Pela ciência humanística

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 16/12/2022 13:18                                                                        RELATO DA REDAÇÃO 

Patricia Endo e sua disposição de contribuir efetivamente para o bem social, tendo os jardins Soka como inspiração

 

Reprodução/Foto-RN176 Patricia Takako Endo, Responsável pela DF da RM Pernambuco, CRE Oeste, CGRE.

Desde a juventude, essa jovem cosmopolita não perdeu o olhar de fazer de sua vida exemplo de um nobre propósito. “Ser uma cidadã do mundo, fazer a diferença na vida das pessoas”. Chegando a seu atual momento de vida, lá está Patricia Takako Endo, 39 anos, vivenciando um grande reconhecimento profissional. Nada de graça, pois, para isso, está sua dedicação há mais de 21 anos de formação acadêmica (da graduação em 2001) e atuação na Universidade de Pernambuco (UPE), desde 2009, como professora pesquisadora. A homenagem vem da comunidade científica, e destaca suas contribuições na área em matérias estam­padas na grande mídia.

A família do pai de Patricia se converteu ao Budismo Nichiren no Japão, em 1954. Filha de Yoshio e Emiko Matsumoto Endo, é a mais velha entre as irmãs (Angela, 38; e Vitória, 30) e experimentou mudan­ças junto com os familiares: nasceu em João Pessoa, Paraíba; cresceu em Belém, Pará, e hoje reside na capital pernambucana, Recife. Sua infância e juventude foram imersas nos jardins Soka, um ambiente propício para a desco­berta das artes, do engajamento e do especial comprometimento com a vida em sociedade.

Professora e pesquisadora da Universidade de Pernambuco (UPE), Patricia está à frente do compartilhamento de conhecimento e de aprendizado a alunos de graduação, mestrado e doutorado. Este ano chegou à marca de mais de duzentas publicações científicas, sendo a quinta docente mais produtiva na última avaliação realizada pela universidade. No campo familiar, comprovou, por meio da prática da fé, a vitória na batalha travada com questão de saúde da mãe. Envolve-se em projetos que integram computação e saúde, e alça voo para novos desafios, tendo ao lado o marido, Cleber, “companheiro de sonho”. Patricia relata, a seguir, a construção dessa inspiradora jornada.
Berço Soka

Eu cresci nos jardins Soka, terreno fértil para o despertar de minhas potencialidades. Fiz parte da banda feminina de jovens, Asas da Paz Kotekitai, por quase vinte anos. Apesar de eu ter me mudado com a família para várias cidades, sempre encontramos o mesmo ambiente acolhedor na Soka Gakkai. Na Divisão dos Jovens (DJ), assumi lideranças de bloco e até de Área em Belém; e em Recife, fui responsável pelo distrito e também vice-responsável pela Divisão Feminina de Jovens (DFJ) da Região Estadual (RE) e responsável pela Divisão dos Estudantes (DE) da RE. Meu cora­ção sempre encontrou eco nos direcionamentos de Ikeda sensei, no estímulo para que os jovens visualizassem um futuro grandioso, sonhos e ação pela paz. Então, acredito que essa semente foi crescendo em meu coração a cada dia.

Fiz graduação em engenharia da computação na Universidade Federal do Pará (2001-2005), mestrado em ciência da computação na Universidade Federal de Pernambuco (UPE) (2006-2008), e doutorado em ciência da compu­tação na Universidade Federal de Pernambuco (2010-2014). Sou professora e pesquisadora da UPE desde 2009, atuando no curso de graduação em sistemas de informação na cidade de Caruaru (cerca de 120 quilômetros da capital Recife) e no Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Computação em ambas as cidades, Caruaru e Recife.
O mundo se torna menor

Em janeiro de 2018, parti para a realização de um grande objetivo: meu pós-doutorado fora do Brasil, junto com meu marido, Cleber, na Dublin City University (DCU), Irlanda. Meu pós-doutoramento durou cerca de dois anos e foi, sem dúvida, um divisor de águas em minha vida acadêmica. Gerenciei o time de cientistas da DCU que fazia parte de um projeto de pesquisa composto por universidades e empresas de diversos países da Europa, como Grécia, Espanha, Suécia, Inglaterra e Alemanha. Durante o meu pós-doutoramento, realizei diversas viagens para colaboração científica, melhorando cada vez mais meu inglês e aprofundando meus conhecimentos científicos na área que estava pesquisando.

Reprodução/Foto-RN176 Patricia e seus familiares – Foto: Arquivo pessoal

Retornei ao Brasil em 2020, em meio à pandemia, com a certeza de que, apesar das dificuldades e da escassez de recursos (financeiros e humanos), também temos a capacidade de desenvolver pesquisa de alta qualidade aqui. Estava decidida a dar continuidade a tudo o que havia iniciado na Irlanda e a criar “valores humanos” na Universidade de Pernambuco. Como consequência da excelente colabora­ção do pós-doutorado, assim que retornei, fundamos um grupo de pesquisa chamado dotLAB Brazil na UPE. Atualmente, ele possui mais de dezessete pesquisadores, contando com alunos de graduação, mestrado e doutorado, colaborando e desenvolvendo pesquisa científica com várias instituições brasileiras.

Já de volta ao Brasil, meu pai passou por uma cirurgia preventiva de câncer e, junto com o lockdown da pandemia da Covid-19, minha mãe descobriu a existência de um câncer de mama raro. Não obstante o contexto desfavorável, ela conseguiu realizar os exames rapidamen­te. O plano de saúde aprovou as solicitações em tempo hábil e nós encontramos os melhores médicos para lhe acompanhar durante todo o tratamento. Não tenho dúvidas que isso foi o resultado de muita boa sorte acumulada por meio da nossa prática.

Seguindo o protocolo, minha mãe continuou realizando o tratamento de imunoterapia e, em março, realizou quinze sessões diárias de radioterapia. No dia 19 de maio de 2021, ela fez a última sessão de imunoterapia, finalizando dessa forma seu tratamento contra o câncer. Vitória novamente!

Durante todos esses meses, nossa rotina foi alterada para acomodar as diversas consultas médi­cas e exames, havendo dias de muito cansaço físico e emocional. Mesmo assim, minha mãe e eu sempre mantivemos firme fé e tranquilidade inabalável. Não houve um dia de dúvida! Hoje, meu pai e minha mãe, apesar dos exames rotineiros e das sessões de fisioterapia, estão desfrutando boa saúde, gravando no coração a certeza destas palavras do buda Nichiren Daishonin de que “O Nam-myoho-renge-kyo é como o rugido de um leão. Que doença pode, portanto, ser um obstáculo?”.1 Quanta gratidão!

Nos momentos desafiadores, trazia à mente um trecho do poe­ma dedicado ao grupo Asas da Paz Kotekitai pelo nosso mestre:

Não há anjo que chora
por mais severo que seja,
o exercício do treinamento.
Tornar-se forte é ser feliz
porque assim você

pode conhecer
a própria capacidade

de conduzir
muitas pessoas à felicidade.2

Em meio a esse desafio familiar, consegui conciliar minhas atividades profissionais e minhas responsabilidades na organização. Hoje, atuo como responsável pela Divisão Feminina (DF) da RM Pernambuco, envolvendo-me com os demais líderes para promover incentivos e o desenvolvimento da localidade. Meu marido é líder de distrito na RM e avançamos unidos com os companheiros.

Reprodução/Foto-RN176 Com o esposo – Foto: Arquivo pessoal

Novembro de 2022 ficará marcado de uma forma muito especial em minha vida. Primeiro, no dia 27, comemoramos nosso Jubileu de Ouro (cinquenta anos) do kosen-rufu (movimento pela paz) em terras pernambucanas. Quanta gratidão ao Mestre, que nos fez renovar o espírito de luta com suas palavras: “Daqui para a frente também, haja o que houver, continuem recitando daimoku, ‘considerando tanto o sofrimento quanto a alegria como fatos da vida’ e avancem corajosamente!”.3

E no dia 30 de novembro, no Rio de Janeiro, eu estava celebrando, como uma das sete laureadas, o Prêmio para Mulheres na Ciência 2022, uma iniciativa da L’Oréal Brasil, da Academia Brasileira de Ciências e da Unesco, que têm como objetivo promover e reconhecer a participação feminina na ciência, favorecendo o equilíbrio dos gêneros no cenário brasileiro. Foi uma grande emoção, e me senti a cosmopolita que Ikeda sensei me fez acreditar ser possível. Meu projeto é na área da saúde e utiliza técnicas de inteligência artificial para auxílio dos médicos e profissionais da saúde na melhoria da qualidade do atendimento a gestantes, investigando dados científicos para minimizar as taxas de mortalidade. Importantes revistas brasileiras deram destaque em suas publicações.

E o futuro?

Estou ciente de que não basta possuir apenas certificados no currículo. O fato de ter passado por mais de vinte países, nos quais conquistei importantes experiências, por meio de participações em seminários e em reuniões de projetos de pesquisa, foi importante para a minha formação profissional. Porém, tenho a consciência de que preciso devolver à sociedade o fruto de tudo isso, contribuir para o bem social com o que aprendi no ambiente Soka, exercendo minha missão como uma cidadã do mundo conforme sempre ouvi do sensei na juventude.

Reprodução/Foto-RN176 Momentos nas atividades locais – Foto: Arquivo pessoal

Todo aprendizado nessa minha jornada é meu tesouro da vida. Sigo ainda mais determinada a materializar minhas pesquisas científicas em prol do bem comum. Fora o programa pelo qual fui reconhecida no prêmio deste ano, desenvolvo outros projetos que utilizam inteligência artificial para minimizar desfechos negativos com doenças como malária, tuberculose e arboviroses. Valorizo e reconheço o papel das minhas parcerias atuais, como Programa Mãe Coruja Pernambuca­na, Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado do Amazonas, Instituto Saúde para Todos. Faço parte também de um grupo afro-reggae feminino, chamado Tambores D’Saia, que reforça a participação da mulher na sociedade, e combate a homofobia, o racismo e a qualquer tipo de discriminação.

Olho para trás com o mais puro sentimento de gratidão. Não há emoção maior que viver por um propósito nobre, que dá sentido aos nossos dias. Agradeço ao meu marido, à minha família, aos companheiros Soka, que me deram todas as oportunidades de me aperfeiçoar como pessoa, e, em especial, ao meu mestre, Daisaku Ikeda. A ciência humanística é minha frente de batalha, daqui do Nordeste para o Brasil e para o mundo. Sensei, conte comigo! Muito obrigada!
Patricia Takako Endo, 39 anos. Professora e pesquisadora universitária. Responsável pela DF da RM Pernambuco, CRE Oeste, CGRE.

Notas:

  1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 431-432, 2020.
  2. RDez, ed. 139, 8 jul. 2013, p. 22-23.
  3. Brasil Seikyo, ed. 2.624, 10 dez. 2022, p. 14.

 

Fotos: Arquivo pessoal