BRASIL.COM 03/03/2018 14:17

Os pinguins-rei podem estar sob grave risco, caso nada seja feito para interromper o aquecimento global e seus efeitos.

SAIBA MAIS

Imagens do espaço revelam supercolônia desconhecida com 1,5 milhão de pinguins na Antártida

Astronautas voltam da estação espacial após mais de 5 meses

STF decide se anistia do novo Código Florestal a quem desmatou é válida

Arqueólogos dizem ter solucionado mistério sobre ‘múmia que grita’ encontrada há mais de 100 anos

O que é a ‘Besta do Leste’, fenômeno sem precedentes que deixou a Europa em alerta por onda de frio

Segundo cientistas, alguns dos redutos dos pinguins-reis no oceano Antártico podem se tornar insustentáveis para a vida desses animais. O problema é o distanciamento contínuo entre as áreas de reprodução e as de alimentação. Ou seja, à medida que as temperaturas aumentam, a comida fica mais longe do local onde ficam as crias.

Reprodução/Foto-RN176 Pinguins-rei procriam em muitas das ilhas da Antártida / Foto: CNRS Foto: BBCBrasil.com

“Nossa pesquisa mostra que quase 70% dos pinguins-rei – cerca de 1,1 milhão de casais – terão que se realocar ou desaparecerão antes do final do século, devido à emissão de gases de efeito estufa”, disse Céline Le Bohec, do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica e da Universidade de Estrasburgo.

Le Bohec e sua equipe estudaram quais podem ser os possíveis impactos do aquecimento global no acasalamento de pinguins-rei na Antártida nas próximas décadas. Além de modelagem climática, os pesquisadores fizeram análise genética para descobrir o histórico da espécie. As descobertas foram publicadas na revista científica Nature Climate Change.

Reprodução/Foto-RN176  No final do século 19 ou no início do século 20, os pinguins foram caçados por causa da sua carne, ovos e pele / Foto: CNRS Foto: BBCBrasil.com

Os pinguins-rei são a segunda maior espécie de pinguins no mundo, em número de animais. Exigentes na escolha do local para criar os filhotes, preferem ilhas sem gelo marinho e que tenham areia fofa ou praia de seixo (uma espécie de cascalho).

Mas também precisam de um bom suprimento de peixes e lulas. No oceano Antártico, isso pode ser encontrado ao longo de uma faixa conhecida como Frente Polar Antártica. São águas ricas em nutrientes, que abrigam grande quantidade de presas.

A questão é que a Frente Polar Antártica está se movendo em direção ao polo. E, caso as temperaturas globais continuem a aumentar, como é esperado, a Frente pode se afastar do alcance de muitos pinguins, sugere a pesquisa. Setecentos quilômetros são o limite que as aves podem viajar sem expor suas crias ao risco de morrer de fome nos seus ninhos.

“As ilhas Marion e Princípe Edward e a ilha Crozet enfrentarão as maiores dificuldades nos próximos 50 anos. Esses são os maiores redutos de população (de pinguim-rei)”, afirma Le Bohec. “Se nós continuarmos a emitir gases de efeito estufa, as ilhas Kerguelen, Falkland e Terra do Fogo também vão enfrentar dificuldades”.

Velocidade da mudança

A análise genética relevou que o pinguim-rei já sofreu perdas populacionais no passado, sobretudo cerca de 20 mil anos atrás, quando temperaturas mais frias expandiram a faixa de gelo do mar. Sendo assim, há evidências de que os pássaros podem se recuperar.

“O problema é a velocidade dessa mudança. É realmente muito rápido. E isso vai dificultar que os pinguins se adaptem”, afirmou Le Bohec.

Reprodução/Foto-RN176  700 quilômetros é o limite que as aves podem buscar comida sem expor os filhotes ao risco de morrer de fome / Foto: CNRS  Foto: BBCBrasil.com

Norman Ratcliffe, da Pesquisa Britânica sobre a Antártida, confirmou que a movimentação na Frente Polar Antártica é um fator muito importante para os pinguins-rei. Análises independentes de dados de reprodução nas ilhas Crozet e Kerguelen mostraram que as aves não conseguiram se alimentar nos anos em que a frente se moveu temporariamente para muito longe do sul.

“A redução do acesso a locais com alimentos pode provocar a perda de colônias de pinguins-rei no futuro, mas não há evidência de que nós tenhamos atingido um ponto sem volta”, afirma. “Por enquanto, as populações de pinguins-rei ainda estão aumentando, provavelmente devido à recuperação da pressão provocada pela caça no passado”.

BBC BRASIL.com – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC BRASIL.com.