Paciente toca violão durante cirurgia no cérebro: entenda como é possível

ROTANEWS176 10/08/2023 18:40                                                                                                                                Por Milena Vogado

Procedimento foi feito no Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba. Cirurgião responsável explicou particularidades desta cirurgia no cérebro.

 

Reprodução/Foto-RN176 Paciente toca violão durante cirurgia no cérebro: entenda como é possível – Foto: Divulgação (Hospital Universitário Cajuru)

Maurício Stemberg, 55, protagonizou uma cena inusitada no Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba (PR). Durante uma cirurgia para retirar um tumor cerebral, ele cantou e tocou violão para garantir que partes importantes do cérebro não fossem afetadas. Assim, desde uma música autoral até um clássico da Alcione, a operação cirúrgica se transformou em uma melodia de esperança pela cura.

“A música me dá forças para superar qualquer obstáculo e poder tocar durante a cirurgia trouxe um novo significado para a minha carreira”, afirmou o paciente, emocionado. Ele conta que confundiu os primeiros sintomas do tumor cerebral com um simples cansaço. “Até que convulsões e desmaios acenderam o sinal de alerta e me trouxeram até o hospital”, recorda.

Aproximadamente duas semanas separaram o diagnóstico da cirurgia realizada no hospital com atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No dia 26 de julho, o produtor musical passou pelo procedimento que durou cerca de 7 horas. Durante pelo menos metade desse período, Maurício se manteve acordado.

O que pode parecer um motivo de angústia para uns, se tornou uma oportunidade de se aproximar ainda mais da música para o artista. “Depois de passar por tudo isso, entendi que realmente Deus escreve certo por linhas tortas. Hoje, sem nenhuma sequela, carrego uma gratidão imensa pelo cuidado médico e pelo atendimento do hospital”, acrescenta.

Cirurgia no cérebro com o paciente consciente

O neurocirurgião Dr. Carlos Alberto Mattozo foi o responsável pela cirurgia. Segundo ele, não é comum o paciente permanecer consciente em um procedimento cerebral, apenas quando o que está em questão é uma avaliação ou a verificação das funções relacionadas à fala ou ao movimento do corpo. Isso porque o paciente precisa passar por alguns testes durante a cirurgia.

O tumor de Maurício estava localizado em uma região sensível do cérebro, próximo à área da fala. Por isso, a equipe médica optou por mantê-lo consciente durante a cirurgia. “Apesar de nós termos uma margem de segurança na localização do tumor que ele tinha, foi útil deixarmos ele acordado. Justamente para verificarmos as funções dele de habilidade musical”, explica o neurocirurgião.

“Logo que o paciente soube que precisaria passar por uma cirurgia no cérebro, ele ficou preocupado com o impacto que isso poderia ter em suas habilidades musicais. Isso foi decisivo para realizarmos o procedimento com o Maurício tocando o violão”, relembra.

Conforme o médico, áreas responsáveis por habilidades musicais são descentralizadas. Isto é, elas podem estar em outros locais do cérebro. “Ou seja, se em algum momento ele tivesse alguma dificuldade de lembrar das músicas ou de tocar um instrumento, nós iríamos colocar o questionamento de eventualmente interromper a cirurgia”, diz o Dr. Carlos Alberto Mattozo.

Inicialmente sedado

Vale reforçar que Maurício não permaneceu acordado durante todo o procedimento. Nesses casos, o paciente é inicialmente sedado e dorme na primeira parte da cirurgia, enquanto são realizadas a neuronavegação, com um sistema computadorizado e luz infravermelha que auxilia na localização intraoperatória, a incisão e a abertura do crânio.

Após essas etapas, a medicação diminui e o paciente desperta. A partir desse ponto, ele fica apto a responder a todas as perguntas do médico durante o procedimento cirúrgico e executar ações, como tocar, cantar e conversar. “Normalmente, o paciente acorda durante o procedimento para fazer testes e verificar se há desenvolvimento de alguma alteração ou lesão neurológica”, explica o médico do Hospital Universitário Cajuru.

Recuperação rápida e amor pela música

Menos de 48 horas após o fim da cirurgia, Maurício deixou o hospital com seu violão em mãos e pronto para novos começos. Com o olhar voltado para o futuro, ele se prepara para retornar aos palcos junto da banda Midnight Blues e continuar a apresentar suas composições autorais para o público.

“A música sempre foi minha terapia e minha forma de expressar meus sentimentos. De hoje em diante, ela se torna também uma ferramenta de cura, e estou ansioso para levá-la ao mundo de uma maneira completamente nova”, conclui Maurício com um sorriso confiante.