Pesquisas mostram avanços no combate ao câncer de mama triplo negativo

ROTANEWS176 20/03/2024 18:00                                                                                                                              Por Isabella Almeida

Pesquisas apresentadas na 14ª Conferência Europeia sobre Câncer de Mama, em Milão, na Itália, revelam avanços no diagnóstico, escolha de tratamento e melhoria de vida para pacientes com a doença.

 

Reprodução/Foto-RN176câncer de mama – (crédito: Freepik)

O câncer de mama triplo negativo é um subtipo de tumor caracterizado pela ausência de três receptores hormonais específicos: receptor de estrogênio, progesterona e a proteína HER2. Essas regiões de ligação são consideradas como marcadores importantes no diagnóstico e tratamento, pois ajudam a determinar a melhor abordagem terapêutica. É um carcinoma mais agressivo e tende a se espalhar rapidamente. Pesquisas apresentadas na 14ª Conferência Europeia sobre Câncer de Mama, em Milão, na Itália, revelam avanços no diagnóstico, escolha de tratamento e melhoria de vida para pacientes com a doença.

Cientistas liderados por Laura van ‘t Veer, pesquisadora holandesa, líder do Programa de Oncologia da Mama e Diretora de Genômica Aplicada no Helen Diller Family Comprehensive Cancer Center, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, desenvolveram um teste genético capaz de prever a resposta dos pacientes com a condição aos medicamentos imunoterápicos em estágios iniciais da doença. O exame, chamado ImPrint, é uma ferramenta crucial que pode ajudar a evitar os efeitos adversos associados dos medicamentos em pessoas com baixa probabilidade de resposta, permitindo que sejam direcionados para outros tratamentos.

Van ‘t Veer, em sua apresentação na conferência, destacou que os resultados recentes do ensaio clínico I-SPY2 indicam a necessidade de reavaliar o padrão de tratamento atual para pacientes com esse tipo específico de câncer de mama.

“Os medicamentos de imunoterapia podem ter efeitos colaterais adversos muito graves e irreversíveis, conforme observado no ensaio I-SPY2. As conclusões que apresento hoje (ontem) devem provocar uma discussão sobre se administrar medicamentos imunoterápicos a todos os pacientes com doença triplo negativa é a estratégia certa”, detalhou a cientista.

Exame

O ensaio clínico, estabelecido em 2010, teve como objetivo encontrar maneiras de avaliar novos medicamentos em pessoas com alto risco de recorrência precoce do tumor de mama. Os pesquisadores desenvolveram o ImPrint, um classificador imunológico composto por 53 genes, capaz de prever a resposta à imunoterapia com base na biologia do carcinoma. A invenção é especialmente significativa para pacientes com câncer de mama triplo negativo, onde a eficácia da imunoterapia pode variar consideravelmente.

Van ‘t Veer apresentou os resultados da versão atualizada do classificador, ImPrintTN, feito especificamente para o câncer de mama triplo negativo. A atualização refinada do teste mostrou uma capacidade aprimorada de prever quais pacientes têm pouca probabilidade de responder à imunoterapia.

Dos pacientes incluídos no estudo, o ImPrintTN identificou uma porcentagem significativa como propensa a responder à imunoterapia. Esses resultados indicam uma melhoria em relação à versão anterior do teste, oferecendo uma ferramenta mais precisa para a seleção de pacientes candidatos à terapêutica.

João Nunes, oncologista da Oncoclínicas Brasília, sublinha que além do benefício para pacientes, o exame poderia evitar gastos desnecessários. Também afirmou que, com a inovação, é possível evitar efeitos colaterais. Segundo ele, haverá uma economia para o sistema de saúde como todo, não utilizando medicação em que não vão responder à abordagem.

“Esse tipo de exame pode trazer um racional mais lógico para escolha de tratamento. Em torno de 40% dos pacientes que realizam tratamento com quimioterapia e imunoterapia não atingem a resposta patológica completa, ou seja, o desaparecimento do tumor. Talvez esse grupo tenha sido tratado de forma errônea”, disse o oncologista.

Atezolizumab

Os resultados de um ensaio clínico de fase 3, apresentados na 14ª Conferência Europeia sobre Câncer de Mama, revelaram que a adição do medicamento atezolizumab ao tratamento quimioterápico pós-operatório não beneficia pacientes com câncer de mama triplo-negativo.

O estudo, liderado pelo UT Southwestern Medical Center, nos Estados Unidos, acompanhou 2.199 pacientes em 31 países.

Após cerca de 32 meses de acompanhamento, não houve melhoria na sobrevida livre de doença entre as pacientes tratadas com atezolizumab em comparação com aquelas submetidas apenas à quimioterapia.

Mais exercícios físicos

Exercitar-se pode diminuir a dor e a fadiga, além de melhorar a qualidade de vida para pessoas com câncer de mama metastático. É o que revela a pesquisa liderada por Anouk Hiensch, do University Medical Center Utrecht, na Holanda e apresentada na conferência europeia. Pacientes de todas as faixas etárias tenham experimentado benefícios com o exercício, os pesquisadores observaram uma melhora particularmente significativa entre aqueles com menos de 50 anos.

O estudo, que envolveu 357 pessoas de oito centros de câncer em vários países, enfatizou a necessidade de incluir a atividade física como parte integrante do tratamento e cuidados.

Na pesquisa, houve um programa de exercícios, que consistiu em treinamento personalizado duas vezes por semana, supervisionado por profissionais de saúde especializados, e incluiu exercícios resistidos, aeróbicos e de equilíbrio.

Os participantes foram encorajados a se envolverem em atividades físicas diárias, e tiveram suas informações avaliadas ao longo de nove meses.

Ao analisar os resultados, os pesquisadores verificaram que houve uma redução na fadiga e melhora na qualidade de vida, com benefícios ainda mais notáveis entre mulheres mais jovens e aquelas que relataram dor no início do estudo.

Daniele Assad Suzuki, membro do Comitê de Tumores Mamários da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, considera importante frisar que a atividade física tem um papel muito importante na liberação de neurotransmissores.

“Quem pratica atividade física tem um nível mais alto de dopamina. Está relacionado ao bem-estar. A atividade física faz com que aumente o convívio social, a inclusão da paciente numa comunidade e o senso de pertencimento. Isso tudo melhora a qualidade de vida, fadiga e dor.”

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE