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ROTANEWS176 E POR MD. SAÚDE 23/04/2023 11:00 Por Dr. Pedro Pinheiro
O que é corrimento vaginal?
Corrimento vaginal é o nome que damos à secreção de fluidos pela vagina, que, dependendo das suas características, pode ser algo completamente normal ou um sinal de doença ginecológica.
As secreções vaginais naturais são produzidas por glândulas no canal vaginal e têm um importante papel na saúde feminina, pois ajudam na eliminação de células mortas e bactérias do sistema reprodutor. Isso mantém a vagina limpa e ajuda a prevenir infecções.
Em geral, corrimentos claros, que não estão associados a outros sintomas, são benignos e não precisam de tratamento. Por outro lado, se o corrimento tiver coloração esverdeada ou amarelada, mau cheiro e estiver associado à dor ou coceira, ele provavelmente é um sinal de infecção ginecológica.
Neste artigo abordaremos as principais causas de corrimento vaginal, detalhando os sinais e sintomas que podem indicar uma vaginite ou colpite (inflamação da vagina).
Se você procura informações específicas sobre corrimento vaginal na gravidez, leia: Corrimento na gravidez.
Informações em vídeo
Antes de iniciarmos as explicações, assista a esse curto vídeo produzido pela nossa equipe.
Corrimento vaginal normal
Antes de falarmos sobre o corrimento vaginal fisiológico, isto é, o corrimento vaginal normal, não relacionado a doenças, temos que fazer uma rápida revisão da anatomia ginecológica feminina.
É muito comum a confusão entre vagina e vulva. Quando olhamos para a genitália externa feminina o que vemos é a vulva; da vagina só conseguimos observar o seu orifício externo, pois a vagina propriamente dita é o canal que fica no interior do corpo e termina no colo do útero, como pode ser visto na ilustração abaixo.
RN176 Central de reprodução da mulher
O corrimento normalmente se origina na vagina e só se torna perceptível quando sai pelo orifício externo da mesma. Em alguns casos, o corrimento pode ter origem no colo do útero.
Todas as mulheres em idade reprodutiva podem ter corrimento vaginal normal, chamado corrimento vaginal fisiológico. Este corrimento é formado pela combinação de células mortas da vagina, bactérias naturais da flora vaginal e secreção de muco; costuma ter entre 1 e 4 ml de volume diário e sua função é umedecer, lubrificar e manter a vagina limpa, dificultando o surgimento de infecções.
O corrimento vaginal fisiológico é estimulado pelo estrogênio e, portanto, pode ter seu volume aumentado em períodos nos quais há maior estimulação hormonal, como na gravidez, uso de anticoncepcionais à base de estrogênios, no meio do ciclo menstrual, perto da ovulação ou dias antes da menstruação.
O corrimento vaginal normal geralmente tem as seguintes características:
- Pode ser espesso, aquoso ou elástico.
- Sua cor é branca, leitosa ou transparente.
- Apresenta odor muito suave ou nenhum odor.
- Ausência de sinais ou sintomas de irritação, como dor, ardência, vermelhidão ou comichão na vagina ou vulva.
Essa última caraterística é uma das dicas mais importantes para identificar um corrimento fisiológico. Todavia, é importante salientar que uma discreta irritação na vulva pode ocorrer em algumas mulheres com corrimento fisiológico.
Variação do corrimento vaginal ao longo do ciclo menstrual
As características do corrimento vaginal fisiológico mudam ao longo do ciclo menstrual e são tão típicas que podem servir de guia para as mulheres que querem identificar o dia da sua ovulação (leia: Quando é o período fértil para engravidar?).
Esse pequeno corrimento com origem no colo do útero é chamado de muco cervical. A consistência e a aparência do muco cervical ao longo do ciclo menstrual costumam seguir o seguinte padrão:
- Durante a menstruação, o fluxo sanguíneo cobre o muco, que se torna imperceptível.
- Logo após o fim da menstruação, a mulher tem normalmente tem 3 a 4 dias sem muco ou corrimento. Estes são chamados de “dias secos”.
- Após esse curto período seco, à medida que o óvulo inicia seu amadurecimento, o muco cervical começa a ser produzido. Nesta fase, o muco é geralmente de coloração clara, levemente amarelo, branco ou turvo, e de consistência pegajosa.
- Logo antes e durante a ovulação, o volume de muco aumenta e o corrimento vaginal torna-se mais perceptível. A secreção é tipicamente clara, líquida, de consistência escorregadia e elástica, parecendo clara de ovo.
- Após a ovulação, a quantidade de muco diminui bastante. Inicialmente, ele fica novamente turvo e pegajoso até que desaparece e a mulher tem vários dias secos. Isto dura cerca de 11 a 14 dias, até o novo ciclo menstrual começar.
RN176 É a substância secretada pelas glândulas uterinas, cuja função é tanto proteger o útero
Corrimento vaginal anormal
Leucorreia ou corrimento vaginal patológico é aquele que está relacionado a alguma doença ginecológica. Esse tipo de corrimento pode ter várias causas. As mais comuns são as vaginites, também chamadas de colpites, que é a infecção da vagina, provocada normalmente por bactérias ou fungos.
A leucorreia também pode surgir por atrofia da mucosa da vagina após a menopausa, alergia a algumas substâncias, como espermicidas, ou pela presença de um corpo estranho na vagina.
Falaremos resumidamente sobre as principais causas de vaginite e corrimento vaginal. Mais detalhes podem ser lidos nos textos específicos para cada uma das doenças descritas abaixo.
Candidíase
A Candida é um fungo que faz parte da flora natural de germes da vagina, pele e intestinos. A Candida vive normalmente na nossa pele e não costuma causar sintomas. Entretanto, sempre que há algum desarranjo nas condições habituais do nosso organismo, como uso excessivo de antibióticos, estresse, doenças como diabetes, imunossupressão, traumas, etc., a Candida pode começar a multiplicar-se excessivamente, causando sintomas.
A candidíase vaginal normalmente se manifesta com prurido (coceira) e/ou ardência na vulva, dor para urinar, dor durante o ato sexual e corrimento vaginal.
O corrimento vaginal provocado por candidíase costuma ter as seguintes características:
- Corrimento espesso.
- Sem odor forte.
- Pode ser abundante.
- Esbranquiçado, muitas vezes comparado com queijo cottage.
- Apresenta coceira vaginal.
- Causa dor ou ardência, principalmente durante o ato sexual ou ao urinar.
Reprodução/Foto-RN176 Colo do útero apresentando corrimento esbranquiçado, com áreas tipo queijo cottage – candidíase
Para mais sobre o corrimento provocado pela candidíase, leia: Candidíase – Sintomas e tratamento e Tratamento da Candidíase Vaginal.
Gonorreia e Clamídia
A gonorreia e a clamídia são duas infecções sexualmente transmissíveis (IST) causadas, respectivamente, pelas bactérias Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis.
Ambas infecções provocam uma cervicite (infecção do colo do útero) e podem cursar com corrimento vaginal, geralmente de aspecto mucopurulento (amarelo turvo). Outros sintomas associados incluem dor para urinar, dor durante o ato sexual, normalmente com sangramento pós-coito e irritação na vulva.
As principais características do corrimento vaginal provocado por gonorreia ou clamidia são:
- O corrimento pode ser amarelo-esverdeado ou mesmo purulento.
- Geralmente espesso e com aspecto de pus.
- Pode ter um odor desagradável, embora nem todas as mulheres percebam um cheiro específico.
- A quantidade de corrimento pode variar e, em alguns casos, ser bastante abundante.
- A gonorreia também pode causar dor ou sensação de queimação ao urinar, dor pélvica e sangramento fora do período menstrual.
O corrimento provocado pela clamidia costuma ser parecido com o da gonorreia, mas o quadro costuma ser mais brando.
Para mais informações sobre o corrimento provocado pela gonorreia ou clamídia, leia: Gonorreia – Sintomas e tratamento e Clamídia – Sintomas e tratamento.
Tricomoníase
A tricomoníase é uma doença sexualmente transmissível causada por um protozoário chamado Trichomonas vaginalis.
Nem todas as pacientes infectadas apresentam sintomas. Quando há sintomas, o quadro costuma ser de vaginite e se apresenta com um corrimento fino, amarelo-esverdeado, de odor desagradável, associado aos outros sinais clássicos de vulvovaginite, como dor ao urinar, irritação da vulva e sangramento/dor durante o coito.
O Trichomonas vaginalis pode permanecer assintomático por muito tempo antes de provocar vaginite, tornando difícil saber exatamente quando houve a contaminação.
Sem tratamento, a infecção pode durar meses ou mesmo anos, tornando-se um fator de risco para infertilidade e câncer do colo do útero.
As principais características do corrimento vaginal provocado pela tricomoníase são:
- O corrimento pode variar de cor, desde amarelo, verde, cinza ou branco.
- Geralmente tem consistência fina e espumosa.
- Pode apresentar um odor forte e desagradável, muitas vezes descrito como “cheiro de peixe”.
- A quantidade de corrimento pode variar, mas geralmente é mais abundante que o corrimento vaginal normal.
- A tricomoníase também pode causar coceira, irritação e vermelhidão na área genital, dor ou sensação de queimação ao urinar e dor durante as relações sexuais.
- Os sintomas podem piorar durante a menstruação.
Reprodução/Foto-RN176 Corrimento vaginal amarelado e espumoso provocado por tricomoníase
Para mais informações sobre o corrimento provocado pelo Trichomonas, leia: Tricomoníase – Sintomas e tratamento.
Vaginose bacteriana
A vaginose bacteriana é a principal causa de corrimento vaginal anormal. É uma infecção causada por alterações na flora natural da vagina, que resultam em redução no número de lactobacillus (bactérias “boas”) e um excessivo crescimento de bactérias aeróbicas (bactérias “ruins”), como Gardnerella vaginalis, Mycoplasma hominis, Prevotella, Porphyromonas, Bacteroides, Peptostreptococcus, Fusobacterium e Atopobium vaginae.
É muito comum se associar a vaginose bacteriana à bactéria Gardnerella vaginalis, porém, esta doença é causada pelo crescimento de múltiplas bactérias, e não só da Gardnerella. O termo vaginose é usado em vez de vaginite neste caso porque há pouca ou nenhuma inflamação da vagina, apenas proliferação bacteriana.
O sintoma típico da vaginose é o corrimento vaginal fino e acinzentado, com odor muito forte, tipo peixe podre. Os outros sintomas de inflamação vulvovaginal, como dor ao urinar, coceira da vulva e dor ao coito são bem menos frequentes, estando geralmente ausentes.
A proliferação de bactérias e a queda no número de lactobacillus faz com que haja um aumento significativo do pH da vagina, sendo esta uma das dicas para o diagnóstico.
As principais características do corrimento vaginal provocado pela vaginose bacteriana são:
- O corrimento pode ser branco, cinza ou levemente amarelado.
- Geralmente tem uma consistência fina e aquosa.
- Pode apresentar um odor forte e desagradável, muitas vezes descrito como “de peixe podre”, que pode ser mais perceptível após as relações sexuais.
- A quantidade de corrimento pode variar, mas geralmente é maior do que o corrimento vaginal normal.
- A vaginose bacteriana tipicamente não causa coceira, dor ou vermelhidão na área genital, embora algumas mulheres possam apresentar uma leve irritação.
Para mais informações sobre o corrimento provocado pela vaginose, leia: Vaginose bacteriana – Gardnerella vaginalis.
Atrofia vaginal
A atrofia da vagina ocorre geralmente após a menopausa. O estrogênio estimula o corrimento fisiológico, e a sua falta provoca ressecamento, afinamento e perda da elasticidade da mucosa vaginal. Esta atrofia vaginal pode levar à inflamação com corrimento, dor para urinar e incômodo durante o ato sexual.
A atrofia vaginal faz parte da síndrome geniturinária da menopausa, mas também pode ocorrer durante a amamentação ou em mulheres que passaram por tratamentos que reduzem os níveis de estrogênio, como certas cirurgias ou terapias hormonais para o câncer.
Algumas características do corrimento vaginal provocado por atrofia vaginal são:
- O corrimento pode ser claro, incolor ou levemente esbranquiçado.
- Geralmente tem uma consistência fina e aquosa.
- Normalmente não apresenta um odor forte ou desagradável.
- A quantidade de corrimento pode variar, mas geralmente é menor do que o corrimento vaginal normal, pois a atrofia vaginal também pode levar à secura vaginal.
- A atrofia vaginal pode causar sintomas como secura, coceira, irritação, dor ou desconforto na área genital, dor ou sensação de queimação ao urinar e dor durante as relações sexuais.
Alergias
O corrimento vaginal provocado por alergias a produtos químicos ou substâncias pode variar conforme o indivíduo e a substância à qual a pessoa é alérgica.
Essas alergias podem ser desencadeadas por produtos como sabonetes, lenços umedecidos, lubrificantes, espermicidas, látex da camisinha, perfumes, absorventes ou tampões, entre outros. A reação alérgica na vagina pode causar corrimento vaginal.
As principais características do corrimento vaginal provocado por alergias incluem:
- O corrimento pode ser claro, incolor ou levemente esbranquiçado.
- Geralmente tem uma consistência aquosa ou mucosa.
- Normalmente não apresenta um odor forte ou desagradável.
- A quantidade de corrimento pode variar, mas geralmente é menor do que o corrimento vaginal normal.
- Alergias podem causar sintomas como coceira, vermelhidão, inchaço, irritação e dor na área genital. Estes sintomas podem ser mais intensos logo após o contato com o alérgeno.
Causas menos comuns
As causas citadas acima são as mais comuns, mas não são as únicas. Se a mulher tem um corrimento vaginal persistente, que não parece ser fisiológico, e nenhuma das causas comuns for identificada, o ginecologista precisa pensar também nas seguintes hipóteses:
- Infecção pelo HPV.
- Herpes genital.
- Câncer do colo do útero.
- Alergia ao sêmen(causa rara).
- Vulvovaginite pela bactéria Streptococcus.
- Corpo estranho retido dentro da vagina (absorvente interno ou camisinha “perdida”, por exemplo).
- Infecção pelo verme oxiúrus.
- Doença inflamatória pélvica.
Corrimento vaginal de acordo com sua coloração
Corrimento marrom
Qualquer situação que provoque algum grau de sangramento vaginal ou uterino pode causar um corrimento acastanhado. As principais causas são:
- Restos da menstruação misturados ao corrimento fisiológico.
- Traumas na região vaginal ou uterina.
- Infecções.
- Corpo estranho na vagina.
- Tumores ginecológicos.
- Sangramento uterino provocado pela implantação do embrião no útero nos primeiros dias de gravidez.
- Atrofia vaginal.
- Gravidez ectópica.
Corrimento amarelado ou esverdeado
O corrimento vaginal amarelado-esverdeado é geralmente sinal de infecção ginecológica, principalmente se acompanhado de mau cheiro, ardência ou coceira vaginal. As principais causas são:
- Tricomoníase.
- Clamídia.
O corrimento fisiológico costuma ser branco e claro, mas ao ser exposto ao ar após contato com a calcinha, ele pode ficar meio amarelado. Portanto, se a mulher não tiver sintoma algum e o corrimento não tiver cheiro, o fato dele ser meio amarelado não necessariamente indica alguma infecção em curso. Na dúvida, o melhor é procurar a sua ginecologista para ela poder avaliar o corrimento.
Corrimento branco ou acinzentando
O corrimento brancacento costuma ser normal, principalmente se for fino, em pequena quantidade e se ocorrer próximo do período ovulatório. Porém, se o corrimento for espesso, pastoso, leitoso, com grumos ou acinzentado, principalmente se estiver associado a sintomas irritativos, como coceira, dor vaginal ou mau cheiro, infecções devem ser investigadas. As principais causas são:
- Candidíase.
- Vaginose bacteriana.
Corrimento com mau cheiro
Corrimento com mau cheiro é típico de infecção ginecológica. As principais causas são:
- Vaginose bacteriana (cheiro muito forte).
- Tricomoníase.
Diagnóstico
Para se distinguir corretamente os tipos de corrimento vaginal, faz-se necessário uma consulta com o médico ginecologista.
Através do exame ginecológico é possível notar se há vaginite, cervicite ou apenas corrimento sem sinais de inflamação. Também é possível colher amostras do corrimento para avaliação do pH vaginal, investigação microscópica e cultura.
Tratamento
O tratamento do corrimento depende da causa, variando desde antifúngicos ou antibióticos para as infecções, até cremes de estrogênio para a vaginite atrófica. Não há um tratamento único que sirva para todos os tipos de corrimento.
Se você tem corrimento vaginal, procure seu ginecologista para a causa ser esclarecida e o tratamento adequado poder ser instituído.
Referências
- Frequently asked questions. Women’s health: Vulvovaginal health– American College of Obstetricians and Gynecologists.
- Vaginal discharge – Textbook of Family Medicine – 9th ed. 2016.
- Vaginal discharge– Mayo Clinic.
- Vaginal Discharge– Palo Alto Medical Foundation (PAMF).
- Evaluation of vaginal complaints– JAMA.
- Approach to women with symptoms of vaginitis– UpToDate.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
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