Como é visitar um vulcão ativo de 600 mil anos próximo à capital da Costa Rica

ROTANEWS176 E POR CNN BRASIL 13/12/2022 01:25                                                                                              Por Saulo Tafarelo

Nas redondezas de San José descansa o gigante Poás, que tem aos seus pés uma fazenda de café com direito a cachoeira e hotel que recria antiga hacienda espanhola

 

Reprodução/Foto-RN176 Cratera principal do Vulcão Poás solta gases frequentemente; última erupção aconteceu em 2019 Saulo Tafarelo

Lar de mais de 340 mil habitantes, San José, a capital e porta de entrada da Costa Rica, vai ficando para trás no horizonte à medida que o carro sobe a estrada curvilínea na base do Poás.

A cerca de uma hora de distância das redondezas do Aeroporto Internacional Juan Santamaría, ele é um dos cinco principais vulcões ativos da Costa Rica, país que soma mais de 120 focos vulcânicos, a maioria muito antigos e extintos.

Após pagos os US$ 15 (aproximadamente R$ 80) por visitante adulto na portaria do parque, deixa-se o carro num estacionamento e anda-se mais 400 metros a pé num trajeto asfaltado rodeado de exuberante vegetação natural.

Placas pelo caminho apontam rotas de fuga e constantemente lembram o visitante que o vulcão pode entrar em erupção a qualquer momento.

“Você está entrando numa área de perigo de um vulcão historicamente ativo”, diz uma delas.

Enquanto a cidade lá embaixo marca 25°C, o Poás registra uma queda de até 10°C em seu topo, em que as temperaturas mais baixas arrepiam os pelos e pedem moletons e corta-ventos.

Já a 2.700 metros acima do nível do mar, um mirante então aparece na paisagem e revela a grande estrela local: uma enorme cratera de 1.300 metros de diâmetro e 320 de profundidade que abriga um lago azul-acinzentado hipnotizante.

A beleza pode até parecer inofensiva, mas o líquido do lago é ultra-ácido – chega a ser até um dos lagos mais ácidos do mundo. Sua cor é formada pela mistura de gases tóxicos a uma temperatura que pode chegar a 60°C.

A uma distância segura, é possível ficar cara a cara com a cratera do vulcão ativo de 600 mil anos de idade que solta gases ininterruptamente.

Logo, visitar o Parque Nacional Vulcão Poás, diga-se de passagem, é entrar em contato com um ecoturismo mais aventureiro, marca registrada da Costa Rica.

Gigante não tão adormecido

Assim como os outros vulcões ativos da Costa Rica, o Poás é um atrativo protegido por um parque nacional, o qual foi fundado em 1971 e abrange 6.500 hectares.

O país, inclusive, é reconhecido mundo afora como um dos mais ambientalmente preservados da Terra, uma vez que aproximadamente 27% de seu território faz parte de áreas de conservação.

O Parque Nacional Vulcão Poás situa-se na província de Alajuela e fica ao norte do Vale Central, grande área que inclui parques, reservas florestais e terras férteis onde plantações de café são abundantes.

Logo, a zona do vulcão recebe ventos vindos das duas costas pertencentes a este país da América Central, com sopros do Pacífico e do Caribe.

Tais ventos foram responsáveis pela dispersão da coluna de cinzas e gases quando uma forte erupção ocorreu em 2017, em que explosões piroclásticas levantaram fragmentos vulcânicos até três quilômetros acima da cratera principal.

À época, a erupção foi considerada uma das mais fortes já experimentadas pelo Poás, em que comunidades das redondezas tiveram de ser evacuadas e o parque ficou fechado por meses seguidos.

Reprodução/Foto-RN176 Cratera principal do Vulcão Poás tem lago com líquido ultra-ácido que constantemente expele vapores com gases tóxicos Crédito: Saulo Tafarel

Um vulcão, três crateras

Diferentemente da imagem tradicional que se tem de um vulcão, aquele em formato de cone que solta lavas que destroem tudo que há pelo caminho, o Poás não as expele e, de longe, na paisagem, se assemelha mais a uma grande serra.

Porém, uma vez no topo, sua força e exuberância impressionam.

Ele é na verdade um estratovulcão, construído por muitas camadas de lava endurecida, em que sua atividade é caracterizada por frequentes explosões freáticas semelhantes a gêiseres e emissões de gases e cinzas.

São três crateras que formam o Poás, em que duas delas não registram atividades vulcânicas há milhares de anos.

A última grande erupção registrada ocorreu em 2019, quando, em setembro, uma coluna de cerca de dois quilômetros levantou-se da cratera principal.

Mas não há motivo para pânico: a área é monitorada pelo Observatorio Vulcanológico y Sismológico de Costa Rica (OVSICORI-UNA), instituto de pesquisa interdisciplinar da Universidad Nacional que crava que, dado o histórico do vulcão, erupções não ocorrem de repente, mas sim de acordo com aumentos graduais da atividade vulcânica.

É interessante estar no mirante e observar vapores constantes saindo do lago da cratera, a qual é rodeada por pedras e detrimentos, totalmente sem vegetação dados seus aspectos hostis.

O OVSICORI-UNA mantém ainda uma estação no local que analisa a concentração destes gases no mirante, em que sinais de alerta indicam a segurança da área – recomenda-se ficar próximo à cratera por apenas 20 minutos, uma vez que os gases podem irritar o sistema respiratório e ter efeitos adversos em pessoas sensíveis.

A título de curiosidade, gás carbônico, dióxido de enxofre, ácido sulfídrico e ácido clorídrico são gases presentes na cratera.

No chão do mirante chamam atenção ainda marcações amarelas que indicam os locais exatos onde pedras e detrimentos arremessados pela força do vulcão causaram buracos e estragos à construção – um lembrete para nunca subestimar a força da natureza.

Reprodução/Foto-RN176 Círculos amarelos indicam danos causados por detrimentos arremessados pelo vulcão / Saulo Tafarelo

Trilha alternativa, beleza garantida

Caso queira ver outro local igualmente curioso e de belezas peculiares, mas que não corre risco de eliminar gases, há ainda o Lago Botos, uma das crateras sem atividade vulcânica que fica a 15 minutos de caminhada do mirante principal.

Devido à alta altitude, o trajeto, por vezes, faz com que os visitantes suspirem pela trilha de média intensidade caracterizada por subidas.

Uma vez aos pés do lago, as vistas compensam: diferentemente da cratera ativa, aqui há muita vegetação frondosa ao redor, a qual se mistura com as belezas da água cor esmeralda. Difícil não bater a vontade de entrar no lago. A atividade, porém, não é recomendada e tem acesso dificultado.

A subida até o Botos é interessante método de comparação entre focos vulcânicos ativos e não ativos, em que a paisagem ao redor muda drasticamente de acordo com a movimentação dos gases.

O ideal é visitar o Parque Nacional Vulcão Poás em dias mais ensolarados, já que, em seu topo, o parque costuma concentrar neblina, o que pode atrapalhar a vista plena para as crateras. Uma das formas mais fáceis de se precaver é checando a câmera ao vivo que dá diretamente para o lago com gases, em que a imagem é atualizada a cada um minuto.

No meio do caminho, uma fazenda de café

Se o Poás já impressiona por ser um vulcão ativo de 600 mil anos a poucos quilômetros do centro da capital da Costa Rica, seu entorno também guarda algumas surpresas.

Além das inúmeras vendinhas recheadas de morangos, a cerca de 30 minutos da entrada do parque nacional está a Hacienda Alsácia, na encosta do vulcão, que fica de portas abertas para visitantes tomarem cafés caprichados em meio a uma rica paisagem e ainda aprenderem mais sobre o processo do plantio e da colheita dos grãos.

Além dos visuais, com uma grande varanda que se abre para uma caudalosa cachoeira logo ao lado de vales desnivelados de mudas de café, a visita na Alsácia é ainda mais especial ao saber que esta é a única fazenda da Starbucks aberta para o público no mundo inteiro.

Com 240 hectares totais – 170 são destinados às plantações e outros 10 para pesquisa e desenvolvimento -, a fazenda adquirida em 2013 pela empresa coloca a experiência humana do trabalho cafeeiro no centro da narrativa.

O local tem sido ponto de estudo para o desenvolvimento de novas variedades de café arábica (a principal variedade plantada, vendida e consumida na Costa Rica) que possam resistir a doenças, além de ser considerada uma fazenda modelo para pequenos produtores.

Reprodução/Foto-RN176 Hacienda Alsácia possui lindos visuais com direito a vales de café e cachoeira Crédito: Saulo Tafarelo

a de R$ 160), o tour diário na fazenda tem duração de 1h30 (mediante agendamento) e é boa chance para entrar em contato com a cadeia produtiva deste que é um dos produtos mais significativos da Costa Rica e também para os brasileiros.

Para se ter uma noção, a Costa Rica produz cerca de 1% do café do mundo, enquanto, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), o Brasil é o maior exportador do grão do mundo, respondendo a um terço da produção mundial de café.

Sabia que para uma xícara de cafezinho são necessários cerca de 72 frutos? Ou que, para a mesma xícara, são consumidos 140 litros de água?

Essas e outras informações são compartilhadas durante o passeio, feito ao lado de um funcionário qualificado, que passa ainda por viveiros, moinho úmido, pátio de secagem e torrador. A última questão ainda é estudada na fazenda, em que novos métodos de reutilizar a água de forma limpa estão sendo desenvolvidos.

Assim, o visitante também pode traçar a jornada do café desde a muda até a xícara ao pegar na mão os grãos e colhê-los manualmente.

“Conhecer a produção de café e todo seu trabalho mudará a maneira como você enxerga nosso grão de ouro”, diz uma das várias placas com frases de impacto espalhadas pela moderna propriedade.

E a melhor maneira de terminar o passeio é, claro, tomando uma xícara de café da própria fazenda.

Com uma cafeteria aberta diariamente das 8h às 18h, vários são os métodos e adições que podem ser escolhidos do cardápio. Resta ao visitante sentar numa das cadeiras da varanda e relaxar com a vista para os vales e a cachoeira lá embaixo.

Hacienda Belen, hotel com pegada de fazenda

Já de volta à área metropolitana de San José, uma boa base para descobrir a capital e visitar os atrativos das redondezas é o Costa Rica Marriott Hacienda Belen, hotel urbano com pegada de hotel-fazenda a apenas 10 minutos do aeroporto internacional.

Apesar de cravado no meio da cidade com algumas empresas como vizinhas, o hotel oferece uma escapada da movimentação urbana. Ele impressiona pelo tamanho e pelas áreas abertas, como campo para treino de golfe com vista para montanhas e até simpática capela.

Com fachada de cor amarelada que faz referência ao Museu Nacional da Costa Rica, o hotel foi construído na década de 1990 e recria a sensação de se estar numa grande e antiga hacienda espanhola.

A entrada do local pertencia de fato a uma antiga fazenda cafeeira, em que até plantas de café foram preservadas.

Já a recepção se abre para um grande pátio arejado que é um dos cantinhos mais agradáveis do hotel ao longo do dia e durante noites quentes. Vários arcos fazem parte da composição arquitetônica colonial; já na seara da decoração, móveis rústicos com elementos de couro e madeira ajudam na ambientação.

Primeiro hotel do grupo Marriott na Costa Rica, chama a atenção o fato da estrutura de 299 quartos ser bem dinâmica ao receber famílias estrangeiras de férias, pessoas a negócios e também moradores da própria capital – pacotes aos finais de semana os atraem e fazem do Hacienda Belen um destino dentro da própria cidade.

Reprodução/Foto-RN176 Hacienda Belen recria antiga fazenda espanhola com arquitetura de toques coloniais Crédito: Divulgação

Outro fato que faz brilhar os olhos é o Kuö Spa, deleite para o corpo e alma com uso de produtinhos locais no cardápio de massagens e experiências. São seis salas de massagem e uma suíte – que pode ser usada por casais. Homens e mulheres ainda têm áreas separadas de vestiário, jacuzzi e saunas úmidas e secas.

Circundando o spa há um fotogênico e pacífico jardim japonês com uma encantadora árvore que é molhada pela chuva e abastecida pela luz do sol a partir da abertura do teto. Ao lado há uma academia completa, com os equipamentos fitness que puder imaginar.

Com pratos costarriquenhos que preconizam pescados, como croquetas, ceviche de robalo, pescado do dia com arroz cremoso e até polvo, o Hacienda Kitchen é o principal restaurante do hotel. O local ainda serve buffet de café da manhã e almoço com varanda com vista para a grande área verde do campo de golfe.

Um bar de esportes, terraço com coquetéis, restaurante focado em carnes com sala privativa e ainda a Casa del Café complementam as opções gastronômicas. Esta última, próxima ao spa, oferece cafezinhos locais feitos de diversos modos, assim como comidinhas para serem beliscadas durante o dia todo, sendo point de engravatados e casais à tarde.

Se deseja algo a mais, um jantar farm to table ao lado dos gramados com direito a luzinhas suspensas e uma grande mesa de madeira é pedida ideal para uma noite especial.

Com menu desenhado à mão pela equipe à pedida do freguês e preparos feitos ao ar livre ao lado dos comensais, é uma maneira de experimentar algumas das ervas, folhas e vegetais da mini-horta do hotel.

Além do Poás e da Hacienda Alsácia, o concierge também se encarrega de traçar roteiros personalizados pela capital e arredores caso tenha mais tempo em San José.

Mais uma prova de que o hotel transporta os hóspedes para longe da cidade mesmo estando no meio dela é o canto dos pássaros nos primeiros raios solares, os quais gentilmente acordam os hóspedes com a sensação de se estar no campo.

*O jornalista viajou a convite da Marriott International.
** Preços consultados em novembro de 2022.