Peixes na Amazônia trazem alta contaminação por mercúrio, revela estudo

ROTANEWS176 E POR BYTE 30/05/2023  11h21                                                                                                      Por Anna Gabriela Costa

Pesquisadores alertam para aumentar o controle do território amazônico e erradicar os garimpos ilegais.

 

Reprodução/Foto-RN176 Pesquisadores analisaram diversas espécies de peixes para avaliar níveis de mercúrio Foto: Divulgação/Universidade Federal do Pará (UFPA)

Um estudo realizado nos principais centros urbanos da Amazônia revela que os peixes de seis estados do Norte estão contaminados por mercúrio. A pesquisa foi conduzida em 17 municípios e os resultados apresentaram níveis de contaminação acima do limite aceitável (maior ou igual a 0,5 µg/g), estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A análise foi realizada por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), do Greenpeace Brasil, do Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé), do Instituto Socioambiental e do Fundo Mundial para a Natureza (WWF-Brasil).

Na média, 21,3% dos peixes comercializados nas áreas e que chegam à mesa das famílias na região Amazônica têm níveis de mercúrio acima dos limites seguros. Em todas as camadas populacionais analisadas, a ingestão diária de mercúrio excedeu a dose de referência recomendada.

Os pesquisadores fazem um alerta para aumentar o controle do território amazônico e erradicar os garimpos ilegais e outras fontes emissoras de mercúrio para o ambiente.

Roraima e Acre têm os piores índices

O estudo mostra que os piores índices de contaminação estão em Roraima, com 40% de peixes com mercúrio acima do limite recomendado, e Acre, com 35,9%.

Já os menores indicadores estão no Pará, com 15,8%, e no Amapá, com 11,4%.

Rio Branco (AC) foi o município que apresentou o índice mais crítico, a potencial ingestão de mercúrio ultrapassou de 6,9 a 31,5 vezes a dose de referência indicada pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) do governo norteamericano (0,1 μg/kg pc/dia).

“As mulheres em idade fértil — público mais vulnerável aos efeitos do mercúrio — estariam ingerindo até nove vezes mais mercúrio do que a dose preconizada; enquanto crianças de 2 a 4 anos até 31 vezes mais do que o aconselhado”, aponta o estudo divulgado pela Fiocruz.

O estudo

O levantamento buscou avaliar o risco à saúde humana em função do consumo de peixes contaminados. Para isso, visitou mercados e feiras em 17 cidades amazônicas onde foram compradas as amostras usadas na pesquisa.

“Este é o primeiro estudo que avalia os principais centros urbanos amazônicos espalhados em seis estados. Ele reforça um alerta para um assunto já conhecido, mas não resolvido, que é o risco à segurança alimentar na região amazônica gerado pelo uso de mercúrio na atividade garimpeira”, afirma Decio Yokota, coordenador do Programa de Gestão da Informação do Iepé.

“Estamos diante de um problema de saúde pública. Sabemos que a contaminação é mais grave para as mulheres grávidas, já que o feto pode sofrer distúrbios neurológicos, danos aos rins e ao sistema cardiovascular. Já as crianças podem apresentar dificuldades motoras e cognitivas, incluindo problemas na fala e no processo de aprendizagem”, disse Paulo Basta, pesquisador da Ensp/Fiocruz.

Ele acrescenta que os efeitos são perigosos e muitas vezes irreversíveis, já que os sintomas podem aparecer após meses ou anos seguidos de exposição.

Reprodução/Foto-RN176 Garimpo ilegal é um dos causadores dos altos níveis de mercúrio em peixe da Amazônia Foto: Poder360

Cidades analisadas

O levantamento foi realizado de março de 2021 a setembro de 2022 nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima. Foram avaliados 1.010 exemplares de peixes, de 80 espécies distintas, comprados em mercados, feiras e diretamente de pescadores, simulando o dia a dia dos consumidores locais.

As amostras foram coletadas nos seguintes municípios:

  • Altamira (PA);
  • Belém (PA);
  • Boa Vista (RR);
  • Humaitá (AM);
  • Itaituba (PA);
  • Macapá (AP);
  • Manaus (AM);
  • Maraã (AM);
  • Oiapoque (AP);
  • Oriximiná (PA);
  • Porto Velho (RO);
  • Rio Branco (AC);
  • Santa Isabel do Rio Negro (AM);
  • Santarém (PA);
  • São Félix do Xingu (PA);
  • São Gabriel da Cachoeira (AM);
  • Tefé (AM).

Especialistas alertam

De acordo com o estudo publicado pela Fiocruz nesta segunda-feira (29), foram avaliados 1.010 exemplares de peixes, de 80 espécies distintas. Do total, 110 eram peixes herbívoros, 130 detritívoros, 286 onívoros e 484 carnívoros.

“Os carnívoros, mais apreciados pelos consumidores finais, apresentaram níveis de contaminação maiores que as espécies não-carnívoras. A análise comparativa entre espécies indicou que a contaminação é 14 vezes maior nos peixes carnívoros, quando comparados aos não carnívoros”, aponta o relatório.

A principal recomendação que os pesquisadores fazem é ter maior controle do território amazônico e erradicar os garimpos ilegais e outras fontes emissoras de mercúrio para o ambiente.

“Além da degradação ambiental, os garimpos ilegais trazem um rastro de destruição que inclui tráfico de drogas, armas e animais silvestres, além da exploração sexual. Por isso, o Estado precisa garantir maior controle e segurança para as populações locais. No entanto, outras ações como a fiscalização do desmatamento e queimadas também reduzem a exposição ao mercúrio, uma vez que impactam na dinâmica dos solos e dos rios e igarapés”, afirma Marcelo Oliveira, especialista em conservação do WWF-Brasil.