Síndrome do ‘sangue grosso’: conheça a doença que fez jovem ter braço amputado

ROTANEWS176 25/10/2023 15:34                                                                                                                                  Por Renan Aleadrini

Reprodução/Foto-RN176 A estudante passou por dois AVCs, uma falência renal e uma hemorragia de intestino (Crédito: Reprodução/TikTok)

A estudante de medicina Bárbara Maia descobriu que possuía a SAF (Síndrome do Anticorpo Antifosfolipídeo) após ser hospitalizada com falta de ar. A jovem de Belo Horizonte passou dias em coma e teve o braço amputado, além de passar por uma traqueostomia [Procedimento cirúrgico em que é realizada uma abertura na traqueia para assegurar o processo de respiração]. A causa de toda essa situação foi a enfermidade que também é conhecida como síndrome do “sangue grosso”, pelo fato de afetar a coagulação.

Entenda o caso:

  • Bárbara Maia sentiu uma falta de ar e foi ao hospital, onde recebeu medicação; No dia seguinte teve que retornar ao local pela mesma razão;
  • A jovem foi internada e teve que ser transferida a outro hospital devido ao seu convênio;
  • Ela passou por dois AVCs, uma falência renal, uma hemorragia de intestino e uma traqueostomia, além de ter que passar por fisioterapia para recuperar os movimentos do corpo;
  • Foi só depois de todas essas dificuldades que o diagnóstico foi dado e foi confirmada a Síndrome do “Sangue Grosso”;
  • A estudante fez uma campanha para juntar fundos com o objetivo de comprar uma mão biônica que a possibilite ser uma médica oncologista no futuro.

O que é essa síndrome?

A Síndrome do “Sangue Grosso” é uma doença autoimune que gera anticorpos antifofípedes capazes de atacar o próprio organismo, como elucida a hematologista Helena Visnadi, do Hospital São Luiz Anália Franco. “Essas imunoglobulinas são capazes de inibir o sistema de anticoagulação natural”, o que acaba com o equilíbrio deste processo no corpo humano.

De acordo com a hematologista, os sintomas mais comuns envolvem justamente os problemas relacionados à coagulação do sangue como a embolia pulmonar e uma contagem baixa de plaquetas.

Dante Bianchi, coordenador de reumatologia da Rede D’or, também explica que não há como saber qual é o “gatilho” que gera a doença e faz ela começar. “O sistema imunológico começa a agredir algumas estruturas, especialmente plaquetas e células da placenta. O que aumenta o risco de gerar uma trombose, entupindo os vasos.”

O especialista esclarece que existem duas formas de ação da síndrome que é mais comum em mulheres. “A manifestação obstétrica causa aborto de repetição, perda fetal e partos prematuros, que acontecem durante a gestação, já que a SAF aumenta o risco dessas condições”. A outra ocorrência causa tromboses recorrentes e AVC (Acidente Vascular Cerebral).

Diagnóstico

Helena Visnadi também fala sobre os motivos do diagnóstico ser tão complicado, citando o fato de a confirmação da doença requerer exames laboratoriais e critérios clínicos. “Por não se tratar de uma trombofilia hereditária, não vai haver uma história familiar que demonstre o ‘rastro’ da enfermidade. Além disso, não é algo que se define em uma só avaliação.”

Dante Bianchi complementa que as pessoas demoram para pensar que a culpada por algum problema pode ser essa doença, já que ela é uma condição rara. “Esse é o principal motivo do atraso, fora isso, ano é nem todo hospital e laboratório que consegue fazer esses exames, eles não são tão fáceis de disponibilizar.”

Tratamento

O reumatologista relata que o tratamento se baseia no uso de anticoagulantes que são popularmente conhecidos por “afinar o sangue”, exceto em casos específicos. “Em alguns pacientes com determinadas manifestações da síndrome, a gente pode precisar usar alguns imunossupressores também, mas o básico é o uso de remédios.”

Helena Visnadi diz que o tratamento é direcionado para a trombose, sendo assim, nesse caso, o uso desses remédios é prolongado e contínuo. “Os anticoagulantes, como citado anteriormente, tornam mais difícil a formação de coágulos no sangue”, portanto, o paciente deve ter alguns cuidados em caso de machucados ou procedimentos invasivos. “A medicação eleva o risco de sangramentos.”

Campanha de Bárbara Maia

Após sair do hospital, a estudante de 27 anos Bárbara Maia fez diversas postagens nas redes sociais pedindo por ajuda para comprar uma prótese, com o intuito de poder ser uma médica no futuro e “levar a vida da maneira mais normal possível”, que possui o valor de R$ 480 mil. Até o fechamento desta reportagem, foram angariados R$ 300 mil de mais de 5 mil apoiadores diferentes.

FONTE: ISTOÉ